18º For Rainbow: filme dá novas vidas ao Orlando de Virgínia Woolf

Questionando as fronteiras de gênero e identidade, documentário de Paul B. Preciado convida pessoas trans para encarar a discussão sobre direitos sociais e políticos

“Se você me escreveu antes de eu nascer, escrevo esta carta para você morta” – é com essa frase que Paul B. Preciado apresenta a relação entre o olhar moderno sobre corpos trans como o seu e "Orlando: uma Biografia", livro de Virgínia Wolf publicado em 1928 – a história gira em torno de Orlando, um aristocrata do século XVI que, de repente, acorda mulher, ruptura na narrativa literária que influenciou várias discussões sobre gênero e identidade.

Com título em referência a um olhar longe da fábula, "Orlando, Minha Biografia Política" foi o último filme exibido neste domingo, 23, no 18º For Rainbow – Festival de Cinema e Cultura da Diversidade Sexual e de Gênero.

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Filósofo, arquiteto e escritor, Preciado é autor de livros, ensaios e artigos que investigam diferentes percepções da teoria queer, olhando para a forma como a quebra do binarismo entre homem e mulher representa uma ação necessariamente política.

Para expandir a conversa em paralelo com a sociedade atual, seu híbrido de documentário, ficção e ensaio apresenta pessoas trans de 8 a 70 anos tanto para “interpretar” o Orlando de Virgínia, quanto para compartilhar suas próprias percepções de um mundo excludente.

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Forma e discurso são costurados de maneira bastante envolvente, sobretudo pelo olhar para a história dos anos 1920 com respeito e ironia, ao mesmo tempo, questionando inclusive a “antiguidade” de um tempo no qual Virgínia teria ou não enxergado corpos trans que lhes foram contemporâneos.

Ao longo do filme, o figurino desse nobre e rico Orlando passa a carregar até certo humor por se encaixar em todas as pessoas que lhe interpretam diante da tela em diferentes cenários.

Paul B. Preciado, diretor do filme "Orlando, Minha Biografia Política"
Paul B. Preciado, diretor do filme "Orlando, Minha Biografia Política" Crédito: Paul B. Preciado/Divulgação

Em outra cena de grande força imagética, a operação literalmente cirúrgica nas páginas da Virgínia traz uma camada esperta dessa “atualização”, onde Preciado se reconhece na construção desses pensamentos sobre os corpos dissidentes não só para o futuro, mas também para o passado, questionando as fronteiras estabelecidas nas leis, nos documentos, nos estudos e no dia a dia.

"Orlando, Minha Biografia Política" venceu o Prêmio Teddy no 73º Festival de Berlim e saiu premiado de outros grandes eventos, como Mar del Plata na Argentina e San Sebastian na Espanha. O filme deve chegar aos cinemas brasileiros no dia 04 de julho com distribuição da Filmes do Estação.

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