Cid Moreira negou insatisfação com saída do JN ao Vida&Arte; leia

Em entrevista ao Vida&Arte em 1996, o apresentador Cid Moreira negou estar insatisfeito com saída do Jornal Nacional após ser substituído por William Bonner

Uma das vozes mais marcantes do jornalismo brasileiro, o locutor e apresentador Cid Moreira deixou legado importante na área da comunicação no País.

O jornalista, que morreu nesta quinta-feira, 3, aos 97 anos, chegou a dizer em entrevista ao Vida&Arte que achava ter representado “uma fase do telejornalismo do País”.

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Principal apresentador do Jornal Nacional por quase três décadas, Cid Moreira foi substituído do programa em 1996 em meio a mudanças no formato.

O Vida&Arte entrevistou o profissional na época. Ele afirmou que “mudanças eram naturais” e que “saía sem reclamar” diante da troca por William Bonner.

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Ao jornalista Jocélio Leal, Moreira negou qualquer insatisfação com a saída e destacou seu trabalho no Jornal Nacional.

Confira na íntegra a entrevista “O Neo Cid”, de 12 de março de 1996

Ele foi o principal apresentador do telejornal mais visto no País durante 26 anos e meio. Acabou vencido pelo novo formato do Jornal Nacional, da Rede Globo: jornalistas lendo notícias para dar mais credibilidade. No dia 1º de abril assumem William Bonner e Lilian Wite Fibe. Mas, Cid Moreira, 68, acredita que “credibilidade não se impõe, se adquire”.

Ele, que agora vai se limitar a locutor oficial dos editoriais da emissora, nega qualquer insatisfação com a saída. “Eu iria ficar até quando apresentando? Até os 80?”, indaga como se procurasse uma justificativa. El Cid faz questão de garantir que a substituição já era esperada e costuma se referir à Rede Globo como Família Marinho.

 

Ontem à tarde, num raro intervalo de sua agenda de comerciais e locuções de vídeos, um Cid Moreira reservado, mas atencioso, conversou com O POVO, por telefone, do Rio de Janeiro.

O POVO - Como está sendo a sua saída do Jornal Nacional, após quase 30 anos?

Cid Moreira - Foi natural e previsível. Tudo foi decidido em comum acordo com a direção da emissora. Todos estão felizes e sem nenhuma mágoa. A alteração vem sendo estudada já há algum tempo entre mim e a empresa, numa relação amigável. Não tenho do que reclamar. Pela primeira vez vou ter um contrato de quatro anos, com possibilidade de ampliar para cinco. Antes os contratos eram de no máximo dois anos. Se bem que na minha relação com a família Marinho o contrato acaba não sendo uma coisa primordial, é mais uma coisa formal.

OP - O senhor acha que está saindo no tempo certo?

CM - É tudo natural, depois de 26 anos e meio fazendo o Jornal Nacional. Eu iria ficar até quando apresentando? Até os 80? Já tenho tudo o que preciso. Entrei para o Guinness Book há três anos.

OP - Então o senhor nega que tenha ido à Roberto Marinho pedir para reverter o afastamento?

CM - Sim, nego. Tudo isso é mentira que inventaram.

OP - Ficou claro para o senhor o que vai fazer daqui para frente?

CM - No contrato que assinei ficou definido que eu serei o locutor oficial dos editoriais da família Marinho. Vou aparecer lendo os editoriais. Consta no contrato: apresentador de editoriais. Certamente vou aparecer sempre que a emissora decidir se pronunciar.

OP - O senhor acredita que sua popularidade está comprometida com a sua saída do JN?

CM - É uma coisa que não dá para dizer com certeza. Eu acho que não. Se entro, como se diz, na casa das pessoas todos os dias, é natural que haja essa empatia. Eu acho que as pessoas nunca esquecem.

OP - O formato do Jornal Nacional foi muito criticado por não seguir a tendência de outras emissoras, não dar espaço para opinião. As mudanças adotam este novo modelo? O senhor acredita que está mudando tarde?

CM - Nunca é tarde para mudar (risos). Eu não saberia dizer.

OP - Um dos argumentos para troca dos apresentadores do JN seria a maior credibilidade que jornalistas possuem ao lerem as notícias. O senhor concorda com isso?

CM - Não, porque credibilidade não se impõe, se adquire. Depende de como cada um é visto pelo público. O maior jornalista do mundo pode não conseguir deixar transparecer credibilidade junto ao público. É uma coisa difícil de dizer.

OP - Está previsto algum registro no ar, como um clipe, para marcar a sua despedida?

CM - Se houver é surpresa. Mas sou uma pessoa muito querida tanto pelos colegas de trabalho como pela família Marinho. Sempre que eu sou o foco das atenções, eu perco a voz. Foi assim no dia do meu aniversário, quando inauguraram a sala dos apresentadores na emissora.

OP - Durante todo esse tempo como apresentador do JN, o senhor chegou a se emocionar durante a apresentação? Chegou a chorar?

CM - Já cheguei a embargar a voz. Chorar, não. Eu sou a mesma pessoa quando estou lendo uma notícia. Aquela emoção que eu passo é a minha emoção. Quando eu vejo as gravações do jornal percebo que aquilo sou eu mesmo de dentro para fora. Quem está em contato com o público tem que transmitir sensibilidade.

OP - De que forma o senhor acha que influenciou o padrão dos apresentadores dos demais telejornais?

CM - Eu não saberia dizer, mas espero ter influenciado.

OP - O senhor considera a sua saída um marco nos telejornais brasileiros?

CM - É uma coisa difícil de dizer. Mas eu acho que representei uma fase do telejornalismo do País.

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