Cine Ceará: abertura tem filha de Lampião, homenagem à UFC e estreia
Realizada no Cineteatro São Luiz, abertura do 34º Cine Ceará reuniu autoridades, profissionais do audiovisual, filha de Lampião e exibição de documentárioFoi dada a largada para mais uma edição do maior festival de cinema do Estado e um dos mais importantes do Brasil. Na noite de sábado, 9, o Cineteatro São Luiz foi palco da abertura do 34º Cine Ceará — Festival Ibero-americano de Cinema.
A solenidade contou com estreia mundial de documentário brasileiro, autoridades, homenagem à Universidade Federal do Ceará (UFC) e afirmação da importância de políticas públicas para o audiovisual.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
Neste ano, o evento destaca diferentes lutas sociais por meio das produções selecionadas. As obras preenchem sete dias de programação gratuita não só no Cineteatro São Luiz, mas também na Caixa Cultural Fortaleza e em unidades do Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB).
34º Cine Ceará: Presença feminina em destaque e audiovisual como política pública
A cerimônia de abertura foi iniciada com falas da produtora e curadora Margarita Hernandez, diretora de programação do Cine Ceará. Conforme relatou, dos 897 filmes inscritos para esta edição, 381 foram dirigidos ou co-dirigidos por mulheres.
Ela também enfatizou que 90% da equipe de produção do festival é composta por mulheres. Para a diretora, é motivo de “muito orgulho e felicidade” dar espaço para filmes que muitas vezes só têm festivais para “aparecer nas telonas”, devido à dificuldade de distribuição comercial.
Leia também | Rodger Rogério e Gero Camilo recebem homenagem no Cine Ceará 2024
Houve também depoimentos da secretária da Cultura do Ceará, Luisa Cela, que destacou a importância dos festivais como plataformas de produção e distribuição. Ela ressaltou a relevância de desenvolver políticas públicas capazes de garantir permanência de festivais pelo Brasil.
Por vídeo, a ministra da Cultura, Margareth Menezes, também participou da abertura. A titular do Ministério da Cultura pontuou o “orgulho” de ser viabilizada mais uma edição do Cine Ceará e reforçou a importância para o desenvolvimento do audiovisual no Brasil.
Além disso, houve homenagem ao cineasta Vladimir de Carvalho, que faleceu em 24 de outubro. O evento contou também com a presença de Expedita Ferreira Nunes, única filha reconhecida de Lampião com Maria Bonita, e outras autoridades, como Rachel Gadelha, diretora presidenta do Instituto Dragão do Mar (IDM) e o deputado estadual Renato Roseno (Psol).
34º Cine Ceará: UFC é homenageada pelos seus 70 anos
A principal homenagem da noite foi direcionada à UFC, que em 2024 celebra 70 anos. O reitor Custódio Almeida recebeu das mãos do diretor Wolney Oliveira o troféu Eusélio Oliveira.
Parceira do Cine Ceará desde 1991, quando ainda era Festival Vídeo Mostra Fortaleza, a UFC permanece com seu apoio institucional anualmente por meio da Casa Amarela Eusélio Oliveira. Custódio ressaltou a parceria e destacou o “encontro” de comemorações.
“Esse encontro dos 70 anos é, na verdade, uma celebração comum. Uma celebração de um casamento que deu certo, que vai continuar dando certo. O curso de Cinema da UFC nasceu já animado pela efervescência do cinema no Ceará. É uma grande honra para a UFC ser, digamos assim, 'madrinha' do Cine Ceará e da expansão do Cinema, do engajamento de artistas, estudantes e profissionais nessa que é a Sétima Arte", considera.
34º Cine Ceará: Estreia de documentário sobre musical negro “invisibilizado”
A abertura do Cine Ceará foi marcada também pela exibição do documentário “Brasiliana: O musical negro que apresentou o Brasil ao mundo”. A obra é um dos seis filmes que concorrem na Mostra Competitiva Ibero-americana de Longa-metragem.
Ao longo de 82 minutos, o trabalho resgata a trajetória da Companhia Brasiliana, grupo de música, teatro e dança afro-brasileiros que percorreu mais de 90 países ao longo de seus 25 anos de atividade.
Para o diretor Joel Zito Araújo, o título do longa “é muito honesto”, porque, em sua visão, a “construção que os europeus têm sobre os brasileiros de um povo alegre, receptivo e generoso” se deu por algumas presenças na Europa no pós-guerra, especialmente a da Companhia Brasiliana.
“O Brasil não conhece essa história. É uma história surpreendente de um grupo musical negro e periférico que se apresentou nos grandes teatros da Europa, fez shows com os Beatles, enfim, foi um grupo importantíssimo e de muito sucesso na Europa e que o Brasil ignorou. De certo modo, isso faz parte de um compromisso que tenho de tirar da invisibilidade uma atividade cultural tão importante e que o País não conhece”, destaca.
34º Cine Ceará: O impacto de uma edição no centenário do Cinema Cearense
Diretor do Cine Ceará, o cineasta Wolney Oliveira contextualiza o evento nas comemorações do centenário do cinema cearense, completado em 2024. Para ele, o Estado vive um grande momento no audiovisual, com a estreia de sete longas no circuito comercial neste ano — com “spoiler” de que o próximo será o documentário “Soldados da Borracha”, do próprio diretor, em 4 de dezembro.
Leia também | Ceará Filmes é aposta de avanços no ano do centenário do cinema cearense
“Somos um Estado no qual o tripé formação-produção-difusão está muito bem-arranjado. Há dois cursos superiores de Cinema — o da UFC e o da Unifor —, o sequencial (Vila das Artes), os tradicionais cursos da Casa Amarela e os cursos do Porto Iracema das Artes, além de editais”, enfatiza.
Ele acrescenta: “Uma das coisas que o Cine Ceará vem cobrando muito é política pública. Você não faz nada na vida sem fazer política — Cinema muito menos. O Cine Ceará é um festival que se preocupa muito com essa questão”.
34º Cine Ceará: “Momento de efervescência do cinema cearense”
O ator, poeta, diretor, compositor e dramaturgo cearense Gero Camilo compareceu à abertura do Cine Ceará e revelou sua emoção ao estar em sua terra natal. Para o artista, é momento de “colher frutos de uma carreira de dedicação ao cinema brasileiro”.
Um dos homenageados da edição, ele afirma que o Ceará vive um período “excelente” de audiovisual em meio a um ano repleto de lançamentos de filmes cearenses no circuito comercial. É importante, então, “se apoderar desses meios e colocar a própria cara”.
“O Brasil está curioso de ver essa cara com nossos próprios olhos. Para mim, é momento de efervescência, no qual temos que celebrar e produzir. É trabalhar bastante, semear muito e colocar foco e luz sobre essa produção atual do cinema cearense”, finaliza.
34º Cine Ceará: O que vem por aí na programação?
A programação do 34º Cine Ceará continua neste domingo, 10. Às 10 horas, é realizado debate com os realizadores do documentário “Brasiliana”, com mediação do jornalista Arthur Gadelha, do O POVO, no Hotel Sonata de Iracema.
A partir das 14 horas, o Cineteatro São Luiz recebe a Mostra Olhar do Ceará, com curtas e longa-metragem. Serão exibidos “Almadia”, “Juzé”, “Fotossíntese”, “Poesia no Vinho de Seus Lábios” e “Antônio Bandeira - O Poeta das Cores”.
Na sequência, a Sala Seu Vavá, também no São Luiz, é cenário de debate com os realizadores da Mostra Olhar do Ceará, com mediação de Diego Benevides.
Por fim, às 18 horas, é exibido o longa-metragem “Um Lobo Entre os Cisnes” na Mostra Competitiva de Longa-metragem e em seguida é transmitido o documentário “Lampião, Governador do Sertão”, de Wolney Oliveira.
Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente