Dicas de como planejar e executar uma viagem pelo mundo em uma bicicleta
O artista Rafael Limaverde largou tudo e viajou por 16 países da América Latina sobre duas rodas por dois anos. Ele conta a experiência e dá dicasO xilogravurista, grafiteiro, designer e ilustrador Rafael Limaverde largou tudo e decidiu desbravar a América Latina sobre sobre duas rodas. A aventura ocorreu durante dois anos, de 2002 a 2004. Revisitando memórias e fotografias, o artista escreveu um roteiro de dicas pra quem pensa em pegar a estrada de um modo desafiador. Confira:
A Saída
A ideia da viagem surgiu em um momento muito difícil da minha vida. Trabalhava 12 horas por dia, estava realmente estressado e infeliz. Então, decidi que iria fazer uma grande viagem, mas queria algo diferente. Encontrei um livro de um brasileiro chamado Antonio Olinto, intitulado “No Guidão da Liberdade”, onde ele conta sua aventura em bicicleta ao redor do mundo. Foi quando caiu a ficha e descobri que iria largar tudo daquela forma. Foram dois anos de planejamento: o primeiro juntando dinheiro e o segundo foi quando comprei a bicicleta, pesquisei muito pela internet, fiz um treinamento físico básico e check-up médico. Vendi tudo, pedi as contas nos dois empregos que tinha e parti.
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O caminho
Foi uma das experiências mais incríveis da minha vida. Poder parar durante dois anos para conhecer 16 países e, principalmente, a mim mesmo, foi um divisor real em minha vida. Os desafios foram vários. Solidão, saudade, frio, altitude, calor, fome, medo, cansaço. Mas nada disso me fez querer desistir. A maneira como fui recebido em vários lugares, com acolhida, alimento, água, amizade.., tudo isso só me fez querer ir mais além.
Escolhi a América Latina por curiosidade e questões financeiras, já que meu único patrocinador era meu FGTS. É um continente de dores e delícias. Ao mesmo tempo em que você conhece lugares encantadores, você se depara com pobreza, fome e corrupção. Mas voltei apaixonado pelo povo latino-americano. A despeito de mais de 500 anos de exploração, terrorismo e genocídio, é um povo que ainda consegue dançar, colorir-se e ser feliz.
O percurso cruzou os países Brasil, Venezuela, Guiana, Cuba, México, Guatemala, Nicarágua, Honduras, Costa Rica, Panamá, Equador, Perú, Bolívia, Chile, Argentina e Uruguai.
Como planejar
O importante é não achar que quem viaja de bicicleta tem de ser atleta. Um treinamento básico é essencial. Planejar-se é o que importa. Saber seu tempo, sua resistência corporal, estudar minimamente o trajeto, adquirir um bom equipamento, tudo isso faz uma grande diferença.
O que levar
Isso vai depender o estilo de viagem e o trajeto que se propõe a fazer. No meu caso, eu optei por um material básico de camping (barraca, saco de dormir, fogareiro, kit de cozinha, isolante térmico, mudas de roupas, camera), cinco alforges e uma bicicleta de 21 machas.
Segurança
Na viagem, procurei sempre não pedalar durante a noite, chegar sempre à cidades ainda com céu claro. Procurei sempre um lugar mais seguro para pernoitar. Outra sugestão para segurança é não andar com muito dinheiro, nem aparentar ter.
Escolha de percursos
Os percursos dependem muito de cada viajante. Importante é ficar bem atento à geografia do local escolhido. Pedaladas com subidas muito longas e vento contra o fluxo exigem um preparo maior.
A imigração
As questões burocráticas, para minha viagem sempre foram a pedra no sapato. Cada fronteira tem suas particularidades, mais ou menos papéis, mais ou menos taxas. No geral, são sempre desgastantes. A dica é separar um dia inteiro para atravessar as fronteiras. Pesquisar com antecedência na internet as exigências de cada país e munir-se de paciência. A boa notícia era sempre que depois de uma fronteira sempre se abria um novo país a se conhecer.
Melhores épocas do ano pra viajar pedalando
Todas menos o inverno. No Nordeste do Brasil não é grande problema, mas, em outros locais, a chuva e o frio costumam ser grandes obstáculos para quem viaja de bicicleta. É bom ficar atento.
O Retorno
Quando regressei, senti que muita coisa tinha mudado. No lugar de onde sai e em mim mesmo. Demorei um tempo pra me inserir novamente no que chamamos de “vida normal”. Mas ficou uma memória rica, um olhar diferenciado pro mundo e pros outros. Um continente todo impregnado em mim. A deliciosa sensação de ter o espírito expandido.
Passados 15 anos dessa experiência, ainda colho os frutos de tanto aprendizado que tive na estrada. E como esse sonho realizado foi iniciado a partir de um livro, decidi que escreveria o meu também. Queria poder dividir com as pessoas tudo que vi e vivi pelas quebradas da América Latina. Então, em 2012, lancei o diário de viagem “Pelos Caminho de Nuestra América”, que conta de uma maneira leve e poética todo essa aventura.
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