Coluna Vanessa Passos: "Se assumir como escritora para si mesma e para o mundo"

Em coluna, a escritora Vanessa Passos reflete sobre os espaços da mulher na literatura atual

De onde surgiu tanta mulher escrevendo? Perguntam-se. Os mais incrédulos podem julgar, porque o corpo e as ações femininas estão sempre em julgamento, e dizer toda mulher quer ser escritora ou se dizer escritora. A verdade é que as mulheres já escrevem há muito tempo. Virginia Woolf chegou a dizer que todo anônimo era uma mulher.

Mas o que parece brotar do nada é decorrente da falta de espaços e oportunidades no mercado editorial, algo que tem mudado nos últimos anos em decorrência dos próprios leitores, que buscam e exigem leituras mais plurais. Os leitores agora observam as próprias estantes e se perguntam: quantas escritoras li este ano?

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Enquanto ambientes na grande imprensa e eventos literários eram amplamente habitados por homens, as mulheres não deixaram de cavar seus espaços. Daí surgiram movimentos coletivos focados em divulgar a leitura de autoras, como o Leia Mulheres, espalhados em vários estados do país, o Clube do Livro Feminista e o Clube de Leitura Autoras Vivas, cujas atividades pretendo retomar no segundo semestre deste ano.

Mas as iniciativas não param por aí. Temos ainda iniciativas como a Amora Livros, que é um Clube de assinatura de livros escritos por mulheres. Além de um livro surpresa escrito por uma autora e brindes, envia um conto inédito numa edição especial de uma escritora ainda sem livro publicado.

Talvez você já tenha escutado essa historinha de que as mulheres estão sendo lidas apenas por ser mulheres, por uma questão de reparação histórica, e não pela qualidade literária. Mas essa ideia facilmente cai por terra quando se lê qualquer uma destas escritoras: Carola Saavedra, Giovana Madalosso, Natalia Timerman, Nara Vidal, Marcela Dantés, Morgana Kretzmann, Renata Belmonte, Andrea del Fuego, Tatiana Salem Levy, Paulliny Tort, Natalia Zuccala, Natércia Pontes, Tércia Montenegro, Irka Barrios, Socorro Acioli, Maria Elena Morán, Julia Dantas e tantas, tantas outras.

Ainda vejo mulheres, escritoras, alunas de escrita e até amigas com receio de apresentarem seus trabalhos, mesmo com livros publicados e até premiados. Com receio de parecerem narcisistas, de parecer que estão exaltando seu próprio trabalho. E que mal há nisso? Não é o que os escritores fazem há séculos?

As mulheres, como falou Conceição Evaristo, estão forçando passagem. Estamos escrevendo, reescrevendo, editando, estudando e publicando. É hora de colocar a cara no mundo. Talvez a sociedade, e até a comunidade literária, queira reforçar essa ideia de que uma mulher está se amostrando (e aqui faço questão de usar este verbo bem cearense, marcando de onde venho) ao falar e divulgar o seu trabalho com afinco, porque uma mulher com autoestima e sem medo assusta.

É hora de mostrar nossos trabalhos. É hora de sair do armário, da gaveta, dos arquivos do computador, das estantes, do escuro e ir colocar a cara no mundo, se assumir como escritora – para si mesma e para o mundo.

Pensando nisso, Giovana Madalosso, Natalia Timerman, Paula Carvalho e a turma da Feira do Livro de São Paulo tiveram uma ideia que agora ganha força e ultrapassa as fronteiras das cidades e até do país.

Trata-se de um registro fotográfico, que deve entrar na história ao retratar as autoras de mais de vinte cidades, como: São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Cuiabá, Florianópolis, Vitória, Rondônia, Roraima, Curitiba, Amapá, Porto Alegre, Fortaleza, Brasília e muitas outras, porque o número só cresce, em apenas duas semanas. E também fora do Brasil, em Lisboa e Londres. A inspiração veio da foto “A Great Day in Harlem” (“Um grande dia no Harlem”), feita por Art Kane em 1958, que eternizou a era dourada do jazz mostrando 57 talentos. Agora, o convite para o evento é para quem se identifica como mulher e escreve. E vale tudo: de ficção a não ficção, poesia a slam, teatro a prosa.

A foto acontecerá no dia 12 de junho em diferentes lugares. Será um dia histórico. Centenas de mulheres, escritoras, ocupando os espaços, mostrando os seus trabalhos, sem medo.

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Vanessa Passos é escritora, professora de escrita criativa e vencedora do Prêmio Kindle com o livro "A filha primitiva"

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