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Palhaçaria e cinema mudo dão o tom no segundo dia

13:31 | Ago. 29, 2017
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[FOTO1]Competência para a alegria. Assim se pode definir a dupla de clowns Célio Silva e Gal Saldanha, Ato & Desato, no espetáculo As Aventuras de João Sortudo, da Cia. Prisma das Artes, radicada no bairro Dias Macedo. Eles juntam graça, carisma, técnica, improvisação, inocência, esperteza – e contam uma história divertidíssima sobre o dom de confiar nas pessoas.
 
Os dois dominam o tempo de comédia com enorme talento. E atuam com grande força na expressão corporal, no gestual bem trabalhado, nas gags típicas de palhaçaria, com tombos e trapalhadas que remetem ao picadeiro. Um grande acerto do grupo.
 
Incríveis são também os números musicais que se encaixam na narrativa da fábula popular de João Sortudo. O diretor Edivaldo Batista soube tirar proveito das canções, instalando espertamente um microfone de pedestal no palco para que a palhaça Gal Saldanha fizesse seus números com pose de cantora debochada, que não se leva a sério. Dá muito certo.
 
As letras das canções são sensacionais. Destaque também para a cenografia e os adereços de Klebson Alberto. A criançada se encanta com o ganso, a vaca, o cavalo – construídos de forma bastante lúdica. Um espetáculo muito feliz, inesquecível. 
 
A jovem cia. Cangaias Coletivo Teatral veio depois com Miau!, inspirado no cinema mudo, em Chaplin, nos desenhos animados mais antigos, como Tom & Jerry. Só esta intenção de mesclar linguagens no palco já é um ponto de partida sensacional, pelo que tem a oferecer de descobertas ao público mirim.
 
É um grupo muito bem-intencionado, com bom trabalho de pesquisa, muito conteúdo a oferecer, mas que ainda não “chegou lá”. O teatro de sombras é bem explorado, brincalhão, despretensioso. O que falta é ritmo, agilidade, acertos técnicos.
 
Há muitos blecautes, que interrompem a narrativa o tempo todo. A trama seria de fácil compreensão (gato encontra bebê num lixo urbano e o cria como se fosse felino), mas não é, a meu ver por falhas na realização do roteiro sem palavras, na execução das ideias propostas. É preciso apertar os tempos, diminuir os blecautes, integrar mais o teatro de sombras com a interpretação dos atores. Mas o potencial do espetáculo é imenso e o coletivo demonstra vigor para crescer – é isso que vale mais que tudo. 
 
Por Dib Carneiro Neto, especial para O POVO
Jornalista, dramaturgo e especialista em teatro infantil

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