'Ainda Estou Aqui': filme brasileiro é ovacionado por quase 10 minutos em Veneza

Obra do diretor brasileiro Walter Salles revive a ditadura militar no Brasil e homenageia político desaparecido na época. Fernanda Torres está no elenco

13:00 | Set. 01, 2024

Por: Vida&Arte O POVO
Atores e diretor (no canto direito) do filme brasileiro "Ainda Estou Aqui" no tapete vermelho do Festival de Veneza 2024 (foto: Marco Bertorello/ AFP)

"Ainda Estou Aqui", filme brasileiro dirigido por Walter Salles, foi exibido na 81ª edição do Festival de Veneza, na Itália, neste domingo, 1º. O longa foi aplaudido por 9 minutos e 46 segundos pelo público presente na sessão de gala.

A história revive o fantasma da ditadura militar no Brasil e homenageia a mulher de Rubens Paiva, engenheiro e político desaparecido em 1971.

Em plateia com muitos brasileiros, a sessão começou atrasada, mas o filme emocionou o público presente. Foi possível ouvir pessoas chorando no final, incluindo o diretor e os atores Selton Mello e Fernanda Torres.

'Ainda Estou Aqui' em Veneza: Fernanda Torres concorre com Nicole Kidman e Angelina Jolie

Mesmo tendo concorrentes fortes como Nicole Kidman, por "Babygirl", e Angelina Jolie, por "Maria", Fernanda Torres tem chances de levar a Coppa Volpi, prêmio do festival para a atuação feminina.

"Ainda Estou Aqui" é uma espécie de retorno do próprio cineasta, que não lançava um longa de ficção desde a produção em inglês "Na Estrada", de 2012.

'Ainda Estou Aqui': quem foi Rubens Paiva, personagem de Selton Mello?

Paiva foi deputado de esquerda até que a ascensão dos militares em 1964 o levou ao exílio. Retornou inesperadamente ao País, onde retomou a carreira de engenheiro, sem abandonar os contatos com a clandestinidade.

Quando a situação se agravou no Brasil, com ataques e sequestros de grupos de extrema-esquerda e uma sangrenta repressão militar, Paiva foi preso, em janeiro de 1971. Um grupo de homens armados o tirou de sua casa no Rio e ele nunca mais reapareceu.

Sua esposa, Eunice, também foi detida juntamente com uma de suas filhas e passou 12 dias sob interrogatórios.

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Interpretada por Fernanda Torres, e depois pela mãe dela, Fernanda Montenegro, na velhice, Eunice é a mulher que não desiste da busca por seu marido, sem abandonar a educação dos filhos.

"A história de Eunice se confunde com a do Brasil naqueles anos horríveis que vivemos", lembrou Salles em coletiva de imprensa neste domingo. "É isso que me interessa no cinema".

Filme 'Ainda Estou Aqui' é baseado em livro brasileiro

O filme é baseado no livro escrito por um dos filhos do casal, Marcelo Rubens Paiva, em homenagem à mãe incansável, que se reconstruiu como advogada e que posava diante da imprensa sem perder o sorriso.

O mesmo sorriso que mostrou quando finalmente conseguiu, 25 anos depois do desaparecimento do marido, obter a certidão de óbito oficial.

"Ela era uma mulher que enfrentava a tragédia, que evitava os melodramas. Ela não queria chorar na rua com a família. Não queria que seus filhos se tornassem vítimas da ditadura. E a forma como decidiu fazer isso foi com o silêncio e um sorriso. É incrível", refletiu Fernanda Torres na coletiva de imprensa.

"Anos depois, quando a minha mãe adoeceu com Alzheimer, senti que tinha que escrever o livro sobre ela", explicou Marcelo Rubens Paiva, presente na estreia do filme. 

"Foi muito importante escrever esse livro nesse momento porque a democracia está em perigo em todo o mundo", acrescentou o escritor e colunista.

"O cinema é uma ótima ferramenta contra o esquecimento. A literatura também", acrescentou Walter Salles, conhecido por filmes como "Central do Brasil", "Diários de Motocicleta" e "Na Estrada". 

"Nunca pensei que a minha geração veria o ressurgimento da extrema direita", considerou o diretor. (Com agências Estado e AFP)