Edisca transforma vidas por meio da educação e da dança em Fortaleza
Iniciativa que une arte e inclusão social para jovens em situação de vulnerabilidade ajudou a revelar Eva e Renata, bailarinas cearenses que estão no BBBFundada em 1991 pela coreógrafa Dora Andrade, a Edisca (Escola de Desenvolvimento e Integração Social para Criança e Adolescente) é referência em transformação social em Fortaleza. Desde sua criação, mais de 2.500 jovens passaram pela escola, muitos deles alcançando o ensino superior e atuando em diversas áreas.
A instituição surgiu com foco na dança, mas ampliou sua atuação ao longo dos anos para incluir educação formal, apoio social e programas de empoderamento feminino. Atualmente, atende cerca de 300 alunos, priorizando crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade.
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Além das aulas de dança, a Edisca oferece disciplinas como inglês e redação, além de assistência nutricional e debates sobre temas sociais, proporcionando uma formação completa.
Bailarinas têm trajetória marcada por ONG referência em transformação social
A trajetória da Edisca ganhou destaque com a participação de Eva Pacheco, 31 anos, e Renata Saldanha, 32, no Big Brother Brasil 25 (BBB 25), que teve estreia no último dia 13 de janeiro. As duas bailarinas se conheceram na escola há 25 anos e revelaram, no programa, o papel da instituição na formação de suas carreiras e na amizade que construíram.
“Foi aqui que comecei a sonhar grande”, disse Eva em uma de suas entrevistas no reality. Filha de uma das idealizadoras do projeto, Gerusa, Eva começou a dançar aos 3 anos de idade, mais tarde trabalhou como recepcionista, professora de dança e hoje é fisioterapeuta obstétrica, modelo e influenciadora digital.
Renata, por sua vez, que entrou no projeto aos 8 anos de idade, reforçou que a Edisca foi fundamental para que ela descobrisse sua paixão pela arte e pela educação. “A escola vai muito além da dança, é sobre criar oportunidades”.
“O projeto foi uma forma de minha mãe me manter ocupada, mas acabou transformando minha vida. A arte me deu habilidades que eu jamais imaginava, como aprender inglês, maquiar e até fazer teatro. Foi ali que tive minha primeira viagem internacional e percebi que podia ir além das expectativas impostas pela minha realidade”, conta Renata.
Atualmente, Renata divide seu tempo entre as aulas em duas escolas e os ensaios da companhia de dança que integra ao lado de Eva. Além disso, ela participa de shows e gravações como bailarina.
Ana Sophia Pitombeira, de 15 anos, é outro exemplo de transformação. Ela ingressou na escola aos 7 anos de idade. Apaixonada pela dança desde criança, ela conta como foi o processo de seleção e o papel da instituição em sua formação:
“Desde pequena eu sempre fui muito apaixonada pela dança. O que me motivou mais, além da dança, foi vir para uma escola maior, conhecer gente nova e ter um conhecimento maior. Porque querendo ou não eu tinha pouco conhecimento no outro balé que eu fazia. Sempre foi meu sonho, expandir meu conhecimento sobre a dança”, relata Ana.
Desde que começou na escola, ela observa mudanças significativas em sua vida, especialmente na educação e na alimentação.
“Consegui estudar em um colégio melhor e adquiri mais conhecimento. Aqui, temos debates no grupo de convivência e aprendemos sobre temas importantes. Porque antes a gente não sabia como era errado um cara chegar invadindo nosso espaço e aqui a gente trata sobre isso. Uma boa alimentação também, porque aqui eles dão uma alimentação boa pra gente,” conta a adolescente.
Sobre sua rotina na Edisca, Ana descreve o dia a dia como intenso, mas enriquecedor.
“Dia de segunda-feira, por exemplo, a gente tem um grupo de convivência. Então a gente tem que chegar aqui 8h. Às 9h eu sou livre, porque quem é bolsista fica livre e normalmente tira essa hora para estudar, quando a gente tem prova no mesmo dia. 10h a gente tem a dança, que normalmente é coreografia. E daqui vou direto para a escola”, detalha a educanda.
Ana também participou de apresentações marcantes promovidas pela Edisca. “Em 2022, fizemos o espetáculo Periferia, no Teatro José de Alencar. Foi uma grande luta para nós.”
Sobre o futuro, ela conta que ainda está indecisa, mas destaca o apoio da escola na construção de seus sonhos. “Tenho dúvidas entre seguir na dança, com Educação Física, ou em áreas como Jornalismo, Psicologia ou Medicina Veterinária.”
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Edisca: como foi o processo de idealização da escola?
Dora Andrade, fundadora da Edisca, conta que a criação da escola foi um “acidente”. “Eu queria ter um grupo de dança que pudesse acessar o cenário nacional, mas a Edisca foi se constituindo pela observação contínua das necessidades das comunidades. Desde então, todos os anos têm sido profundamente desafiadores”, explica.
Segundo Dora, o ensino da dança está integrado a um circuito educacional que inclui aulas práticas, atividades pedagógicas e refeições diárias. “É um equilíbrio que permite às crianças desenvolverem tanto suas habilidades artísticas quanto seu desempenho escolar”, detalha.
A seleção dos alunos é outro passo importante. “É um processo rigoroso, voltado para crianças em condição de vulnerabilidade social. Elas precisam apresentar documentos que comprovem essa situação, e avaliamos aspectos como assiduidade e disciplina. Quando há empate, damos preferência à criança em situação de maior vulnerabilidade”, diz Dora.
Edisca: desafios para manter o projeto
Manter uma iniciativa como a Edisca exige criatividade e resiliência. Segundo Dora, a sustentabilidade financeira é um dos maiores desafios.
“Os recursos estão cada vez mais escassos. Houve uma evasão de organizações internacionais e uma concentração de investimentos em áreas de catástrofes, como a África. Paralelamente, o número de organizações no terceiro setor cresceu muito, o que aumenta a concorrência por financiamento.”
Para driblar essas dificuldades, a Edisca desenvolveu projetos próprios de geração de renda, como o brechó Bazaar Segundo Ato e a comercialização de espetáculos. Além disso, mantém parcerias com governos e qualifica seus projetos para aumentar as chances de aprovação em editais.
Edisca: projetos de empoderamento de meninas e mulheres
Um dos focos principais da Edisca é o empoderamento feminino. Dora destaca que a formação artística e educacional tem um impacto transformador na vida das alunas.
“Ver ex-alunas concluindo graduações, mestrados e doutorados em universidades públicas, ou atuando como lideranças sociais, é um resultado que nos enche de orgulho. Elas estão quebrando paradigmas e transformando suas comunidades”, afirma.
Futuro da Edisca e o espetáculo “Koi Guera” em 2025
Para 2025, a Edisca remontará o espetáculo “Koi Guera”, com estreia prevista para o mês de outubro. Criado há 27 anos, o balé aborda a negligência com os povos tradicionais, um tema que voltou à tona após denúncias sobre a situação dos Yanomamis.
“Se tivéssemos o espetáculo pronto dois anos atrás, ele teria sido uma forma poderosa de denúncia. A remontagem reforça essa mensagem e mantém vivo o repertório da Edisca”, diz Dora.
Nos próximos cinco anos, a Edisca pretende fortalecer seu impacto social e educativo, revisitando suas práticas e investindo na qualificação pedagógica. “Vivemos um momento de mudanças profundas, como a inteligência artificial, que ameaça profissões repetitivas. Nosso desafio é preparar os alunos para o futuro, com uma formação relevante e conectada às novas demandas”, explica a fundadora.
Próximas programações
De acordo com Mayra Vasconcelos, bailarina, professora e coordenadora da Edisca, a escola terá uma mostra coreográfica, espécie de festival interno, além do espetáculo “Koi Guera”, previsto para o segundo semestre de 2025. Com 19 anos de envolvimento com a Edisca, Mayra é mais outro exemplo de como a iniciativa transforma vidas.
A Edisca segue sendo um farol de esperança e transformação em Fortaleza, mostrando que arte, educação e inclusão social podem andar lado a lado.
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