Disney+: 'Agatha Desde Sempre' usa magia para fugir do multiverso
"Agatha Desde Sempre" mostra complexidade humana por meio de uma história cheia de referências a bruxas da cultura popAnos depois do acontecimento que levou a cidade fictícia de Westview a ser cativeiro de Wanda (Elizabeth Olsen) em “WandaVision” (2021), a bruxa Agatha (Kathryn Hahn) recebe uma missão peculiar quando um adolescente misterioso surge em sua porta a pedindo que o leve pelo “Caminho das Bruxas”. Assim inicia a minissérie “Agatha Desde Sempre”.
A produção chegou ao Disney+ sem levantar muito hype ou expectativa do público da Marvel Studios, já desgastados pela falta de qualidade presentes em obras como “Invasão Secreta” (2023) e “Homem-Formiga: Quantumania” (2023). E essa sensação beneficiou a recepção positiva da série.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
Com referências a filmes de bruxas como “Abracadabra” (1993), “Jovens Bruxas” (1996) e até mesmo “Wicked” (2024), que ainda nem chegou aos cinemas, a narrativa prende a audiência com seu humor ácido e quebra de expectativa ao longo dos episódios que não passam de mais de 40 minutos.
Além disso, a trama criada por Jac Schaeffer mistura muito bem terror com fantasia, dando um gosto leve dos gêneros para quem é fã e ideal para quem tem medo. A imersão no mundo de feitiçaria é facilitada pelo cenário, que felizmente não foi feito todo em CGI e garante qualidade visual. É o tipo de produção que enche os olhos, usando roxo e preto como principais cores da paleta.
Todo o elenco está comprometido em entregar uma boa história de bruxa. Desde a própria Agatha, interpretada por Kathryn Hahn, passando por Billy Kaplan, vivido por Joe Locke e as bruxas que completam o coven: Rio Vidal (Aubrey Plaza), Lilia Calderu (Patti LuPone), Jennifer Kale (Sasheer Zamata), Alice Wu-Gulliver (Ali Ahn) e Ms. Hart (Debra Jo Rupp). Ninguém se sobressai nem ninguém some da tela.
Diferente das últimas produções do Universo Cinematográfico da Marvel, como “As Marvels” (2023), a minissérie não teve medo de ousar. Já no primeiro episódio, a história apresentava um subtexto LGBTQIAP+ com um caso não resolvido entre Agatha e Rio, além da representatividade queer explícita com Billy, que assume sua sexualidade também desde o início.
"Agatha Desde Sempre" quebra padrão narrativo
Assim como fez “Mulher-Hulk” (2022), “Agatha Desde Sempre” conseguiu nadar contra a corrente das narrativas “padrão de sucesso” da Marvel - como “Deadpool 3” - ao fugir de tudo aquilo que o público nerd gosta: homens brancos lutando entre em si e piadas de alívio cômico. Com uma trilha sonora impecável, a bruxa má mostrou que nem todos são 100% vítimas, heróis ou vilões.
Escapar da narrativa de multiverso a qual o UCM tem se agarrado em suas últimas produções é o principal triunfo da série, para além de "lacres" e quebras de tabus. O espectador sabe que a trama terá ligação com as outras obras do universo cinematográfico, apesar de não saber ainda com qual e como. E talvez seja essa a verdadeira magia presente nos 9 episódios de “Agatha Desde Sempre”, disponíveis no Disney+.