Volta Priscila: série trata desaparecimento com respeito à história

Vida&Arte assistiu com antecedência os quatro episódios da nova série documental do serviço de streaming Disney+, "Volta Priscila", que conta a história do intrigante desaparecimento, em 2024, da irmã do lutador de UFC Vitor Belfort

19:30 | Set. 24, 2024

Por: Jansen Lucas
Desaparecimento de Priscila Belfort será abordado em nova série documental da Disney+ (foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)

Em 9 de janeiro de 2004, Priscila Belfort, irmã do lutador Vitor Belfort, desapareceu misteriosamente em uma das avenidas mais movimentadas do Rio de Janeiro, sem deixar qualquer rastro.

O caso, que comoveu o país, permanece sem solução até hoje, figurando entre os milhares de desaparecimentos não resolvidos no Brasil.

A nova série documental “Volta Priscila”, do Disney+, é o primeiro projeto true crime original da plataforma e mergulha nesse mistério em quatro episódios.

A produção retrata o sofrimento da família Belfort e a busca incansável da polícia por respostas sobre a estudante de arquitetura desaparecida há 20 anos.

Com depoimentos inéditos e teorias recentes, o documentário é dirigido por Eduardo Rajabally e Bruna Rodrigues, e explora os enigmas em torno de um dos desaparecimentos mais marcantes do País.

As séries de crimes reais costumam ser bastante populares nas plataformas de streaming, muitas vezes levantando questionamentos sobre o sensacionalismo em torno dessas tragédias.

“Volta Priscila”, porém, foge dessa armadilha, optando por um tratamento cuidadoso e respeitoso da história. Um dos aspectos mais poderosos é o envolvimento de Jovita Belfort, mãe de Priscila, e de outros familiares, o que dá uma dimensão mais humana ao caso e afasta a narrativa do espetáculo.

Vitor Belfort aparece em vários momentos ao longo da série, revelando um lado desconhecido do famoso lutador de UFC. Ele compartilha as batalhas psicológicas que enfrentou durante o angustiante desaparecimento de sua irmã, trazendo à tona a vulnerabilidade por trás da “estrela” do boxe nacional.

Os relatos emocionantes de Vitor, sua mãe, Jovita, e sua esposa, Joana Prado, são intensos e comoventes. Com uma edição que alterna entre vídeos caseiros de Priscila e depoimentos de amigos, familiares e jornalistas que cobriram o caso, o documentário constrói uma narrativa que explora a repercussão midiática da época.

A série não apenas aborda o sofrimento da família, mas também faz uma crítica, mesmo que discreta, à mídia sensacionalista, que muitas vezes explora o drama de maneira exagerada, mesmo quando a intenção era ajudar.

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A vasta quantidade de material de arquivos pessoais exibido no documentário amplia a empatia do espectador, permitindo uma conexão mais profunda com a dor daqueles que convivem com o desaparecimento de um ente querido. O público, então, é levado a compreender, ainda que parcialmente, o sofrimento dessas famílias.

“Volta Priscila” também expõe as falhas que prejudicaram as investigações, como o volume de denúncias falsas e informações desencontradas que desviaram o foco do caso. Um exemplo marcante é o de uma mulher que afirmou estar envolvida no desaparecimento apenas para tentar se aproximar romanticamente do delegado responsável.

Este é apenas um dos muitos episódios que contribuíram para a frustração e a complexidade do processo investigativo.

Apesar de ser mais um relato triste de um desaparecimento sem solução no Brasil, a série encerra com uma mensagem de força e resiliência. Ao chegar ao seu final, “Volta Priscila” mostra que transformar a dor em luta é uma forma de seguir em frente, sem jamais abandonar a busca por justiça.

A criação da Lei de Desaparecidos (Lei n.º 13.812/2019), inspirada por casos como o de Priscila Belfort, é uma demonstração de que essa luta continua viva, honrando sua memória.

Série true crime 'Volta Priscila'