18º For Rainbow: filme dá novas vidas ao Orlando de Virgínia Woolf

Questionando as fronteiras de gênero e identidade, documentário de Paul B. Preciado convida pessoas trans para encarar a discussão sobre direitos sociais e políticos

13:45 | Jun. 24, 2024

‘Orlando, Minha Biografia Política, filme exibido no 18º For Rainbow (foto: Victor Zébo/Divulgação)

“Se você me escreveu antes de eu nascer, escrevo esta carta para você morta” – é com essa frase que Paul B. Preciado apresenta a relação entre o olhar moderno sobre corpos trans como o seu e "Orlando: uma Biografia", livro de Virgínia Wolf publicado em 1928 – a história gira em torno de Orlando, um aristocrata do século XVI que, de repente, acorda mulher, ruptura na narrativa literária que influenciou várias discussões sobre gênero e identidade.

Com título em referência a um olhar longe da fábula, "Orlando, Minha Biografia Política" foi o último filme exibido neste domingo, 23, no 18º For Rainbow – Festival de Cinema e Cultura da Diversidade Sexual e de Gênero.

Filósofo, arquiteto e escritor, Preciado é autor de livros, ensaios e artigos que investigam diferentes percepções da teoria queer, olhando para a forma como a quebra do binarismo entre homem e mulher representa uma ação necessariamente política.

Para expandir a conversa em paralelo com a sociedade atual, seu híbrido de documentário, ficção e ensaio apresenta pessoas trans de 8 a 70 anos tanto para “interpretar” o Orlando de Virgínia, quanto para compartilhar suas próprias percepções de um mundo excludente.

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Forma e discurso são costurados de maneira bastante envolvente, sobretudo pelo olhar para a história dos anos 1920 com respeito e ironia, ao mesmo tempo, questionando inclusive a “antiguidade” de um tempo no qual Virgínia teria ou não enxergado corpos trans que lhes foram contemporâneos.

Ao longo do filme, o figurino desse nobre e rico Orlando passa a carregar até certo humor por se encaixar em todas as pessoas que lhe interpretam diante da tela em diferentes cenários.

Em outra cena de grande força imagética, a operação literalmente cirúrgica nas páginas da Virgínia traz uma camada esperta dessa “atualização”, onde Preciado se reconhece na construção desses pensamentos sobre os corpos dissidentes não só para o futuro, mas também para o passado, questionando as fronteiras estabelecidas nas leis, nos documentos, nos estudos e no dia a dia.

"Orlando, Minha Biografia Política" venceu o Prêmio Teddy no 73º Festival de Berlim e saiu premiado de outros grandes eventos, como Mar del Plata na Argentina e San Sebastian na Espanha. O filme deve chegar aos cinemas brasileiros no dia 04 de julho com distribuição da Filmes do Estação.