Morre Urik Paiva, escritor cearense radicado em BH, aos 35 anos

Cearense radicado em Belo Horizonte, Urik Paiva faleceu na segunda-feira, 23; escritor colaborou com crônicas para o Vida&Arte

O escritor Urik Paiva faleceu na segunda-feira, 23, aos 35 anos. Cearense radicado em Belo Horizonte (MG), foi nome atuante no setor cultural, também tendo colaborado com textos para o Vida&Arte e revistas literárias de Fortaleza.

Formado no curso de Letras da Universidade Estadual do Ceará (Uece), iniciou a trajetória profissional em 2008 como estagiário de Políticas de Literatura, Livro e Leitura da Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor).

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Em 2010, aos 20 anos, assumiu a coordenação do setor, onde ficou até 2012. Márcio Caetano, secretário executivo da Pasta à época, afirma que o cearense executou editais e auxiliou na estruturação de bibliotecas regionais.

“Foi um gestor jovem muito competente, que se articulava bem na Cidade com os agentes que mais estavam nesse campo. Como amigo, era um dos mais bacanas, muito bem-humorado, inteligente. Era o nosso menino, vamos dizer assim, mas tinha um repertório de bibliografia muito raro para uma pessoa da idade dele”, elenca.

De acordo com Márcio, o escritor era "interessado em conhecimento" e manteve um "campo de relação” extenso na área cultural. "O afeto dele era muito forte, fazia festa onde chegava", pontua.

Com residência fixa em Minas Gerais na última década, ele transitou por diferentes linguagens artísticas. Fez parte da editora Aletra, em Belo Horizonte, durante os anos de 2013 e 2014. Também fez a curadoria da Feira Índice, do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.

A jornalista Ethel de Paula relembra “genialidade” do profissional e “fome de vida” do amigo.

“Achavam que era menino, mas nasceu velho, sábio, astuto como ele só. Tinha febre e fome de vida, contagiantes. Soube direitinho cultivar raízes, mas também ser redemoinho de desejos intempestivos, fidelíssimo a si mesmo. Munido de palavras, inventou um modo próprio de aferir a temperatura das coisas. Amou a vida, apesar de tudo. Por isso, era imperativo rir de si e com o outro, dando asas a uma inteligência rara, irresistível, iridescente”, relata em depoimento ao V&A.

Urik realizava elaboração e avaliação de projetos culturais, assim como revisão de textos. Estudava psicanálise no Instituto Internacional de Psicanálise e, em setembro, promoveu a oficina “Tectônicas da Palavra: Linguagem em Movimento”, com aulas virtuais sobre a escrita.

As obras lançadas contam com “Geografia Epistolar” (2021), livro de cartas literárias escritas durante a pandemia da covid-19 e organizado ao lado de Pedro Rena. Nos últimos meses, estava organizando projeto literário aprovado na Lei Paulo Gustavo. Informações sobre o velório não foram divulgadas.

Leia o depoimento da jornalista Ethel de Paula na íntegra:

"Achavam que era menino, mas nasceu velho, sábio, astuto como ele só. Tinha febre e fome de vida, contagiantes. Soube direitinho cultivar raízes, mas também ser redemoinho de desejos intempestivos, fidelíssimo a si mesmo. Munido de palavras, inventou um modo próprio de aferir a temperatura das coisas. Amou a vida, apesar de tudo. Por isso, era imperativo rir de si e com o outro, dando asas a uma inteligência rara, irresistível, iridescente. Inimigo mortal de clichês e pieguices, criou imagens rascantes para desafiar o coro dos contentes, entortando narrativas a seu bel prazer. Pequenas fulgurações dessa mente em transe estão espalhadas em recadinhos via Whatsapp, nas nuvens, no insta, mas também em gavetas e sobre papel. Procuremos, portanto, o romance in progress em algum escaninho entre BH e Fortaleza, as duas paragens que ele escolheu para esculpir a própria existência como obra de arte. De antemão, saibam que a intenção não era outra se não desbancar James Joyce. Coisa de gente que não veio ao mundo para figuração. Nosso “prin” foi muitos e ainda será. Dentro de nós, é festa, eter-na-mente. Cuida, Ulisses!"

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