Escritor cearense participa de ciclo de palestras em Portugal

Jornalista participa de evento na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e é o único representante do Ceará

19:46 | Out. 21, 2024

Por: Sofia Herrero
Único representante do Ceará, jornalista participa de evento em faculdade de Lisboa (foto: Diego Gregório / Divulgação)

O escritor e jornalista cearense Diego Gregório vai participar de um ciclo de seminários na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, instituição fundada em 1911.

As atividades ocorrerão durante o mês de novembro e Diego participará dos seminários “Língua Portuguesa e Linguagens Literárias” e “Comunicação e Contatos Interculturais”. Além disso, após o seminário, ele frequentará um programa com ênfase em “Multiculturalismo e Dinâmicas Interculturais” e “Estudos de Cultura: Contextos e Usos da Língua Portuguesa”.

Para Diego, a discussão sobre multiculturalismo e dinâmicas culturais no ambiente literário é fundamental, especialmente em um mundo cada vez mais globalizado e interconectado. “Acredito que essas discussões ampliam os horizontes da literatura. Posso citar o ‘Torto Arado’, que levou as desventuras do sertão nordestino para os franceses, talvez com perspectivas e vozes que nunca tinham sido ouvidas por aquelas pessoas", conta o autor.

Ele afirma que com seu trabalho atual de crônicas e poesias, gosta de explorar a convivência entre seres humanos que um dia possam ter se amado ou que venham a se amar. "Acho que é um assunto que ultrapassa culturas, especialmente em espaços urbanos, que são pontos de experiências diversas no que diz respeito ao amor romântico”, segue contando.

O jornalista lançou, em 2022, sua primeira obra, “Coisas que você mesmo poderia ter dito”, um livro de poesias sobre “o cotidiano do amor, chegadas, partidas e permanências”. Atualmente, Gregório está na fase de produção de seu segundo livro.

Confira abaixo a entrevista com o autor:

O POVO - Como você enxerga o cenário atual da literatura cearense? Quais são os principais desafios que os escritores locais enfrentam?

Diego Gregório - Vejo que o cenário da literatura cearense está se fortalecendo cada vez mais. As pessoas que produzem literatura estão se esforçando para que essa voz chegue ainda mais longe, fure bolhas, navegue mares, pule muros e chegue até a “sala de jantar”. Mas também penso que, às vezes, seria muito bom lutar um pouco menos e aproveitar mais o gozo que é lançar e ser lido. Há também uma certa barreira de acesso a editoras e circuitos literários maiores. Mas essa é uma conversa longa. Nem sempre o melhor livro é o livro que será mais lido. É preciso ter contatos, apelo publicitário, comercial e disposição. Cabe escolher o destino que você quer dar ao que escreve.

OP - Seu primeiro livro, "Coisas que você mesmo poderia ter dito", foi lançado em 2022. Pode nos contar sobre o processo de criação dessa obra e quais temas centrais ela aborda?

Diego - Meu primeiro livro foi um processo de busca e descoberta. Eu buscava tanto a escrita em mim quanto o significado de alguns sentimentos. A poesia é mais difícil de ser lida porque nela não se encontra uma resposta fácil. Ela não resolve uma equação, ela complica a sua equação. No livro, abordo temas como a transitoriedade das relações humanas, o sentimento de incompletude e as pequenas coisas do cotidiano que nos afetam profundamente, mesmo quando parecem insignificantes. Acho que o grande mistério, a pergunta que eu sempre farei, é: o amor, assim como a poesia, aprisiona ou liberta?

OP - Você está em fase de produção de um novo livro. O que podemos esperar dessa nova obra? Ela segue o mesmo estilo do seu primeiro livro ou você está explorando novos caminhos literários?

Diego - Há sempre uma musa por trás de um quadro pintado ou de um poema escrito. Essa inspiração dita o rumo, né? Eu exploro novas dimensões desse caminho, mas sinto que o novo livro encerra um ciclo. Poesia é diferente. Mesmo quem lê muito literatura, não lê tanto poesia. A estrutura narrativa é diferente, menos linear e mais fragmentada. E tem algo que me preocupa: os livros estão fazendo muito sucesso, a última Bienal de São Paulo bateu recordes, mas, se formos observar, são palavras muito fáceis, textos que poderiam ser um tweet. Nem sempre, mas a literatura precisa ter densidade.

OP: Quais são as contribuições que você deseja trazer de volta para a cena literária cearense após essa experiência em Lisboa?

Diego: Lisboa é uma das cidades do mundo com o maior número de livrarias por habitante. Isso me emociona e me entristece. Quantas temos em Fortaleza? Por que lamentamos tanto quando fecham e não as frequentamos quando estão abertas? Quero trazer para cá a visão de que os livros devem circular pela cidade junto com as pessoas. De que as pessoas que leem são mais charmosas, que recitar um poema pode ser uma ótima forma de conquistar alguém. Que nos livros aprendemos quem somos e até onde podemos ir. Isso aconteceu comigo: houve um momento em que eu não tinha mais nada, mas tinha a poesia. E aqui estou.