Gilmar de Carvalho: quem foi o professor homenageado pela UFC

Universidade Federal do Ceará concedeu o título de professor emérito ao pesquisador durante a 23ª Semana de Comunicação. Conheça vida e carreira de Gilmar de Carvalho

Gilmar de Carvalho foi agraciado com o título honorífico de Professor Emérito pelo reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Custódio Almeida, nesta segunda-feira, 21. A cerimônia ocorreu durante a mesa de abertura da 23ª Semana de Comunicação (Secom) da UFC, que segue com programação diária até a sexta-feira, 25.

Uma carta para Gilmar; LEIA a coluna de opinião de Magela Lima

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O homenageado era docente aposentado do curso de Jornalismo da Universidade e morreu em 17 de abril de 2021 após passar 29 dias internado devido à Covid-19. Natural de Sobral e nascido em 1949, Carvalho ingressou como professor da UFC ainda em 1984.

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Além de docente, Francisco Gilmar Cavalcante de Carvalho foi jornalista, escritor, publicitário, pesquisador e curador.

Professor Emérito: o que significa o título?

A Universidade Federal do Ceará concede a homenagem emérita ao docente aposentado na instituição que tenha se destacado em ações relevantes e se dedicado integralmente nas áreas de ensino, pesquisa e extensão. No caso do nomeado da vez, o título foi atribuído a categoria “in memoriam” e recebido pelo fotógrafo Francisco Sousa, pesquisador e marido de Gilmar de Carvalho.

Ao longo de sua história, a universidade cearense agraciou outros 106 professores na classificação de eméritos e, agora, Carvalho integra a lista.

Em 2019, o docente recusou o recebimento do título de Doutor Honoris Causa da UFC. O motivo da rejeição por Carvalho foi a nomeação de Cândido Albuquerque para reitor da instituição por Jair Bolsonaro, ex-presidente da República, ação que ignorou o resultado da consulta interna da comunidade acadêmica.

Vida e carreira de Gilmar de Carvalho

Gilmar de Carvalho era bacharel em Direito e em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará (UFC), mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo e doutor em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Em sua trajetória, lecionou no Departamento de Comunicação Social da UFC até 2010 e integrava o Programa de Pós-Graduação em Sociologia no mesmo local.

Nascido em Sobral, em 1949, Gilmar de Carvalho mudou-se para Fortaleza com a família com menos de dois anos de idade.

Em entrevista ao O POVO em 2020, Gilmar contou que cursou Direito, de 1967 a 1971, por influência do pai, o qual foi promotor de justiça e faleceu dois meses antes da colação de grau de seu filho. “O sonho dele era que eu fosse do campo do Direito. Nunca tive vocação”, afirmou durante a conversa.

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Em 1969, ele prestou vestibular para Comunicação Social, na mesma instituição, e formou-se em 1972. Inicialmente, Gilmar de Carvalho trabalhou como cronista na Gazeta de Notícias. Ele também foi editor do tabloide Balaio, mas saiu quando o jornal foi vendido.

Após a saída, o comunicador trabalhou durante sete anos em agências de publicidade – Scala e Mark Propaganda – até prestar concurso público para professor de jornalismo impresso na UFC em 1981. Ele assumiu o cargo em 1984 e relatou ter sofrido homofobia no início da docência, contando com o apoio dos alunos para reverter o quadro: "Parte dos professores, meus futuros colegas, não queria que eu fosse chamado porque era gay".

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Obra de Gilmar de Carvalho

Em 1976, quando viaja para a região cearense do Cariri com um amigo, Gilmar de Carvalho começa a se interessar pelo estudo da cultura popular do interior do Estado. Durante seu mestrado na PUC-SP, voltou a Juazeiro do Norte para pesquisar Padre Cícero no cordel e na xilogravura.

Desde então, ele passou a publicar suas obras sobre esse eixo e o acervo é composto por mais de 50 livros, variando entre os gêneros jornalísticos e literários.

Ele também foi referência no estudo sobre o poeta Patativa do Assaré. Ao todo, Gilmar possui 10 livros publicados sobre o repentista, sendo alguns deles: “Patativa do Assaré- Antologia Poética”, “Patativa do Assaré - o sertão dentro de mim” e “Patativa do Assaré - um poeta cidadão”.

No ano anterior ao falecimento, o pesquisador ainda publicou um especial de 111 anos do poeta intitulado "O melhor do Patativa do Assaré". O livro foi publicado pela Secretaria de Cultura do Ceará em março de 2020 e reuniu 50 poemas e textos de convidados organizados por Gilmar de Carvalho.

Em 2019, em entrevista concedida ao também pesquisador Rafael Hofmeister, Gilmar de Carvalho destacou uma série de obras no campo das manifestações populares. "Artes da Tradição- Mestres do Povo" (2005), "Mestres da Cultura Tradicional Popular do Ceará" (2006), "Moisés Matias de Moura" (2011) e "A Xilogravura de Juazeiro do Norte" (2014) são alguns dos destaques de Gilmar.

O pesquisador, que destinou seus estudos para o campo da cultura popular, registrando os saberes tradicionais, estava preparando o livro “Poéticas da Voz – Aboios, Benditos, Cantoria, Cordel, Emboladas, Loas, Saraus, Torém, Trovas” no ano de seu falecimento. O material tratava da arte do cordel no Ceará desde o século XIX.

Outras homenagens

O Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), da Universidade de São Paulo (USP), promoveu o seminário “Gilmar de Carvalho: Devoção e Pesquisa” em 2021. O evento ocorreu virtualmente, após um mês de seu falecimento, e estiveram presentes o escritor e jornalista Jocélio Silvério Trevisan, a cantora lírica e pesquisadora Anna Maria Kieffer e a professora de Literatura Brasileira da UFC e curadora do Acervo Federal Cearense Neuma Barreto Cavalcante.

O seminário teve por objetivo evidenciar a contribuição e trajetória do pesquisador a partir da visão de seus colegas próximos. A personalidade cearense também recebeu um filme em sua homenagem no mesmo ano. “Gilmar”, produzido pela TV Unifor, foi exibido pela primeira vez no Cineteatro São Luiz, durante a programação dedicada a ele e à cultura popular.

As homenagens póstumas de colegas de profissão, ex-alunos e amigos do pesquisador foram reunidas pela Secretaria da Cultura do Ceará, dando origem ao livro "MEMORIAL - Gilmar de Carvalho". A publicação de 2021, idealizada por Mona Gadelha (jornalista) e Fábio Piúba (ex-secretário da cultura do Ceará), conta com mais de 60 depoimentos lançados pela imprensa ou nas redes sociais após a sua partida e com fotografias do estudioso durante suas pesquisas de campo.

Em 2022, o XIV Encontro de Mestres do Mundo prestou tributo a Gilmar de Carvalho com o tema “Tesouros de Gilmar - madeira matriz”. Organizado pela Secult Ceará, o evento reuniu os 69 Mestres e Mestras da Cultura, reconhecidos como “Tesouros Vivos” do Estado, além de grupos e coletividades tradicionais. As atividades ocorreram em Fortaleza, Quixadá e Juazeiro do Norte e destacaram sua contribuição na documentação das tradições e saberes populares.

Gilmar também foi reconhecimento no âmbito legislativo com a aprovação da lei nº 17.903, que denomina o Museu de Arte Popular dos Mestres e Mestras da Cultura do Ceará como Museu Professor Gilmar de Carvalho. Idealizada pelo deputado estadual Renato Roseno (Psol) e sancionada pelo ex-governador do Ceará Camilo Santana (PT) ainda em 2022, a lei ressalta o papel do pesquisador na valorização da cultura popular e dos Tesouros Vivos do estado cearense.

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