Review: Civilization VII
Civilization VII moderniza a franquia com gráficos vibrantes, mecânicas acessíveis e o novo sistema de Eras, mas perde profundidade ao focar mais nos conflitos e menos na diplomacia
"Sid Meier’s Civilization VII" chega como uma evolução cuidadosa da aclamada série de estratégia, mantendo os pilares clássicos enquanto introduz mudanças ousadas. O sistema de Eras, por exemplo, redefine a progressão do jogo ao dividir a experiência em três períodos distintos: Antiguidade, Exploração e Modernidade. A cada nova Era, o jogador deve escolher uma nova civilização, promovendo variedade estratégica e exigindo uma adaptação constante. Esse elemento lembra o que foi feito em Humankind, mas de forma mais refinada, permitindo reviravoltas estratégicas inesperadas.
A interface do jogo está mais acessível, tornando a navegação intuitiva mesmo para novatos no gênero 4X. Há tutoriais bem elaborados e um glossário detalhado, facilitando o aprendizado. No entanto, veteranos podem sentir falta de algumas mecânicas tradicionais, como trabalhadores e Grandes Personagens, removidos para simplificar a jogabilidade. O sistema de expansão das cidades agora se dá pela seleção manual de territórios, eliminando a micromanipulação de unidades e tornando o fluxo mais dinâmico. Apesar da redução no controle minucioso, o jogo mantém profundidade tática e favorece decisões mais impactantes.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
Visualmente, "Civilization VII" é um espetáculo. O equilíbrio entre realismo e um toque artístico faz com que o mundo pareça vibrante e vivo. Nos primeiros momentos de jogo, é fascinante observar peixes nadando entre recifes ou a fumaça subindo de fogueiras. À medida que as cidades crescem, metrópoles ganham vida com prédios iluminados, gruas operando e fábricas soltando vapor. O design hexagonal permanece claro e eficiente, permitindo que cada elemento seja visualmente distinto sem perder legibilidade. A única ressalva está na paleta de cores, que pode parecer um pouco saturada em alguns momentos, mas nada que prejudique a experiência.
O som do jogo merece destaque. A trilha sonora, composta por Geoff Knorr, Roland Rizzo e Christopher Tin, complementa perfeitamente a grandiosidade da experiência. Além disso, a narração de Gwendoline Christie adiciona um tom épico e envolvente a cada avanço de Era. Os efeitos sonoros são detalhados e ajudam na imersão, desde o barulho das ondas quebrando nas costas até o tilintar do ouro ao completar uma negociação comercial. Diferente de outros jogos de estratégia onde o áudio é apenas um complemento, aqui ele se torna parte essencial do clima e do ritmo do jogo.
A narrativa emergente de "Civilization VII" se destaca pelo sistema de eventos, inspirado em jogos como "Frostpunk 2". Cada decisão pode desencadear consequências inesperadas, tornando cada campanha única. Ainda assim, o sistema de Eras traz um certo distanciamento da identidade nacional construída ao longo do jogo, uma vez que a civilização controlada é trocada ao longo da partida. Para aqueles que gostavam de levar um único império do início ao fim, essa mudança pode parecer menos envolvente.
A longevidade do jogo é um de seus pontos mais fortes. Com múltiplas civilizações e líderes, além de diferentes condições de vitória, cada partida traz desafios e recompensas variadas. O sistema de progresso meta incentiva novas tentativas ao desbloquear personalizações e bônus sutis para futuras campanhas. Contudo, algumas ausências são notáveis, como um número reduzido de tamanhos de mapa e tipos de terreno, o que pode tornar as primeiras partidas um pouco repetitivas. Como sempre acontece na franquia, futuras expansões certamente preencherão essas lacunas.
Embora "Civilization VII" seja acessível, algumas escolhas de design podem incomodar jogadores veteranos. A tendência de favorecer um estilo de jogo mais agressivo faz com que estratégias militares sejam frequentemente mais vantajosas do que rotas pacíficas. Além disso, a remoção da possibilidade de renomear cidades parece um detalhe pequeno, mas pode frustrar aqueles que gostam de personalizar suas nações. Ainda assim, a implementação de generais que comandam exércitos traz novas camadas de estratégia ao combate, equilibrando melhor o desafio tático.
Em um gênero repleto de títulos desafiadores, "Civilization VII" se destaca por sua abordagem moderna e elegante. As mudanças no fluxo de jogo tornam as partidas mais dinâmicas, enquanto a apresentação audiovisual é uma das mais impressionantes da série. O jogo mantém a essência viciante do “só mais um turno”, garantindo que horas se passem sem perceber. Para novos jogadores, é uma porta de entrada acessível ao mundo dos jogos de estratégia. Para os veteranos, pode ser um desafio aceitar algumas das mudanças, mas, no final das contas, essa é, sem dúvida, uma das adições mais interessantes da franquia.
Davi Rocha é integrante do canal de Youtube Bacontástico