35 anos sem Luiz Gonzaga: curiosidades que você não sabia sobre o Rei do Baião

A fuga da sua terra natal, a ligação com o Ceará e a devoção a Padre Cícero. Confira esses e outros fatos da trajetória de vida do Gonzagão

Foi no dia 2 de agosto de 1989 em Recife, capital pernambucana, aos 76 anos, que um dos maiores nomes da música brasileira e da cultura nordestina nos deixava. Luiz Gonzaga, conhecido como o “Rei do Baião”, “Gonzagão” e “Embaixador do Sertão”, foi o responsável pela criação do baião, gênero musical nordestino. Para além, ele apresentou ao mundo o xote, o xaxado e o forró pé de serra.

Em homenagem a Luiz Gonzaga, o dois de agosto é comemorado como o Dia da Cultura Nordestina.

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Seu legado abrange sucessos como “Asa Branca”, “Pagode Russo”, “Vem Morena” e muitos outros. Gonzaga gravou mais de 600 músicas em 266 discos, sendo 53 de sua autoria, 243 com parceria e 331 de outros compositores. Sua influência reflete até hoje em todos os arredores do Brasil.

O Rei do Baião sofria há anos com osteoporose, uma doença que causa a perda progressiva de massa óssea, enfraquecendo os ossos e os tornando mais suscetíveis a fraturas. Além disso, outro fator que debilitou muito a saúde do Gonzagão foi um câncer de próstata.

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No dia 21 de junho de 1989, o cantor foi internado no Hospital Santa Joana, localizado no Recife. Foi lá que ele faleceu pouco mais de um mês depois, por uma parada cardiorrespiratória, deixando uma marca única e muita saudade em nosso país. Veja agora curiosidades sobre a trajetória do Embaixador do Sertão:

Luiz Gonzaga e a fuga da sua terra natal

Luiz Gonzaga do Nascimento nasceu em 13 de dezembro de 1912, na cidade de Exu, em Pernambuco. Criado no sertão nordestino, o menino cresceu vendo o pai, Januário José dos Santos, trabalhar na roça e consertar sanfonas e instrumentos musicais para obter o sustento da família.

A curiosidade e a companhia paterna em diversas festas forrozeiras aumentou o interesse do garoto pela música típica de seu povo e, principalmente, pelo acordeão. Então, ele aprendeu a tocar o instrumento e a se apresentar em bailes, forrós e feiras da região, ao lado do seu pai.

 

Foi na adolescência que o Rei do Baião conheceu o amor, se apaixonando por Nazinha, filha de um dos homens mais importantes da região, o coronel Raimundo Milfont. Quando soube do namoro, o pai dela não aprovou o relacionamento por considerar Luiz “um sanfoneirinho sem futuro”.

Gonzaga, sabendo disso, tirou satisfações com ele meio bêbado e o afrontou com uma faca pequena. O coronel, que também o ameaçou de morte, falou do atrevimento do jovem Gonzaga para a sua mãe e, chegando em casa, ele levou uma surra. Triste e revoltado por não ter permissão para casar com a moça, Luiz Gonzaga resolveu fugir para Crato, no Ceará.

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O Rei do Baião e sua passagem pelo Ceará

A relação de Luiz Gonzaga era muito forte com o estado cearense, principalmente com a região do Cariri. Canções como “Juazeiro”, “Eu vou para o Crato” e “No Ceará não tem disso não” são provas dessa ligação.

O Rei do Baião gostava de passear e fazer compras na feira livre da cidade de Crato e, durante sua vida, visitou muitas vezes Juazeiro do Norte — onde firmou muitas amizades, inclusive com monsenhor Murilo de Sá Barreto, importante figura religiosa da região.

Foi no Crato que Gonzaga vendeu a sua primeira sanfona e foi para Fortaleza, chegando na capital cearense em julho de 1930. Lá, alistou-se no 23⁠º Batalhão de Caçadores e no mês seguinte estava participando da Revolução de 30 no interior da Paraíba.

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Luiz Gonzaga, alistamento no Exército e início na música

Quando completou um ano no Exército, o Rei do Baião foi mandado para servir no Rio de Janeiro, em dezembro de 1931. Foi durante essas andanças que o artista iniciou sua trajetória na música.

Luiz Gonzaga começou passeando nos ritmos mais populares do Sul do Brasil, como valsa, fado, samba e tango. Em 1940, um grupo de estudantes cearenses que estudava no Rio o aconselhou a tocar as músicas dos sanfoneiros do sertão nordestino.

Foi a partir daí que a história de um dos maiores símbolos do Nordeste mudou. Em um programa do Ary Barroso, Gonzaga tocou “Vira e Mexe”, uma canção de sua autoria e com apelo nordestino. O artista ganhou nota 5 e o prêmio de primeiro lugar, se tornando um sucesso imediato.

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O trio do forró-pé-de-serra criado por Gonzagão

O forró mais tradicional do Nordeste, que engloba o baião, xote e o xaxado, foi criado por Luiz Gonzaga. O cantor tocava sanfona, que tem a função harmônica; a zabumba, que forma a base rítmica; e o triângulo, que faz o contratempo. Ele classificava esse trio como o conjunto básico dos cantores de baião.

Assim, percebeu que três músicos tocando esses instrumentos são o necessário para animar qualquer arrasta-pé. O forró pé-de-serra recebeu esse nome em referência à região onde o Rei do Baião nasceu, ao pé da serra do Araripe, em Exu.

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“Lua”, um dos apelidos de Luiz Gonzaga

O Rei do Baião ficou conhecido também como “Lua”, um apelido peculiar que Gonzaga ganhou de um colega músico, o Dino 7 Cordas. O nome veio por seu rosto arredondado e rosado.

Em 1944, o radialista Paulo Gracindo contou sobre esse nome para todo o Brasil em seu programa na Rádio Nacional. Foi a partir daí que Gonzagão ficou também conhecido como Lua.

O Rei do Baião e sua devoção a Padre Cícero

Luiz Gonzaga tinha uma grande devoção com a figura de Padre Cícero. O santo popular está presente em algumas gravações do Rei do Baião, como “Viva Meu Padim”, “Légua Tirana” e “Beata Mocinha”.

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Toda sua fé motivou um dos pedidos mais marcantes do sanfoneiro: quando chegasse o dia da sua morte, seu corpo seria abençoado em Juazeiro do Norte antes de ser enterrado. Sua vontade foi realizada em 3 de agosto de 1989, um dia antes de ser sepultado na sua terra natal.

O corpo do cantor chegou à cidade através do Aeroporto Regional do Cariri. Na época, uma multidão aguardou a sua chegada. O caminhão do Corpo de Bombeiros transportou a urna mortuária pelas ruas do Centro, em direção à Capela do Socorro.

Lá, o corpo passou em frente ao nicho do Padre Cícero, realizando o desejo de Gonzagão. No percurso, milhares de juazeirenses aplaudiam das calçadas e cantavam músicas do artista. A cerimônia de benção foi realizada por monsenhor Murilo e reuniu as homenagens de violeiros, sanfoneiros e cantadores.

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