'Ainda Estou Aqui': filme brasileiro é ovacionado por quase 10 minutos em Veneza
Obra do diretor brasileiro Walter Salles revive a ditadura militar no Brasil e homenageia político desaparecido na época. Fernanda Torres está no elenco"Ainda Estou Aqui", filme brasileiro dirigido por Walter Salles, foi exibido na 81ª edição do Festival de Veneza, na Itália, neste domingo, 1º. O longa foi aplaudido por 9 minutos e 46 segundos pelo público presente na sessão de gala.
A história revive o fantasma da ditadura militar no Brasil e homenageia a mulher de Rubens Paiva, engenheiro e político desaparecido em 1971.
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Em plateia com muitos brasileiros, a sessão começou atrasada, mas o filme emocionou o público presente. Foi possível ouvir pessoas chorando no final, incluindo o diretor e os atores Selton Mello e Fernanda Torres.
'Ainda Estou Aqui' em Veneza: Fernanda Torres concorre com Nicole Kidman e Angelina Jolie
Mesmo tendo concorrentes fortes como Nicole Kidman, por "Babygirl", e Angelina Jolie, por "Maria", Fernanda Torres tem chances de levar a Coppa Volpi, prêmio do festival para a atuação feminina.
"Ainda Estou Aqui" é uma espécie de retorno do próprio cineasta, que não lançava um longa de ficção desde a produção em inglês "Na Estrada", de 2012.
'Ainda Estou Aqui': quem foi Rubens Paiva, personagem de Selton Mello?
Paiva foi deputado de esquerda até que a ascensão dos militares em 1964 o levou ao exílio. Retornou inesperadamente ao País, onde retomou a carreira de engenheiro, sem abandonar os contatos com a clandestinidade.
Quando a situação se agravou no Brasil, com ataques e sequestros de grupos de extrema-esquerda e uma sangrenta repressão militar, Paiva foi preso, em janeiro de 1971. Um grupo de homens armados o tirou de sua casa no Rio e ele nunca mais reapareceu.
Sua esposa, Eunice, também foi detida juntamente com uma de suas filhas e passou 12 dias sob interrogatórios.
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Interpretada por Fernanda Torres, e depois pela mãe dela, Fernanda Montenegro, na velhice, Eunice é a mulher que não desiste da busca por seu marido, sem abandonar a educação dos filhos.
"A história de Eunice se confunde com a do Brasil naqueles anos horríveis que vivemos", lembrou Salles em coletiva de imprensa neste domingo. "É isso que me interessa no cinema".
Filme 'Ainda Estou Aqui' é baseado em livro brasileiro
O filme é baseado no livro escrito por um dos filhos do casal, Marcelo Rubens Paiva, em homenagem à mãe incansável, que se reconstruiu como advogada e que posava diante da imprensa sem perder o sorriso.
O mesmo sorriso que mostrou quando finalmente conseguiu, 25 anos depois do desaparecimento do marido, obter a certidão de óbito oficial.
"Ela era uma mulher que enfrentava a tragédia, que evitava os melodramas. Ela não queria chorar na rua com a família. Não queria que seus filhos se tornassem vítimas da ditadura. E a forma como decidiu fazer isso foi com o silêncio e um sorriso. É incrível", refletiu Fernanda Torres na coletiva de imprensa.
"Anos depois, quando a minha mãe adoeceu com Alzheimer, senti que tinha que escrever o livro sobre ela", explicou Marcelo Rubens Paiva, presente na estreia do filme.
"Foi muito importante escrever esse livro nesse momento porque a democracia está em perigo em todo o mundo", acrescentou o escritor e colunista.
"O cinema é uma ótima ferramenta contra o esquecimento. A literatura também", acrescentou Walter Salles, conhecido por filmes como "Central do Brasil", "Diários de Motocicleta" e "Na Estrada".
"Nunca pensei que a minha geração veria o ressurgimento da extrema direita", considerou o diretor. (Com agências Estado e AFP)