Festival Vida&Arte recebeu encontros, alegria, conhecimento e celebração
A herança de encontros e sentimentos que o Festival Vida&Arte deixa para a Cidade, os dias e as pessoas[FOTO1]
Tudo acontecendo e se misturando ao mesmo tempo, em um espaço comum - no Centro de Eventos do Ceará: mil e uma vozes, cantos, pensamentos, expressões, preces, cores, pessoas, ancestrais, convivências, conexões, descobertas. Mais do que a junção de vida e arte, o “maior evento multicultural do Brasil”, como se fez anunciar, desenhou um mundo possível e escreveu um princípio de futuro. Em par com os 90 anos do O POVO, o Festival Vida&Arte, realizado entre os dias 21 e 24 de junho e promovido pela Fundação Demócrito Rocha, trouxe “o bom, o belo, a alegria, a esperança”, como desejou a curadoria, convidando à paz e ao conhecimento (de si, do outro, do redor). E retribuiu, à Cidade e às gentes, as graças que o jornal recebeu.
“O que me trouxe aqui é que eu sabia que ia encontrar os amigos, abraçar, sentir alegria, dançar e equilibrar minhas energias no espaço da espiritualidade”, extraía Lucy Lopes, 57 anos, bancária durante 33 anos e professora de yoga. Atravessando o rio Jaguaribe (um dos espaços cenográficos do Festival), para aportar no palco Belchior (de shows regionais e nacionais), Lucy encantava-se com os caminhos abertos “para o povo se encontrar... Saio daqui feliz”, transmitia.
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E eram os índios, os heróis, os maracatus, os sagrados, os femininos, os batuques, os mantras, o lírico, o cordel, a cantoria, a sanfona, o samba, o circo, o teatro, a dança, os quadrinhos, o cinema, o pop, o jornalismo, a literatura, as cores, as costuras, os diversos... Eram os abraços. O professor Sahmaroni Rodrigues, 37 anos, elogiava “o diálogo com todos os públicos”, que a programação do Festival Vida&Arte abarcava. Ele veio pela oportunidade das práticas holísticas em grupo: “A energia do grupo movimenta a mim, o indivíduo”. E voltaria para os dias repleto de vivências, completava-se: “Durante muito tempo, me senti só. Percebendo que tem muita gente que se interessa pela espiritualidade e se conectou comigo, esse diálogo fica”.
A espiritualidade, “a questão da libertação dos traumas”, como selecionou a estudante Valéria Lourenço, 20 anos, atraiu ainda as amigas Daiana Maria, 21 anos, e Mariana Rocha, 21 anos. “Mas eu vim também por causa do Bráulio (Bessa, poeta popular cearense) e da banda Las Tropicanas (com Lorena Nunes, Di Ferreira e Pepita York no comando)”, junta Daiana. “O Festival serviu para aumentar a aceitação da diversidade”, credita Mariana. Em todos os sentidos e do presente ao futuro.
“A gente se multiplica e mais lugares alcançamos”, demarcou a cantora paulista Liniker, em entrevista aberta durante o Festival, diante das questões de gênero. Mas ela sabe (sente) que, assim no próximo disco como na vida, “talvez ainda precise falar sobre amor, sobre afeto, sobre relação”.
A propósito, dizer, ouvir, olhar, sentir, transformar foram alguns dos verbos que conjugaram o Festival Vida&Arte. “Mulheres, a gente viveu a vida toda sem o direito de se expressar. A liberdade de expressão é nossa!”, a voz de Elza Soares reverbera pelos milênios. “Desde criança, venho buscando jeito de gritar, de pedir socorro”, falou a um público que se encontrava com as dores e os amores de Elza (de tantos) no palco Rachel de Queiroz.
Maria Flor, sete anos, pintada de borboleta em uma das atividades infantis, concorda com Elza Soares: “Como colorir o mundo? Essa é uma pergunta muito difícil!”. Enquanto resolvia se fazia, do mundo, um jardim ou uma borboleta, ela respondida sobre uma descoberta que podia mudar todas as coisas: “A coisa mais legal que eu vi aqui? Foi a pessoa pintando outra”, sorri.
O Festival Vida&Arte foi sobre tudo isso; das pessoas aos lugares, passando pelos tempos. De repente, uma saudade e um samba, e a vontade de dançar, de pular corda, de andar de bicicleta. E a vontade da infância, da inocência, da esperança. Tudo outra vez. Cada um se faz a chance do riso, da paz, dos mil e um encontros. Cada um se faz Marielle, Anderson, Edisca, África, Guarani-Kaiowá, floresta viva, nova aurora cada dia. E a cada um cabe aquela parte da canção do sempre, que Milton Nascimento, no show Semente da Terra, encantou: “Debulhar o trigo,/ recolher cada bago do trigo,/ forjar no trigo o milagre do pão/ e se fartar de pão”.
NÚMEROS
627
ATRAÇÕES formaram a programação do Festival Vida&Arte, nas mais diversas temáticas: literatura, música, dança, teatro, artes visuais, moda, espiritualidade, cultura popular, circo, humor, universo geek e jornalismo.
2003
OLHAR INTERIOR
ESPIRITUALIDADE
Ocupando todo o segundo mezanino do Centro de Eventos, a programação de espiritualidade do FVA ofereceu ao público um universo de possibilidades, respeitando os mais diversos credos e inclinações. Foram palestras, shows musicais, vivências e palestras promovidas por nomes como Sri Prem Baba e o cantor Kléber Lucas.
REFLETIR O PRESENTE
JORNALISMO E LITERATURA
A curadoria de jornalismo e literatura reuniu um time de intelectuais para discutir os grandes dilemas da comunicação no século XXI. A diretora de redação da revista Época, a jornalista Daniela Pinheiro (foto), participou de conversa sobre os bastidores da cobertura política.
PARA OS PEQUENOS
INFANTIL E CIRCO
Espalhadas por todo o Centro de Eventos, as atrações infantis do FVA encantaram audiências de todas as idades. Diversos espetáculos de teatro e circo integraram a curadoria. O ator e diretor cearense Marcelino Câmara trouxe diversas atividades ao evento, entre elas a peça O menino maluquinho, momentos de contação de história e oficinas de teatro.
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