Bicho Selvagem: HQ é uma leitura inquietante e perturbadora

Novo quadrinho lançado pela Editora Veneta faz paralelo triste - mas real - da sociedade armamentista através de uma história dura e direta

Em “Bicho Selvagem”, a narrativa se desenrola em um cenário urbano que, outrora, fora uma grande floresta, mas agora dá lugar a um condomínio de luxo. Nesse ambiente, os moradores fazem questão de ignorar completamente a ancestralidade do local.

A quadrinista Magô Pool, autora da obra, conduz o leitor de forma habilidosa, apresentando logo no início o fio condutor que nos guiará ao longo da história.

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Após uma reunião liderada pela síndica do condomínio, descobrimos que o local tem sido "atacado" por alguma espécie de animal selvagem. Sem rodeios, a autora nos revela o perfil dos personagens que acompanhamos: de um lado, moradores que demonstram uma preocupação exagerada em relação ao suposto bicho selvagem, cobrando uma solução imediata; de outro, aqueles dispostos a tomar "justiça" nas próprias mãos – ou melhor, em suas armas.

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Magô Pool não suaviza a violência. Pelo contrário, apresenta-a em sua forma mais crua, como um reflexo da convivência de nossa sociedade com armas de fogo e com agressões cada vez mais normalizadas.

A violência, em certos momentos, extrapola a ideia de sobrevivência e passa a ser fruto da banalização de um mundo onde armas se tornam extensões do corpo masculino. Essa dualidade coloca o leitor em uma posição desconfortável, levando-o a refletir sobre a real utilidade do armamento.

Bicho Selvagem” é uma leitura inquietante e perturbadora, mas não por exibir cenas gráficas explícitas. Na verdade, o quadrinho não apresenta violência de forma direta, ao menos de forma física; mas, ainda assim, ela é constante, permeando cada página. A violência está nas ações, nos diálogos e nas posturas dos personagens, que frequentemente despertam raiva e revolta no leitor – ou, ao menos, deveriam.

A obra vai além do entretenimento, abordando temas profundos como homofobia, racismo, sensacionalismo midiático e diversas formas de violência.

Publicado pela Veneta, o quadrinho é um chamado à reflexão sobre os mecanismos que estruturam nossa sociedade. O que torna tudo ainda mais impactante é o fato de que a história narrada não é totalmente distópica. Pelo contrário, os acontecimentos poderiam facilmente estar estampados nas manchetes de jornais como um caso real nos dias de hoje.

Bicho Selvagem” critica não apenas a normalização da violência, mas também o papel da mídia no espetáculo que ela promove. Notícias sensacionalistas, com manchetes manipuladoras, transformam tragédias humanas em entretenimento barato, enquanto falsos herois são fabricados e as causas reais dos problemas permanecem negligenciadas.

Essa abordagem ecoa debates contemporâneos sobre como a mídia molda percepções e perpetua ciclos de medo e desinformação quando age de forma irresponsável.


A obra não faz concessões. Magô Pool explora as múltiplas faces da violência – estrutural, simbólica e física – e questiona as narrativas que sustentam a sociedade contemporânea. Seus personagens, que poderiam ser meras caricaturas, infelizmente, refletem uma sociedade marcada pela estupidez e pela insensibilidade. Ao criticar a banalização das armas de fogo, a autora entrega um fim nimpactante, capaz de revirar o estômago, tornando “Bicho Selvagem” um espelho perturbador – e necessário – do mundo em que vivemos.

Bicho Selvagem
Onde encontrar: veneta.com.br/

Valor: R$ 59,90

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