Orquestra de exilados sírios dá primeiro concerto na Alemanha
Cerca de 30 músicos da Síria viajaram de toda a Europa para o primeiro concerto em Bremen. Eles querem mostrar que sua pátria é mais do que guerra e destruição. Outras apresentações já estão previstas.
"Esse concerto é dedicado à Síria e a todos aqueles que se preocupam com ela", anuncia o maestro Martin Lentz antes do espetáculo.
Músicos profissionais da Síria exilados em diversos países da Europa realizaram nessa semana em Bremen, na Alemanha, o primeiro concerto da Syrian Expat Philharmonic Orchestra (Orquestra Filarmônica de Emigrantes Sírios SEPO). Cerca de 30 refugiados vindos da Alemanha, Suécia, Holanda, França e Dinamarca integram o grupo, além de colegas alemães.
A ideia partiu do contrabaixista sírio Raed Jazbeh, que queria mostrar algo sobre sua pátria além de imagens sangrentas. "Queremos mostrar um retrato bonito da Síria, porque o nosso país é mais do que luta e guerra", explica o músico que chegou a Bremen há pouco mais de dois anos. Ele não gosta de se referir ao grupo como uma "orquestra de refugiados". "Nós somos uma orquestra no exílio", enfatiza.
Saudade, mas também esperança
A abertura Heimkehr aus der Fremde (Retorno do estrangeiro), de Felix Mendelssohn Bartholdy, iniciou o concerto, com sons melancólicos que expressam uma grande saudade da pátria. Fuga e exílio dominavam a atmosfera do programa, mas também havia lugar para amor e esperança. A seleção ampla incluiu desde sinfonias clássicas da tradição ocidental a compositores sírios contemporâneos menos conhecidos, como Mayas Al Yamani.
Alguns instrumentistas sírios já haviam tocado juntos em sua terra natal, na Academia de Música de Damasco. Porém seus caminhos se separaram quatro anos atrás, quando a guerra civil tomou conta do país. Foi através do Facebook que Jazbeh conseguiu localizar vários ex-colegas.
Por muito tempo, ele procurou pela violinista Michella Kasas, que agora mora na França, onde pode prosseguir seus estudos musicais. Tocar em Bremen com muitos de seus ex-colegas é quase um milagre para ela: "Mal posso acreditar que nos encontramos depois de tanto tempo", diz a jovem de 28 anos. "Durante os ensaios, sinto que estou de novo em Damasco. Isso é muito comovente".
Instrumentos emprestados
Na noite do concerto, a maioria usava instrumentos emprestados pelo conservatório de Bremen. Kasas teve sorte de conseguir levar seu violino para a França. O trompetista Dolama Shabah, por sua vez, precisou deixar seu instrumento para trás.
"Simplesmente não tinha espaço suficiente na minha mochilinha", conta. Essa era sua única bagagem na fuga através da Turquia, o Mar Mediterrâneo, Sérvia e Hungria, até a Alemanha. Lá, um colega alemão lhe presenteou um trompete usado. "Isso me deu esperança novamente. Nessa orquestra encontrei minha força e ambição", diz Dolama.
Quando ouviu sobre a SEPO, alguns meses atrás, o regente Martin Lentz não hesitou. Ele gosta de trabalhar com grupos internacionais. Recentemente, supervisionou um projeto em Ramallah com o maestro Daniel Barenboim. Com os jovens sírios, Lentz demonstra afeto e compreensão, mas sem deixar de ser exigente nos ensaios. "Toquem com os sentimentos de vocês!", encoraja o maestro.
Por enquanto, a orquestra se mantém com doações, e os músicos não recebem salário. Contudo, o concerto em Bremen deve ser apenas o começo. "Quero usar a minha música para mudar a imagem negativa que muitas pessoas têm da Síria e do islã", diz a violinista Hivron. O próximo concerto da Syrian Expat Philharmonic Orchestra está marcado para 3 de outubro, em Lüneburg.
Autor: Samih Amri (af)Edição: Augusto Valente
"Esse concerto é dedicado à Síria e a todos aqueles que se preocupam com ela", anuncia o maestro Martin Lentz antes do espetáculo.
Músicos profissionais da Síria exilados em diversos países da Europa realizaram nessa semana em Bremen, na Alemanha, o primeiro concerto da Syrian Expat Philharmonic Orchestra (Orquestra Filarmônica de Emigrantes Sírios SEPO). Cerca de 30 refugiados vindos da Alemanha, Suécia, Holanda, França e Dinamarca integram o grupo, além de colegas alemães.
A ideia partiu do contrabaixista sírio Raed Jazbeh, que queria mostrar algo sobre sua pátria além de imagens sangrentas. "Queremos mostrar um retrato bonito da Síria, porque o nosso país é mais do que luta e guerra", explica o músico que chegou a Bremen há pouco mais de dois anos. Ele não gosta de se referir ao grupo como uma "orquestra de refugiados". "Nós somos uma orquestra no exílio", enfatiza.
Saudade, mas também esperança
A abertura Heimkehr aus der Fremde (Retorno do estrangeiro), de Felix Mendelssohn Bartholdy, iniciou o concerto, com sons melancólicos que expressam uma grande saudade da pátria. Fuga e exílio dominavam a atmosfera do programa, mas também havia lugar para amor e esperança. A seleção ampla incluiu desde sinfonias clássicas da tradição ocidental a compositores sírios contemporâneos menos conhecidos, como Mayas Al Yamani.
Alguns instrumentistas sírios já haviam tocado juntos em sua terra natal, na Academia de Música de Damasco. Porém seus caminhos se separaram quatro anos atrás, quando a guerra civil tomou conta do país. Foi através do Facebook que Jazbeh conseguiu localizar vários ex-colegas.
Por muito tempo, ele procurou pela violinista Michella Kasas, que agora mora na França, onde pode prosseguir seus estudos musicais. Tocar em Bremen com muitos de seus ex-colegas é quase um milagre para ela: "Mal posso acreditar que nos encontramos depois de tanto tempo", diz a jovem de 28 anos. "Durante os ensaios, sinto que estou de novo em Damasco. Isso é muito comovente".
Instrumentos emprestados
Na noite do concerto, a maioria usava instrumentos emprestados pelo conservatório de Bremen. Kasas teve sorte de conseguir levar seu violino para a França. O trompetista Dolama Shabah, por sua vez, precisou deixar seu instrumento para trás.
"Simplesmente não tinha espaço suficiente na minha mochilinha", conta. Essa era sua única bagagem na fuga através da Turquia, o Mar Mediterrâneo, Sérvia e Hungria, até a Alemanha. Lá, um colega alemão lhe presenteou um trompete usado. "Isso me deu esperança novamente. Nessa orquestra encontrei minha força e ambição", diz Dolama.
Quando ouviu sobre a SEPO, alguns meses atrás, o regente Martin Lentz não hesitou. Ele gosta de trabalhar com grupos internacionais. Recentemente, supervisionou um projeto em Ramallah com o maestro Daniel Barenboim. Com os jovens sírios, Lentz demonstra afeto e compreensão, mas sem deixar de ser exigente nos ensaios. "Toquem com os sentimentos de vocês!", encoraja o maestro.
Por enquanto, a orquestra se mantém com doações, e os músicos não recebem salário. Contudo, o concerto em Bremen deve ser apenas o começo. "Quero usar a minha música para mudar a imagem negativa que muitas pessoas têm da Síria e do islã", diz a violinista Hivron. O próximo concerto da Syrian Expat Philharmonic Orchestra está marcado para 3 de outubro, em Lüneburg.
Autor: Samih Amri (af)Edição: Augusto Valente