Editora Nemo lança novo quadrinho do francês Fabien Toulmé

Em "Reflexos do Mundo: Trabalhar é Viver", o quadrinista francês faz reflexão sobre as relações de bem-estar e trabalho pelo mundo

O quadrinista Fabien Toulmé retorna às livrarias do Brasil com uma obra que combina a profundidade de uma grande reportagem com a narrativa visual dos quadrinhos. Em "Reflexos do Mundo: Trabalhar é Viver", Toulmé explora a complexidade das relações de trabalho contemporâneas, trazendo um olhar sensível e investigativo sobre o impacto do emprego na vida das pessoas ao redor do mundo. Com cores do cearense Miguel Felício, o livro é dividido em três atos distintos, que abordam experiências em contextos sociais e culturais bastante diferentes.

O autor parte da "Grande Demissão" (“Great Resignation”), um fenômeno observado nos Estados Unidos após 2020, que revelou uma onda de demissões em massa. Por meio de sua jornada, Toulmé ecoa as vozes de trabalhadores de diferentes classes sociais e contextos, desde banqueiros de investimentos até agricultores em situação de extrema vulnerabilidade.

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A narrativa - permeada pela pergunta recorrente “O que você faria se tivesse dinheiro suficiente para não precisar mais trabalhar?” - convida o leitor a refletir sobre o verdadeiro papel do trabalho na existência humana.

No primeiro ato, Toulmé entrevista profissionais como Austin, um ex-banqueiro de investimentos que trocou a vida corporativa e os altos salários por uma existência mais simples e autêntica, centrada em sua paixão pela música. A mudança de vida ilustra um dos temas centrais do livro: a busca por realização pessoal além do prestígio profissional.

Aqui Fabien faz o leitor pensar sobre a verdadeira felicidade e até que ponto o trabalho nos faz atingir a completude. Mas Toulmé não se limita a este tipo de trabalhador, buscando ao máximo a pluralidade para os seus entrevistados. O que amplia e beneficia a discussão principal da obra.

O segundo ato é marcado por um tom mais sombrio, em decorrência de situações que o autor descobre durante suas entrevistas. Ele viaja à Coreia do Sul. Lá, aborda o fenômeno do "karoshi" (morte por excesso de trabalho), entrevistando funcionários da Coupang, uma gigante do e-commerce semelhante a Amazon. A narrativa ganha intensidade com os quadros monocromáticos em tons de azul, que traduzem graficamente a tristeza e a exaustão dos trabalhadores.

 

Nesse ponto, o leitor já está familiarizado com o ritmo e o tom das entrevistas realizadas por Fabien, e tem bastante facilidade de entender não apenas a situação vivida ali, mas também como a cultura de cada local influencia nestas situações.

No caso da Coreia do Sul, fica muito claro que a pressão social é algo que determina de forma intensa a relação dos trabalhadores e a empresa para as quais prestam serviço. Nesse ponto, notamos o drama da “uberização” das profissões - quando os trabalhadores são expostos a longas jornadas e não possuem direitos trabalhistas - e a falta de comprometimento das empresas com seus prestadores de serviço.

 

Por fim, no terceiro ato, Toulmé visita o arquipélago de Comores, onde trabalhadores enfrentam condições subumanas para produzir matérias-primas de luxo - como o ylang-ylang, usado em perfumes icônicos como o Chanel N5. A abordagem ressalta como a precarização e a exploração globalizada afetam desproporcionalmente comunidades vulneráveis.

Mas ao mesmo tempo joga o holofote na relação de cumplicidade e respeito entre os trabalhadores daquele local, que buscam de forma conjunta melhorias para todos. Mostrando que existe, sim, a possibilidade de se organizar e não virar “refém” de quem abusa deles profissionalmente.

O quadrinho não é apenas uma obra de entretenimento; é também uma convocação ao debate sobre a precarização, o burnout e a "uberização" do trabalho. Para um mundo que ainda luta para entender o equilíbrio entre trabalhar e viver, a obra de Toulmé é, sem dúvida, uma contribuição valiosa e necessária.

"Reflexos do Mundo: Trabalhar é Viver" é uma leitura instigante, que desafia o leitor a questionar as próprias relações com o trabalho. Fabien Toulmé reafirma sua posição como um dos grandes cronistas visuais da contemporaneidade, oferecendo uma obra que é tanto um retrato quanto um espelho de nossa sociedade que precisa urgentemente rever o conhecido pensanmento de que é trabalhar e viver.

Reflexos do Mundo: Trabalhar é Viver

 

 

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