Novo filme do OP+ relembra vítimas de feminicídio santificadas popularmente

Lançado na segunda-feira, 17, novo filme do O POVO+, "Ela não queria ser santa", documentário que retrata a história de três mulheres vítimas de feminicídio e santificadas popularmente no Ceará

"Morreu martirizada, às 4 horas da tarde, no dia 24 de outubro de 1941, no sítio Oiti. Heroína da Castidade, que sua santa alma converta a freguesia e sirva de proteção às crianças e às famílias da Paróquia. São os votos que faço à nossa santinha".

Essa é a frase encontrada anexada ao registro de batismo de Benigna Cardoso da Silva, primeira beata cearense, que foi assassinada aos 13 anos, vítima de uma tentativa de estupro.

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As histórias de Benigna e das jovens Maria de Bil e Mártir Francisca, também vítimas de feminicídio, são retratadas no filme "Ela não queria ser santa", do O POVO +, que foi lançado na segunda-feira, 17, na plataforma de streaming do Grupo de Comunicação O POVO.

A produção, dirigida por Demitri Túlio e roteirizado por Arthur Gadelha, denuncia o machismo estrutural que ocasionou a morte dessas mulheres e tenta desmistificar a fama de mártir que elas adquiriram por meio do imaginário popular.

"Elas não queriam ser santas porque estavam tentando preservar suas vidas, se defendendo de uma crueldade extrema, de quem elas não queriam namorar ou permanecer casadas. Elas não queriam ser santas, mas elas são santificadas pela fé popular. Essas mulheres estavam se defendendo contra o machismo", destaca o diretor.

O filme tem uma narrativa não cronológica, que perpassa pela vida das três jovens, visitando os cenotáfios — locais onde elas foram mortas. A obra reúne relato de populares, especialmente mulheres, sobre as mortes e seus símbolos.

"Nós estávamos tratando do assassinato de mulheres, e queríamos retratar isso com mulheres", afirma Demitri. Ele relembra também que as características visuais do documentário, que contam com a presença de diversas figuras femininas, como crianças.

Para Maria da Penha Pereira, uma das entrevistadas no documentário e integrante da comissão de acolhida do Santuário da Menina Benigna, a jovem já era santa em vida. "Segundo os contemporâneos dela, Benigna dizia que não queria nada com ninguém, que iria casar com Jesus Cristo. Ela foi uma menina muito boa, uma excelente filha", conta.

O documentário nasceu a partir da série de reportagens especiais "Santificadas", produzida pelo O POVO em 2011, e que detalha a história de mais de 20 pessoas que carregam a fama de santidade.

Três histórias

Maria de Bil

Em 1922, a jovem Maria se casou com Severino Domingos da Silva, o "Bil". O enlace resultou no nascimento de dois filhos. Maria esperava o terceiro filho, quando descobriu que o marido a traía com a irmã, Madalena, a jovem decidiu terminar o relacionamento.

Bil ficou ofendido com a escolha da ex-mulher e passou a planejar o momento oportuno para matá-la.

Na manhã do dia 11 de março de 1926, enquanto caminhava pelo Alto do Serrote da Charneca, em Várzea Alegre, com duas amigas para entregar o almoço do pai na roça, Maria foi abordada por Bil, que a esfaqueou três vezes.

Menina Benigna

Nascida em 15 de outubro de 1928, no Sítio Oiti, em Santana do Cariri, Ceará, Benigna Cardoso da Silva foi adotada, juntamente com os irmãos mais velhos, por outra família, após a morte dos pais.

Aos 12 anos de idade, a menina passou a ser assediada por Raimundo Raul Alves Ribeiro e rejeitava constantemente as investidas do rapaz mais velho.

Na tarde, do dia 24 de outubro de 1941, a garota saiu de casa para buscar água em um poço, nessa ocasião, Benigna foi abordada mais uma vez por Raul e resistiu a uma tentativa de estupro. Em resposta, Raul a golpeou repetidas vezes com um facão.

Após a morte de Benigna, a fama de santidade da garota passou a ser divulgada pela população, que começou a associar milagres e graças alcançadas à jovem. Com o seu martírio confirmado pela Igreja Católica, no dia 24 de outubro de 2022, Benigna recebeu oficialmente o título de beata pelo Vaticano.

Mártir Francisca

Francisca Augusto da Silva, nasceu em 21 de fevereiro de 1941, no sítio de Creoulas, no interior da cidade de Aurora.

Aos 16 anos, a jovem estava noiva do agricultor Francisco Ferreira Barnabé, o Chico Belo. Segundo a irmã da mártir, Maria Júlia Ferreira, entrevistada pelo O POVO em 2011, o pai das garotas disse que só tinha dinheiro para um casamento, e que a filha mais velha (Maria Júlia), deveria casar primeiro. Chico Belo ficou com raiva e terminou o noivado com Francisca.

O pai de Francisca descobriu que o jovem queria matar sua filha e resolveu enviá-la para outro lugar. Porém, em 9 de fevereiro de 1958, no dia em que a população celebrava a festa de São Sebastião, Francisca caminhava pela estrada com os irmãos mais novos quando foi abordada pelo assassino.

Ficha técnica

  • Direção
  • Demitri Túlio
  • Roteiro
  • Arthur Gadelha
  • Produção
  • Mariana Lopes
  • Assistência de Pesquisa
  • Luana Sampaio
  • Direção de Fotografia
  • Aurélio Alves
  • Assistência de Fotografia
  • FCO Fontenele
  • Montagem
  • Raphael Góes

Filme "Ela não queria ser santa"

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