Bruna Lombardi: "Preciso de um tempo de anonimato"
Bruna Lombardi discute a busca por felicidade a partir de um ângulo científico e histórico. A atriz também fala sobre feminismo e os meandros da fama
08:55 | Jun. 25, 2018
Bruna Lombardi nasceu em berço artístico e, ao longo dos 65 anos de vida, sempre teve de lidar com fama e exposição. Filha de um cineasta com uma atriz, logo cedo se fez modelo, passando à atriz de destaque na televisão e, posteriormente, se tornando um sucesso ocupando rankings dos livros mais vendidos. A escritora veio a Fortaleza para participar da programação do Festival Vida&Arte, evento no qual ministrou a palestra “Autoconhecimento e empoderamento” e lançou os livros Clímax, Poesia Reunida e Jogo da Felicidade. Em entrevista ao O POVO, a artista destacou o mergulho espiritual e teórico que faz em busca da felicidade. Confira:
O POVO – Felicidade é, para tantos, um tema subjetivo. Você encara essa questão com objetividade?
Bruna Lombardi – Acredito numa mudança de paradigma em relação à ideia de felicidade. Porque essa noção de felicidade é tão antiga quanto a humanidade. Já foi muito discutida, debatida, existem muitos livros, teses, estudos. É um assunto tratado desde que o homem existe. A partir da filosofia grega, os conceitos foram se sofisticando conforme a abordagem e o filósofo que estava pensando naquele assunto. Num momento, certo tema tem uma abordagem mais política no mundo; em outro, cai num certo clichê e a palavra perde quase que totalmente o significado de tão usada e mal usada...
OP – Mas essa questão também é atravessada por contextos sociais, históricos...
Bruna – É, quando estamos com nossos instintos básicos resolvidos, buscamos felicidade, inspiração, motivação. No século 21, ela retoma um novo significado, então, pela primeira vez nós estamos vivendo uma grande revolução tecnológica que vai equivaler para a humanidade como a mudança que aconteceu com a descoberta do fogo. No instante que a gente tiver inteligência artificial, a sociedade robotizada num nível maior, todos nossos conceitos do mundo, como a gente vê hoje, vão estar antiquados.[QUOTE1]
OP – Você é sempre indagada sobre a sua idade e o modo como se mantém jovem. Como você ultrapassa essa ideia lógica do tempo?
Bruna - Todo mundo sabe da relatividade do tempo, Einstein já mostrou o quanto isso é relativo nas nossas vidas e nos nossos pequenos conceitos. O tempo é o que ele é, mas a gente desconhece como age o tempo, quantos planos paralelos são possíveis de estarem convivendo com a gente aqui e agora. Se a gente tivesse ido para um campo mais espiritual talvez hoje nós pudéssemos transpor paredes ou levitar, não sabemos porque a gente não desenvolveu essa área na nossa vida ainda, não quer dizer que a gente não venha a desenvolver.OP – Você já afirmou, em outras entrevistas, a importância do feminismo. É importante, enquanto artista, levantar bandeiras?
Bruna - Discutir a posição da mulher hoje também é um tema que me interessa muito. A gente tem muitas bandeiras, a beleza da humanidade é que todas as diversidades sejam respeitadas, todos os nichos, todas as minorias sejam vistas, que a gente não tente caber ou se espremer num papel social imposto por uma sociedade que a gente interpretou como obrigatória para nós. Não pode ser uma coisa que nos comprime, nos oprime, pelo contrário, nós somos seres em expansão e aí vem uma temática que é muito importante na minha vida que é o autoconhecimento. Eu falo muito para as pessoas isso: o autoconhecimento é libertador e através dele você pode dizer que é e você é e vai se empoderar para ser quem é seja qual for a sua posição. Ela vai ser aceita pela sociedade, nós ainda não chegamos lá, mas estamos enfrentando muitas adversidades, mas a gente está chegando lá.OP - Ser atriz é também estar exposta na TV, no cinema. Esse status de celebridade te incomoda?
Bruna - Eu sempre tive uma vida pública, porque eu sou conhecida desde sempre na minha vida. Hoje eu estou fazendo uma série na HBO chamada A vida secreta dos casais, que é uma TV fechada, mas que possibilita muita liberdade de criação, que para mim é muito maravilhoso e, por outro lado, acho que sou uma pessoa que precisa de um tempo discreto, um tempo silencioso, preciso de um tempo de anonimato, é importante para mim conviver com esses dois opostos.