Blocos lotam ruas de São Paulo mesmo com restrições da gestão João Doria
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Entre críticas e elogios, a gestão do atual prefeito João Doria (PSDB) lançou uma série de regras para o Carnaval de rua de São Paulo. Há cerca de quatro anos, cada vez mais habitantes da capital paulista têm trocado as praias e a dor de cabeça dos engarrafamentos para curtir o feriado na própria cidade. De acordo com a Prefeitura de São Paulo, cada dia de festa contou com mais de 1 milhão de foliões, sendo o domingo o mais agitado (1,65 milhão). A estimativa foi feita a partir de dados dos organizadores e por meio de imagens de drones e helicópteros.
Em 2018, 491 blocos se inscreveram para o Carnaval somente na Capital. Entre as exigências da Prefeitura, estava a contratação de seguranças particulares, que deveria ficar por conta da organização. Foi determinado ainda multas para quem urinasse na rua ou obstruisse vias. Houve restrição de desfiles e apresentações em áreas residenciais, bloqueio de ruas e horário negociado com a Prefeitura para cada apresentação. A decisão cede à pressão de associações de moradores, sobretudo dos bairros mais nobres.
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AssineAs medidas foram criticadas por alguns organizadores de blocos, que planejaram desfiles clandestinos. Foliões também reclamaram de determinadas mudanças neste ano. Integrante da banda Xique-xique, que participa das festas de pré-Carnaval, Rô Ferreira disse que o excesso de regras da Prefeitura tem um quê de “proibição” e tirava a espontaneidade natural da festa.
“Também não gostei do desfile na avenida 23 de Maio. Fica sem opção, sem saída. Se houve uma emergência, incêndio, não tinha escape para a população. Diferente quando era nas ruas que havia espaço para vazão de pessoas”, explica.
A Prefeitura transferiu a apresentação de blocos de bairros residenciais para a avenida 23 de Maio. A área fica na região central, entre os bairros Bela Vista e Paraíso, onde há pelo menos seis grandes hospitais particulares. A lotação de pessoas dificultou o acesso aos blocos. Tapumes fecharam as grades de viadutos e vias no entorno do local. Assim como as críticas, houve também elogios à Prefeitura.
O cabeleireiro Oliver Gregório, de 26 anos, disse que a estrutura do Carnaval de rua estava melhor, com mais segurança e banheiros químicos. Ele gostou da disposição dos blocos, inclusive a mudança para a 23 de Maio. “É muito bom para nós esse Carnaval aqui, podemos trabalhar de dia, no salão, e vir curtir à noite”, afirma.
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A estrutura foi majoritariamente bancada pela iniciativa privada, conforme contrato firmado pela Prefeitura. O Carnaval deste ano foi estimado em R$ 20 milhões, R$ 5 milhões mais caro que 2017. Na gestão anterior, a maior parte da festa era paga pelo poder público. Em 2018, empresas patrocinaram também blocos com diferentes temáticas que trouxeram atrações como Gilberto Gil, Liniker, o grupo Rouge e Sidney Magal.
“Todo país tem problemas, claro. Mas o Brasil tem boas tradições, tem um povo maravilhoso e as pessoas trazem essa alegria para a festa. Mesmo com episódios de racismos contra nós e problemas na política, ainda vale a pena estar aqui na rua para ver essa festa linda”, relata o nigeriano Tom Junior, de 26 anos.
Especial
Dos janelas de um prédio antigo na região do Centro, bairro República, um grupo de idosos se cola ao vidro para ver os blocos das escolas de samba passar. Nos demais dias do ano, a maior parte da avenida São João é escura, deserta e monótona. Mas era Carnaval. Para os moradores do lar de idosos da Prefeitura, o barulho não incomodava. Pelo contrário, trazia alegria.
“Aqui depois das 10 horas da noite está tudo fechado. Mas no Carnaval tem gente na rua. Não atrapalha nada o barulho. É bom. A gente pode dormir o dia inteiro se quiser. Carnaval é sempre bom. E esse foi o melhor”, conta o morador Sebastião Antônio, que vive no lar há 3 anos.
Para a idosa de 63 anos, Paulo Vanda da Silva, o Carnaval é tempo de lembrar dos desfiles que tinha no seu antigo bairro na zona Leste, é época de declarar com marchinhas o amor pelo Corinthians. São as noites mais alegres do ano, motivo de orgulho para quem vêm das periferias. “Sabia que na minha rua tinha um bloco? Tinha, sim. Era bom demais. Mas hoje eu fico tão feliz de ver o Pavilhão Nove passar. É bom demais”, declara.
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