Alien: Romulus: o regresso profano da criatura de terror perfeita

Fede Alvarez consegue trazer originalidade "copiando" fórmula e conceitos no sétimo filme de uma franquia já estabelecida, mas que precisava de um rumo

Escrevi há cerca de dois meses sobre a franquia “Alien” contextualizando sobre como a saga passou de um horror sci-fi para ação, até chegar em um amontoado de filosofias e conceitos sobre a gênese humana, preparando o terreno para o novo lançamento: “Alien: Romulus”.

No final do texto, mencionei qual seria decisão do diretor deste longa, Fede Alvarez, se iria a fundo sobre a origem do homem ou do xenomorfo, a criatura aterrorizante, ou de resgatar o clássico remetente de “Alien: O Oitavo Passageiro” (1979). O cineasta foi por um terceiro caminho, unir os dois, mesmo que pareça contido de certa forma.

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"Alien: Romulus": o horror, a ação, a gênese

A trama desta produção se passa entre os dois primeiros filmes da franquia, o primeiro sendo um magistral terror e o segundo, “Aliens: O Resgate” (1986), uma ação empolgante. Pois bem, “Alien: Romulus” faz uma ótima passagem de gênero entre as duas obras, misturando bem o horror angustiante até um frenético clímax corrido e desconfortável.

A narrativa se concentra em poucos personagens, nem todos envolventes, mas que cumprem o seu papel mesmo que seja de servir a trama rapidamente e engrandecer os demais, e em ambientações fechadas, escuras e claustrofóbicas, como visto no início da franquia.

A sensação de tensão é constante e o design de produção é muito feliz com a vida em que as naves mostram. Em certo ponto do filme nós já estamos ambientados e sabemos nos localizar conhecendo os atalhos.

Com essa pegada mais “fechada” entre cenários e uma história aparente entre caça e presa, Fede Alvarez respeita muito “Alien: O Oitavo Passageiro”, chegando até a dar a sensação de cópia, mas o diretor mostra inovação, seja de ritmo ou até da forma como abordar novamente uma simples perseguição entre xenomorfo e seres humanos. A gravidade, por exemplo, é usada nesta obra como em nenhum filme, mesmo com todos se passando no espaço, bem como os fluidos da criatura.

Fede Alvarez consegue mesclar bem as várias teses apresentadas durante toda a franquia, se mostrando conhecedor do universo Alien, não só em seu terror e ação, mas também suas mitologias. Ele toma cuidado em não alterar ou criar conceitos novos já estabelecidos, porém não tem vergonha de aproveitar o que o universo lhe oferece. Algo que ele fez muito bem no remake “A Morte do Demônio” (2013).

A figura grotesca e fálica remetendo ao psicossexual do xenomorfo tem presença aterrorizante mesmo quando não está em tela. Só a possibilidade de sua presença cria um alerta e impede o telespectador de ficar tranquilo, mas não só ele, Romulus tem outras ameaças nunca antes usadas como aqui, seja pela criatura conhecida ou novas intimidações.

"Alien: Romulus": bebendo da fonte de dois mundos

Mesmo buscando claras referências em “O Oitavo Passageiro” e “Aliens: O Resgate”, o novo filme não tem vergonha de referenciar “Prometheus” e “Covenant”, seja de forma subliminar ou bem clara, pois é ciente dos pontos positivos e negativos destas prequências.

Por conta disso, há esse tom aterrorizante e frenético dos dois primeiros e o bizarro e ousado das últimas empreitadas da franquia, criando assim um “organismo perfeito”, citado em alguns momentos cruciais da saga, entre dois esdrúxulos mundos e formas.

A relação entre humanos e androides parece ter encontrado uma medida ainda não vista na saga. Nos primeiros filmes, a personagem principal Ellen Ripley, vivida por Sigourney Weaver, não dá espaço para outras figuras brilharem.

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Semelhantemente acontece com David, sintético interpretado por Michael Fassbender em “Prometheus” (2012) e “Alien: Covenant” (2017). Nesta nova obra, as motivações entre Rain (Cailee Spaeney) e Andy (David Jonsson) se entrelaçam e complementam à medida que crescem e são entendidas ao longo da trama.

Embora tão semelhante, propositalmente, aos dois primeiros filmes da franquia, Fede Alvarez trouxe elementos das duas prequências mais recentes, tentativas de Ridley Scott, diretor inicial de Alien, de resgatar a saga. T

ais conceitos não são tão aprofundados, mas estão ali, com ótimas referências mais discretas e outras totalmente diretas, no sentido de tentar explicar a origem do xenomorfo ou até da gênese humana, mas se estabelece de forma gradativa a princípio como referência até depois dar totalmente as caras no clímax.

“Alien: Romulus” não mergulha em tudo o que pode nesta trama mais filosófica, embora não ignore e nem tente colocar este filme como definidor da franquia, mas como mencionado, respeita muito tudo já estabelecido e aproveita muito bem as brechas para impor sua marca e acrescentar algo novo, o que deixa espaço para sequências ainda mais interessantes.

No texto anterior mostrei empolgação para que esta nova produção pudesse resgatar as origens do Alien e Romulus assim o fez. Seja no terror claustrofóbico, xenomorfo grotesco e visceral, relação entre humanidade e androide, até mesmo a conexão entre a raça humana com o aterrorizante alienígena. Fede Alvarez conseguiu mostrar que a saga tem espaço para crescer ainda mais em seu rico universo, mas acima de tudo, mostrou que tem rumo.

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