Esportes ao vento do Ceará: conheça a história de atletas

Entenda como o Ceará virou uma região referência em desenvolvimento de atividades esportivas ao vento, com destaque para o windsurf, o kitesurf, o surfe e a canoa havaiana

E quando os ventos sopram para algo que vai além de uma atividade de lazer, tornando-se um estilo de vida? Atletas do kitesurfe e do surfe descobriram nesses esportes um recurso que une paixão, saúde e, por que não, fonte de renda. Cada um tem a sua história, mas todas chegam a um senso comum: o mar é cheio de oportunidades.

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Veveto é atleta de kitesurf
Veveto é atleta de kitesurf Crédito: AURELIO ALVES

Esportes ao vento do Ceará: conheça Veveto

O atleta Eriswerton Ribeiro, conhecido como Vevé ou Veveto, é uma das pessoas que vive do seu talento e encanto pelo mar. Nascido na Tabuba e morador do Cumbuco, em Caucaia, a 16 quilômetros de Fortaleza, tem 27 anos e se dedica inteiramente ao kitesurfe, que é o seu lazer e sua fonte de renda.

“Hoje eu trabalho profissionalmente com kite, foi de onde eu consegui minha primeira fonte de renda. Eu comecei muito novo, era muito inocente, mas, com o tempo, acabou que isso virou nossa profissão. E eu falo ‘nossa’ porque tem não só eu, mas tem outros amigos que também passaram por isso, de ver o esporte como um lazer, e hoje vivem do kite”, narra Vevé.

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A experiência com o vento, no entanto, começou na vida de Veveto antes do kitesurfe. As primeiras ondas foram em cima de outra prancha, de surfe: “O kitesurfe entrou de forma bem natural na minha vida. Eu já gostava de adrenalina, do mar e das ondas, já surfava com a galera”. 

“Eu comecei no surfe quando eu tinha uns 10 ou 11 anos, mas, perto dos 15, eu vi um kite pela primeira vez e coloquei na minha cabeça que ia aprender. Eu era inocente, só queria aprender e não sabia que ia virar minha profissão, onde eu ia tirar meu sustento”, explica.

Vevé, além de participar das competições, atualmente, também é professor de kitesurfe e surfe e viaja por diversos espaços do litoral cearense com seu trabalho. Para ele, que tem como praias favoritas Flecheiras, Lagoinha, Jericoacoara, Barra Grande, praticar esportes de vento é sempre prazeroso.

“É tudo para mim, não é à toa que eu vivo disso. Eu escolhi viver disso. Isso me dá cada vez mais vontade de praticar, de velejar. É uma sensação muito boa. E melhor ainda poder trabalhar com isso. O contato com o kite e com as pessoas que são do kite é muito prazeroso”, destaca. 

Carlos Mario Bebê, atleta de kite surfe, recebe vários turístas na temporada de ventos do litoral para praticar a modalidade
Carlos Mario Bebê, atleta de kite surfe, recebe vários turístas na temporada de ventos do litoral para praticar a modalidade Crédito: Samuel Setubal/ O POVO

Esportes ao vento do Ceará: conheça Carlos Mario Bebê 

Quem tem ou conhece alguém que tem uma relação íntima com o mar sabe que o envolvimento é desmedido, terapêutico e capaz de mudar a vida. Este é o caso de Carlos Mario “Bebê”, também de Caucaia. Com 26 anos, ele já foi cinco vezes campeão mundial de kitesurfe e seis vezes em competições nacionais.

“A minha relação com o mar vem meio de geração. Meu avô é pescador e eu nasci no Cauipe, que é uma vila de pescadores. Então, desde sempre tenho uma conexão muito forte, tanto com a pesca, quanto com o mar e com a lagoa que a gente tem em frente de casa”, conta Carlos, que, quando criança, gostava de jogar futebol e praticar windsurfe, esporte da moda na região.

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A influência no kitesurfe veio do tio, um dos primeiros no Cauipe a praticar o esporte. “Quando ele aprendeu, começou a fazer altas manobras, e bem alto. Então eu criei um interesse muito grande porque o vi saltando, como se estivesse voando e pensei ‘Eu quero fazer isso também’”, conta. 

Na época, a renda da família vinha do trabalho em uma barraca localizada na Lagoa do Cauípe. E, enquanto estava no local, Bebê ajudava as pessoas. Em troca, os atletas emprestavam seus equipamentos para ele praticar.

Aos 15 anos, Carlos conheceu Reginaldo, um treinador que estava buscando talentos na região para aprimorar e levar para competições pelo Brasil. Dele, Bebê ganhou seu primeiro equipamento de kite. Desde essa época, ainda na adolescência, o atleta passou a se destacar em praticamente todas as competições em que participou.

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“Foi só felicidade na trajetória. Eu comecei a treinar bastante e a competir. Graças a Deus, hoje posso ajudar a minha família, minha mãe tem a própria casa, porque com o kitesurfe a gente conseguiu construir para ela. Hoje eu tenho a minha família também, tenho a minha casa e o meu transporte”.

O atleta afirma, no entanto, que agora está focado em novas conquistas: “Eu continuo sonhando e tenho um objetivo muito grande de montar um projeto social para ajudar a criançada a entrar no mundo do esporte aquático, porque foi isso que mudou a minha vida. Eu saí de uma vila de pescadores sem
condições nenhuma e já viajei o mundo todo representando o Brasil, trazendo o título pra cá e motivando a criançada a estar no esporte e a serem campeões também.”

Professora de surf Joana Meireles
Professora de surf Joana Meireles Crédito: Naely Santos/Divulgação

Esportes ao vento do Ceará: conheça Joana Meireles

Quem também tem muito envolvimento pelas águas e pelo vento e passou a se dedicar plenamente a esse cenário é Joana Meireles, apaixonada por surfe e professora da modalidade. Assim como Bebê, sua aproximação com o mar vem da infância, a partir do costume da pesca e das aventuras de barco da família na praia da Taíba, no município de São Gonçalo do Amarante, a 61 quilômetros de Fortaleza.

Aos 19 anos, Joana fez aulas de kitesurfe, mas uma decepção amorosa a fez desistir e tentar outro esporte: o surfe. Ela comprou uma prancha pequena, fez aulas e começou a praticar em diversas praias de Fortaleza, tendo muitas experiências que não foram bem sucedidas. Foi por meio de muitas tentativas, conhecendo outras regiões da orla e outros praticantes do esporte, que ela “pegou a marra”.

“Eu conheci, nesse processo, a Praia da Leste Oeste. Ela te segura como uma mãe e é uma praia fácil de entrar, fácil de evoluir... Além disso, as pessoas de lá sempre foram muito legais comigo e eu fui me apaixonando cada vez mais”, detalha Joana. 

A paixão de Joana foi tão grande que ela passou a incentivar outras mulheres e amigas a surfar também. Ela criou um grupo no WhatsApp para reunir este público, que posteriormente virou até perfil no Instagram e começou a fazer sucesso entre outras aspirantes ao esporte. O crescimento foi orgânico e ela, espontaneamente, ajudava outras pessoas a iniciarem o surfe a partir de suas instruções.

Alguns anos depois, a surfista decide abandonar o curso de arquitetura para se dedicar aos estudos e ensinamentos do surfe, dando aulas particulares. Por meio de um edital da Prefeitura de Fortaleza, Joana conseguiu ser contemplada com equipamentos e um valor mensal fixo para dar aulas do esporte na cidade. Então nasceu a Surf Ladies: primeira escola de surfe 100% feminina e LGBTQIA+ do Ceará.

“O mar representa tudo para mim atualmente. Quando eu vou trabalhar, eu vou para o mar. Quando eu quero ficar sozinha e ter o meu momento de paz e terapia, eu vou para o mar. Quando eu estou trabalhando com arbitragem, também. Então, é como se ele fosse minha casa, meu trabalho, meu templo, minha igreja. O mar é onde eu faço minhas orações, ele é meu mundo”, destaca.

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