Sol, resistência e expectativa: assim foi o segundo dia de Carnaval no Ceará

Sol, resistência e expectativa: assim foi o segundo dia de Carnaval no Ceará

Inspirados pelo dia de sol e pela expectativa do Oscar, foliões aproveitam o momento de ocupar as ruas e gritar contra a ditadura militar e a anistia

O céu abriu alas para o Sol raiar. Satisfeita com a dedicação dos foliões em ocupar as ruas apesar da chuva, a Mãe Natureza decidiu adiar as nuvens para os cearenses aproveitarem as praias e os blocos de Carnaval.

Se ontem, dia 1º de março, todos estavam encharcados pelas precipitações no bairro Benfica, hoje foi tudo suor. O Bloco Soltos na Buraqueira voltou a ocupar as ruas universitárias com pessoas de todas as idades na manhã deste domingo.

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A arte-educadora Beatriz Gurgel, 26, até se fantasiou esperando um dia de chuva, mas os planos precisaram mudar. Com peruca e maquiagem azul e uma sombrinha em tons branco-azulados, ela foi a própria representação do primeiro dia de Carnaval.

Como dessa vez o Sol decidiu sair, acabou virando ela uma das atrações principais do Bloco. “É um pequeno trambolho andar com isso por aí, mas me sinto a própria Fernanda Torres com todo mundo pedindo para tirar foto comigo”, brincou.

Segundo dia de Carnaval: vai que é tua, Fernanda!

É “totalmente inevitável” mencionar o nome do momento. Em pleno dia de Oscar, que no Brasil começa a ser transmitido às 20h30min, Fernanda Torres não iria escapar das fantasias de Carnaval.

Ainda no Buraqueira, a servidora pública Ana Mary Cavalcante, 50, e a mãe, Stela Carneiro, 83, representaram a família do momento: a filha vestiu-se de Fernanda Torres, com um Oscar premonitório na mão, e a mãe de Fernanda Montenegro em Central do Brasil (1998). “A vida presta!”, determina a estatueta dourada da foliã.

“Nós vamos comemorando antecipadamente, já com a certeza da vitória”, emociona-se Stela. Ela considera que o cortejo carnavalesco de Fortaleza tem melhorado a cada ano, mas dessa vez ele está “um sonho”. “É um sonho de poder ver a Fernanda ganhar o Oscar”, define.

À tarde, o Benfica também abrigou outras personagens de Torres. Na praça João Gentil, a personagem Fátima da série Tapas e Beijos coloriu de rosa e bolinhas o Carnaval. Fantasiada, a jornalista Juliana Bomfim, 44, determinou que o resultado deste domingo era “indiferente”, tamanha a emoção de torcer por uma brasileira no Oscar.

Juliana estava acompanhada de Patrícia Felix, 42, que estava vestida de Flavinha, vendedora e mulher de Djalma. Este personagem foi representado pelo analista comercial Chico Júnior, 42. Já o traje de Suely, dupla de Fátima na série, ficou para a publicitária Ingrid Bonfim, 29.

Galeria: confira fotos dos foliões fantasiados de Fernanda Torres e filmes indicados ao Oscar

Segundo dia de Carnaval: foliões gritam 'Sem Anistia!'

Ainda Estou Aqui (2024), filme indicado ao Oscar para Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Filme, também esteve presente no clamor popular contra a ditadura militar e contra a anistia.

A produção reascendeu no Brasil a memória da ditadura e o peso da ausência de julgamentos dos torturadores de cerca de 20 mil pessoas e algozes de 434 mortos ou desaparecidos. Os dados são do Human Rights Watch.

É nesse contexto de Oscar e resistência que os foliões aproveitaram a festa popular para gritar contra a anistia de torturadores e envolvidos em golpes de Estado.

A comerciante Rute Fonteles, 47, usou ao lado do marido uma plaquinha de papelão com a frase “Sem anistia”.

“O Carnaval é momento de protesto também, e por isso lembramos: sem anistia. Estamos em uma festa popular, então também temos a oportunidade de extravasar os sentimentos que reprimimos o ano todo. Não deixa de ser uma oportunidade de manifestarmos nosso posicionamento político com bom humor”, ressalta.

Na praça João Gentil, um grupo de mais de 12 amigas também se manifestou. Vestindo tiaras com a frase de Torres (“A vida presta!”), elas também carregavam broches com os dizeres “Sem Anistia”.

Para Bruna Honorato, 43, o motivo da manifestação durante o Carnaval é simples: “Tudo é político”. “Então a gente está aqui resistindo, a gente está dizendo ‘anistia não’ aos golpistas. Ele não. Ele preso.”

Segundo dia de Carnaval: nas praias, tranquilidade e beijo na boca

Como a faixa litorânea brindou um dia completo de Sol, as praias dos polos carnavalescos do Estado foram tomadas por famílias e grupos de amigos.

Pela manhã, o fluxo era tranquilo, focado no descanso e reparação do corpo. Em Canoa Quebrada, praia de Aracati, crianças aproveitaram para brincar na areia, enquanto adultos curtiam a sombra.

Entre eles, o grupo de amigos de Alexandre da Silva, 35, que há cinco anos vai para Canoa Quebrada recarregar as energias no Carnaval: “O preço e a calmaria [são os motivos da escolha]. Está tranquilo. Tão tranquilo que bate já é um sono. Aqui é bom demais”, afirmou.

Já na praia de Majorlândia, a movimentação foi intensa desde as 10h. A temperatura ultrapassou os 30° C durante boa parte do dia — foi então que o autônomo Ivan Araújo, 41, decidiu entrar para salvar o dia.

Assista: com jato de água, Ivan Araújo refrescava foliões em Aracati

Com um jato d'água, ele molhava todos que passavam em frente à casa onde passa o Carnaval. “O Carnaval de Aracati é um dos mais quentes que tem. A gente traz o jato para ficar mais fresco. O pessoal aproveita, toma banho e se diverte mais”, conta.

A mistura de calor, água e festa começou a desenhar o imaginário do Carnaval raiz. Para completar, faltava só o beijo na boca, o que os foliões da Majorlândia fizeram questão de garantir.

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