Quadrinho de Adrian Tomine relata imperfeições do cotidiano urbano

Lançado em setembro pela editora Nemo, quadrinho "Pontos Fracos" recusa apelos emocionais para retratar história impactante

Conhecido por retratar a vida urbana com um olhar crítico, ácido e minimalista, o norte-americano, Adrian Tomine é um dos principais quadrinistas da atualidade.

Suas duas obras mais reconhecidas, "Killing and Dying" (2015) e o novo lançamento pela editora Nemo, "Pontos Fracos", exemplificam essa abordagem direta, sem apelos emocionais ou exageros visuais.

É + que streaming. É arte, cultura e história.

+ filmes, séries e documentários

+ reportagens interativas

+ colunistas exclusivos

"Pontos Fracos" acompanha o protagonista Ben Tanaka, um asiático-americano de quase 30 anos que enfrenta uma crise de identidade enquanto tenta lidar com seus desejos íntimos, expectativas sociais e culturais, além de uma crise em seu relacionamento com sua namorada, Miko.

A narrativa explora as nuances e tensões dos relacionamentos, ao mesmo tempo em que retrata a alienação e o desconforto de Ben, cuja identidade é constantemente questionada por ele mesmo.

Os traços minimalistas de Tomine conversam com a frieza emocional dos personagens, assim como os diálogos presentes na obra. Direto ao ponto, Tomine evita rodeios desnecessários.

As expressões contidas e os silêncios que permeiam as interações entre os personagens revelam tanto quanto os diálogos, permitindo que o leitor perceba as tensões subjacentes.

"Pontos Fracos" apresenta humanidade nos personagens

Um dos pontos fortes de "Pontos Fracos" é a abordagem honesta e imperfeita dos personagens. Isso é especialmente evidente em Ben, o protagonista cheio de falhas e difícil de simpatizar, quase como se Tomine quisesse que o público o rejeitasse.

Ben é um mestre em complicar situações simples. Crítico de clichês raciais e extremamente irônico, ele é obcecado por suas próprias frustrações, sem perceber que seus desejos mais íntimos podem ser vistos da mesma forma das ações que ele tanto critica.

Os poucos momentos de interação entre Ben e sua namorada, Miko Hayashi, intensificam nossa antipatia por ele. Fora desses momentos, esse sentimento se agrava ainda mais.

Apesar de não mostrar ações concretas do protagonista, o autor nos faz entender que, muitas vezes, o que não é dito ou é feito diretamente pode ser ainda mais impactante.

Ben é constantemente confrontado por Alice Kim, sua amiga lésbica, que, apesar de oferecer suporte, critica a negatividade e o cinismo do amigo. Essa dinâmica reflete os conflitos internos de Ben em lidar com sua identidade asiático-americana e os desafios de viver em uma sociedade marcada por estereótipos raciais e culturais.

No entanto, ao observar o “quadro completo”, percebemos que essa representação honesta não se limita a Ben. O roteiro, embora não apresente grandes reviravoltas, prende o leitor e faz questão de mostrar que não se trata de uma história tradicional com vilões e heróis.

Pelo contrário, são muitos os tons de cinza aqui. A obra foca no desenvolvimento dos personagens e nas pequenas frustrações do cotidiano, sem oferecer respostas fáceis ou finais conclusivos, refletindo o caos emocional que permeia as vidas dos personagens.

Tomine consegue abordar com sutileza as tensões vividas por seus personagens enquanto insere um contexto racial dentro de sua narrativa contemporânea, sem embelezar os fatos. Apesar de simples, "Pontos Fracos" é uma obra profundamente reveladora sobre a natureza humana, oferecendo um retrato claro da complexa vida urbana e suas imperfeições.

Quadrinho "Pontos Fracos", de Adrian Tomine

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Tags

literatura

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar