Matheus Nachtergaele: "Os cinemas ocuparão o lugar das igrejas"
Neste sábado, 10, o ator recebeu o Troféu Oscarito no 52º Festival de Gramado e fez um discurso com risos e poesia
16:48 | Ago. 11, 2024
Fui tomado por certo déjà vu quando vi o ator Matheus Nachtergaele subir ao palco do Palácio dos Festivais para receber uma homenagem após a exibição de um vídeo feito pelo Canal Brasil com cenas da sua carreira.
Isso porque o Cine Ceará fez o mesmo há pouco tempo, em 2019, numa noite inesquecível em que Luiz Fernando Guimarães entregou o Troféu Eusélio Oliveira acompanhado de um selinho no palco do Cineteatro São Luiz.
O contexto aqui, no entanto, era mais específico pelas presenças recentes de Matheus no Festival de Gramado. No ano passado esteve no evento como protagonista de “Mais Pesado é o Céu” do cearense Petrus Cariry – que inclusive está agora em cartaz nos cinemas brasileiros –, e em 2021 venceu o Prêmio Especial do Juri pelo seu hipnótico homem-macaco de “Carro Rei”, da Renata Pinheiro, o grande filme daquele ano ainda pandêmico.
“Eu apostei todas as minhas fichas em ser ator. Eu não tenho plano B. Não fiz família, não tenho hobbies, não escalo montanha, não faço aeromodelos. Eu fui ator na hora do cinema brasileiro se retomar, fui recrutado nessa reconstrução”, disse emocionado antes de receber o Troféu Oscarito.
Sua fala é emocionante, de fato, porque grande parte do nosso imaginário sobre o Cinema Brasileiro contemporâneo passa inevitavelmente pela sua figura. Além do eterno "Auto da Compadecida" (2000), esteve em marcos internacionais como "Central do Brasil" (1998) e "Cidade de Deus" (2002), além de tantos outros filmes, séries e até novelas, sempre de forma memorável.
Mais cedo naquela noite, Anna Muylaert apresentou seu novo filme “O Clube das Mulheres de Negócios” questionando como este momento de “tempos tão curtos” estava valorizando a produção norte-americana dos streamings e causando um esvaziamento na imagem do “autor”. Numa rima imediata, Matheus celebrou no palco o fato dele ter feito parte da retomada do nosso cinema, mas com um olhar para o futuro.
“Hoje os filmes moram pouco no cinema. Vão logo para as televisões, para os streamings. O cinema está mudando. Mas os lindos filmes de cinema serão como orações. Um dia os cinemas ocuparão o lugar das igrejas. Os festivais serão terreiros, serão igrejas onde pessoas bem livres estão prontas para rezar em liberdade total”
O 52º Festival de Cinema de Gramado segue até o dia 17 de agosto na Serra Gaúcha homenageado ainda a atriz Vera Fischer, o diretor Jorge Furtado e Mariëtte Rissenbeek, diretora executiva do Festival Internacional de Cinema de Berlim.