Série expõe versões desconhecidas de Maria Bonita e Lampião
Estreia no Disney+ a série "Maria e o Cangaço", inspirada no livro "Maria Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço", de Adriana Negreiros
Os cangaceiros Virgulino Ferreira da Silva e Maria Gomes de Oliveira, junto com seu grupo de cangaceiros, foram emboscados por forças policiais na Grota do Angico no dia 28 de julho de 1938, em Sergipe.
Mesmo com as mortes violentas, a dupla conhecida como Maria Bonita e Lampião desafiou o sertão nordestino por mais de uma década, enfrentando o coronelismo e a desigualdade social, e ficou na história do Brasil. Agora, mais uma vez, a trajetória dos dois retorna às telas.
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Baseada no livro "Maria Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço", de Adriana Negreiros, a série "Maria e o Cangaço" estreia nesta sexta-feira, 4, e destaca o papel das mulheres no movimento cangaceiro, com foco em Maria Bonita, interpretada por Ísis Valverde.
Perspectiva feminina no cangaço
A produção adota um olhar mais íntimo sobre o cangaço, focando na perspectiva feminina. A narrativa se concentra nos últimos anos de Maria Bonita no grupo liderado por Lampião, vivido por Júlio Andrade, explorando os desejos e dilemas pessoais da dupla para além da imagem de foras da lei.
A direção de Thalita Rubio e Adrian Teijido rapidamente situa o espectador na brutalidade das tropas volantes da época e no motivo pelo qual tantos sertanejos apoiavam os cangaceiros. Silvério Batista (Rômulo Braga), delegado encarregado da caça a Lampião, é apresentado em uma cena que evidencia a hipocrisia e a violência do poder da época.
O contraste entre protagonistas e antagonistas se estabelece de imediato. Enquanto a perseguição policial se traduz em morte e destruição, a direção contrapõe essa realidade ao retratar os cangaceiros lutando para proteger suas vidas e as de seus aliados. Essa distinção permeia os seis episódios da série.
O roteiro não ignora, contudo, as dificuldades enfrentadas por Maria e outras mulheres no cangaço: mesmo sendo tão ou mais capazes que muitos homens, eram frequentemente descredibilizadas. Embora Lampião valorizasse a opinião de sua companheira, a decisão final sempre lhe cabia.
Quando suas escolhas coincidiam com as de Maria, a insatisfação do grupo era evidente, até que a decisão se concretizasse como benéfica ao grupo. Um reflexo do machismo enraizado da época.
Desafios de Maria Bonita no cangaço
Ao longo da trama, acompanhamos os desafios pessoais de Maria Bonita, que sonha em abandonar a vida de foragida e encontrar um lugar seguro para viver com a família. A série evita mergulhar no passado dos personagens, focando no presente, mas sugere o que levou a protagonista a se tornar cangaceira, o que ajuda o espectador a compreender as escolhas da protagonista.
Júlio Andrade entrega uma interpretação intensa de Lampião, mas é Ísis Valverde quem se destaca quando o assunto é atuação. A atriz assume com propriedade o desafio de dar vida a Maria Bonita, dominando todas as cenas em que aparece. Sem dúvidas, uma de suas atuações mais marcantes.
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Além das performances envolventes, "Maria e o Cangaço" impressiona pelo design de produção. As filmagens em locações reais, como Cabaceiras (PB), Raso da Catarina e Rio São Francisco (Piranhas), minimizam o uso de efeitos visuais, somados ao trabalho de fotografia de Adrian Teijido (“Ainda Estou Aqui, de 2024), garantem uma imersão autêntica na ambientação do cangaço.
"Maria e o Cangaço" resgata um dos momentos mais emblemáticos da luta de classes no Brasil, sob uma perspectiva inédita. Ao colocar Maria Bonita como igual a Lampião, a série reafirma seu papel na história do cangaço até os últimos momentos de sua vida. Mostrando ao mundo a força do banditismo e das diversas Marias presentes nele, que foram extremamente necessárias, na luta pela justiça e igualdade no nordeste brasileiro.