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Histórias de um escritor que é cidadão do mundo

Compartilhando lembranças e ensinamentos, o escritor angolano José Eduardo Agualusa defendeu o reencontro do Brasil com a África contemporânea
08:52 | Jun. 25, 2018
Autor O POVO
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Escritor cujos livros já foram traduzidos em 25 idiomas, o angolano José Eduardo Agualusa comandou, no último dia do Festival Vida&Arte, a palestra Travessias Literárias Brasil-Portugal. Cidadão do mundo, Agualusa diz que, apesar de ter familiares no Brasil, conheceu o País primeiramente por meio de literatura, música e cinema.


Entre os escritores preferidos, Eça de Queiroz, Machado de Assis e Jorge Amado — a quem chama de “autor africano fora da África”. Isso porque os livros do baiano são repletos de narrativas cujos elementos lembram o continente. Daí o motivo pelo qual Amado é tão presente na África lusófona.


Se nas décadas de 1940 e 1950 a presença da literatura brasileira era forte na Angola, atualmente é difícil encontrar obras de escritores locais nas livrarias do país — diferentemente do que ocorre em Portugal, por exemplo. “Na Angola, existe uma identificação muito grande com o Brasil, que está começando a despertar para a África. O Brasil precisa desse reencontro com a África contemporânea, que também é produtora de cultura. Até pelo fato de ser um país de matriz africana, esse reencontro é até mesmo um caminho para que a população brasileira também reencontre sua dignidade”, diz.

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A palestra de Agualusa foi marcada pelo bom humor. Entre uma fala e outra, o escritor aproveitava para contar situações pelas quais já passou, arrancando risos do público. Quando morou no Rio de Janeiro (no Brasil, ele também já viveu em Olinda), por exemplo, conta que um taxista perguntou em que estado brasileiro ficava a Angola. “Eu respondi que era um país localizado na costa ocidental da África. O taxista, então, me deu os parabéns porque eu falava português muito bem. Ele achava que o Brasil era o único país onde se falava português”, lembra o escritor, que, em 2019, completa 30 anos de literatura.

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Mediado pela escritora cearense Socorro Acioli, o encontro ainda discutiu o desafio de traduzir determinada obra para vários idiomas, considerando as especificidades de cada língua. “Para que a tradução ocorra da melhor forma possível, o tradutor precisa mergulhar fundo no universo do autor, aquele que vai ser transposto para outra língua”, disse Socorro, chamando a atenção para a criatividade de Agualusa no processo de escolha dos títulos de suas obras, como O Vendedor de Passados e Teoria Geral do Esquecimento, algo que, segundo ela, fisgar o leitor.


E no processo de criação literária de Agualusa, o sonho, experiência que carrega diferentes significados ao longo da história da humanidade, é um elemento fundamental. É tema central da última obra, A Sociedade dos Sonhadores Involuntários, sátira política que desafia e questiona a natureza da realidade.


O livro é inspirado na atual situação da Angola. A história é construída em torno de quatro personagens e dos sonhos deles. Sonhos que, por serem comuns, os unem em torno de um mesmo ideal em meio a um país dominado por um regime totalitário. “Em todos os meus livros tem um pouco dos meus sonhos. Eu sempre sonhei muito. Os sonhos fazem com que objetos distantes sejam aproximados, nos libertam de todos os tipos de amarras. Nos ajudam a organizar processos mentais e preparam para a realidade”, acredita.

 

LIVROS DE AGUALUSA
Socorro Acioli chamou a atenção para a criatividade de Agualusa no processo de escolha dos títulos de suas obras, como O Vendedor de Passados e Teoria Geral do Esquecimento

 

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