Marina Colasanti: escritores cearenses celebram legado da autora
Em conversa com o Vida&Arte, escritores cearenses celebram o legado e a importância que Marina Colasanti para a literatura brasileiraA literatura brasileira perdeu nesta terça-feira, 28, um importante nome em sua história, a escritora Marina Colasanti. A autora morreu no Rio de Janeiro, aos 87 anos, e deixou como legado mais de 70 títulos públicados, entre poesias, contos e literatura infantil e infanto-juvenil.
Ao O POVO, o escritor Mailson Furtado lamenta a morte da também jornalista, afirmando que “sempre que um poeta ou artista parte, fica aquele sentimento de vazio”.
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“Por ser essa pessoa, esse profissional, que cria, que fecunda espaços. No momento que uma poeta desse tamanho parte, esse mundo fica um tanto menor e buscando esses espaços construídos por ela”, arremata.
O autor também lembra a importância do legado de Marina para a literatura nacional, ressaltando que ela vem de uma geração “onde há um primeiro espaço” para uma literatura feita por mulheres, fazendo parte de um panteão de escritoras como Hilda Hilst, Clarice Lispector, Adélia Prado e tantas outras figuras importantes.
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“Ela é muito importante dentro desse cenário de abrir espaço para mulheres, para literatura feminina, no Brasil, trazendo essa voz. Além de trazer uma poesia muito particular, densa. E em várias frentes: desde a erótica, indo para para uma pouco mais lírica, não deixando de ter a crítica social ali também”, aponta.
A escritora cearense e mediadora de leituras Argentina Castro também lamenta a morte de Colasanti e enaltece a obra da jornalista. “O mundo sempre ganha quando uma mulher se coloca no mundo artisticamente e, em especial, através da arte literária. Afinal, temos um olhar único sobre a vida, e a literatura nos diz da vida. Do mesmo modo, o mundo também perde muito quando uma de nós deixa de existir e, portanto, de produzir belezas”, elabora.
Mas, para Argentina, um escritor nunca morre, se mantendo vivo “entre as palavras e páginas de seus e livros, nas memórias de seus leitores; na forma como constrói e inspira narrativas, no modo como passamos a pensar e sentir depois da leitura de um bom texto ou livro”.
“Não fica o vazio da morte, fica muita riqueza na vida. Que seu espírito receba de volta todo o afago que deu ao escrever”, conclui Argentina.
Uma figura proeminente da literatura brasileira
O primeiro sentimento que fica para Maura Isidorio é o “impacto da despedida”, mas que é amparado pela “memória, força e coragem de Marina, com seu trabalho ofereceu possibilidades para outras mulheres”. “Então, o sentimento é de gratidão, amor e respeito por essa gigante da nossa literatura”, desabafa.
“Escritora versátil, escreveu crônica, conto, ensaio, poesia, infantojuvenil. Me encanta o protagonismo feminino em sua literatura. Sua literatura é tão elegante, sutil e ao mesmo tempo profunda. Seus livros continuam conosco, nessa travessia que se chama vida”, exalta.
Um livro citado por ela é “A Moça Tecelã”, que define como um título “significativo para mulheres”. “Esse livro ajuda a pensar que sempre podemos escolher linhas e cores, bordar, costurar, mas também desfazer e começar novamente”, expressa.
Bruno Paulino, escritor e professor, define Marina Colasanti como uma das “figuras mais proeminentes da literatura brasileira contemporânea”, com uma “obra muito singular e sempre com muita qualidade no texto”.
Ele cita como exemplo de leituras dela que marcaram, a crônica “Eu sei, mas não devia”, publicada em 1972. Nela, a autora devela “sutilezas do cotidiano que oprime” e que as pessoas vão se acostumando “a conviver com aquelas dores e violências, e não reagir”. “A escrita dela é marcada por uma sensibilidade e profundidade”, sustenta.
“É uma grande escritora que deixa uma lacuna aberta, tanto na sua militância, na literatura, como no jornalismo, como cronista. É uma mulher feita mesmo de palavra. ‘Uma moça tecelã’, como ela também escreveu o conto. ‘Uma moça tecelã feita toda de palavras’. Essa era Marina Colasanti, que rigava sensibilidade e empatia nos seus escritos”, pontua.
Relembrando todo o legado deixado pela ítalo-brasileira, Sarah Forte, professora universitária e também escritora, celebra os textos e livros publicados: “Marina nos convida em seus textos a um passeio por mundos encantados que nos fazem mergulhar numa aprendizagem do olhar que, ao desautomatizar a realidade, nos oferece formas de sentir a vida artisticamente sob as lentes do imaginário”.