Poroshenko acusa Rússia de hipocrisia
Presidente ucraniano critica engajamento russo na luta contra o "Estado Islâmico" na Síria enquanto promove o terrorismo "bem à sua porta". Conflito na Ucrânia não é guerra civil, mas "agressão" por parte de Moscou, diz.
Ao discursar na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, questionou nesta terça-feira (29/09) o comprometimento da Rússia na luta contra o terrorismo na Síria e condenou a "agressão" de Moscou à Ucrânia.
Poroshenko criticou a intervenção da Rússia na Ucrânia e afirmou que o reforço militar do país na síria sob a bandeira da luta contra o terrorismo levaria a uma intromissão semelhante nos assuntos internos sírios.
"Nos últimos dias, ouvimos declarações conciliatórias do lado russo, que pediu o estabelecimento de uma coalizão antiterrorismo", disse Poroshenko. "Bela história, mas difícil de acreditar. Como pedir uma coalizão antiterrorismo quando se inspira o terrorismo bem em frente à sua porta?"
Nesta segunda-feira, ao discursar na Assembleia Geral da ONU, o presidente russo, Vladimir Putin, pediu a formação de uma "vasta coalizão" para lutar contra o grupo extremista "Estado Islâmico" (EI) na Síria. Ele defendeu a cooperação com o regime do presidente sírio, Bashar al-Assad, o único que estaria "verdadeiramente combatendo" o EI.
O presidente ucraniano afirmou que a Rússia quer reerguer seu antigo império ao criar um "cinturão de instabilidade" ao redor de suas fronteiras, intervindo nos assuntos de países vizinhos, e ao financiar "terroristas" na Crimeia e na região de Donbas, no leste da Ucrânia.
"Não se trata de guerra civil"
Poroshenko afirmou que Moscou está conduzindo um "jogo militar imprudente" em Donbas, numa "invasão" que, desde abril de 2014, matou ao menos 8 mil ucranianos, incluindo 6 mil civis, e deixou 1,5 milhão de deslocados. "Não se trata de uma guerra civil nem de um conflito interno. Trata-se de uma agressão", disse.
O líder ucraniano também afirmou que a Rússia está usando "crematórios móveis" no leste da Ucrânia para "eliminar os vestígios de seus crimes". Poroshenko acusou Moscou de "com o ataque a meu país, ter violado o direito internacional com agressividade e chocado o mundo".
Poroshenko criticou as ações da Rússia no Conselho de Segurança da ONU entre elas o veto a uma resolução condenando a anexação da Crimeia , afirmando que Moscou está abusando de seu poder de veto e usando-o como uma "licença para matar".
O presidente ucraniano apoiou a iniciativa do homólogo francês, François Hollande, de restringir o direito de veto dos membros permanentes do Conselho de Segurança "em caso de atrocidades em massa".
A delegação russa deixou a Assembleia Geral da ONU já no início do discurso de Poroshenko, tendo apenas um diplomata de baixo escalão permanecido na sala.
LPF/dpa/ap