Uso de IA em filmes favoritos ao Oscar alimenta controvérsia

Para dar assistência às vozes, plataforma ucraniana de inteligência artificial foi usada em "O Brutalista" e "Emilia Pérez", favoritos ao Oscar 2025

12:11 | Jan. 20, 2025

Por: Arthur Gadelha
Cena de O Brutalista, de Brady Corbet, com Adrien Brody (foto: Divulgação/Universal Pictures)

Uma semana após a vitória de Adrien Brody como Melhor Ator em Filme de Drama no Globo de Ouro, o montador de “O Brutalista”, Dávid Jancsó, revelou que a equipe criativa do filme utilizou uma inteligência artificial (IA) para aprimorar o seu sotaque húngaro com objetivo de que ele parecesse um “falante nativo”.

Revelou também que ele próprio, natural da Hungria, alimentou sua voz para treinar o modelo de IA utilizada.

Desde então, o debate sobre essa tecnologia vem ganhando um espaço ainda bastante tímido pela internet ao apontar que vários outros filmes também a utilizaram – como o musical francês “Emilia Pérez”, por exemplo, principal concorrente do Brasil na categoria internacional do Oscar.

Cyril Holtz, designer de som do filme que trabalhou inclusive no brasileiro “Bacurau”, disse que a equipe utilizou uma “tecnologia de clonagem vocal” nas partes cantadas, reafirmando que esse processo não substituiu a profissão de ninguém.

De origem ucraniana, a empresa Respeecher afirma que sua equipe está “comprometida no desenvolvimento ético da clonagem de voz”.

Com um longo catálogo de clientes, o site oficial da companhia apresenta alguns exemplos do seu trabalho, como a recriação digital da voz de Elvis Presley e o rejuvenescimento da voz de Mark Hamill para a aparição de Luke Skywalker em “The Mandalorian”, da Disney+.

Uso de IA na indústria cinematográfica

Na mesma entrevista, Jancsó defende que o uso de IA não deveria ser controverso, apontando que a tecnologia só torna o processo mais rápido. Para além do critério artístico, porém, a indústria americana não aparenta querer se desviar dessa discussão – a reforça, pelo contrário.

Em 2023, as greves conjuntas de roteiristas e atores nos Estados Unidos teve como um dos pilares de protesto a proteção contra a substituição dos seus trabalhos por inteligências artificiais, cláusula sustentada até o fim pelos acionistas dos grandes estúdios de Hollywood.

Em 2024, o CEO da Disney, Bob Iger, foi assertivo quanto ao aprimoramento dessa tecnologia dentro da empresa para os próximos anos.

Influência na corrida para o Oscar

Em um fórum online, uma pessoa questiona: “Isso afetará 'O Brutalista' e 'Emilia Pérez' na hora de vencer a corrida?”. Por enquanto, às vésperas do anúncio dos indicados ao Oscar 2025, nenhum ator ou representante do sindicato americano se pronunciou a respeito.

Paul Schrader, roteirista de clássicos renomados como “Taxi Driver”, defendeu o uso da tecnologia em uma publicação feita nesta sexta-feira, 17: "Por que os escritores devem ficar sentados por meses quando a IA pode dar uma ideia em segundos?"

Em entrevista concedida em 2022, a diretora de arte de “O Brutalista”, Judy Becker, havia revelado que um arquiteto consultor criou imagens de edifícios com a estética brutalista com ajuda do “Midjourney”, plataforma gratuita de inteligência artificial que se tornou popular nos anos seguintes.

A criação, porém, serviu apenas de inspiração para que ilustradores pudessem criar as artes finais do projeto. Apesar disso, Jancsó confirmou ter usado “para criar pequenos detalhes” visuais que a equipe não tinha “dinheiro ou tempo para fotografar”.

Dirigido por Brady Corbet, “O Brutalista” acompanha a história fictícia de László Tóth, um arquiteto húngaro que foge da Europa pós-guerra para reconstruir seu legado na América. Está previsto para chegar aos cinemas brasileiros no dia 20 de fevereiro.