Drag queen Mulher Barbada lança 1º álbum e realiza show gratuito

Cantora Mulher Barbada lança primeiro álbum solo "Bárbara!" evidenciando composições próprias voltadas para a MPB em um flerte com o rock e o R&B

"Eu acho que o barato de se entregar e de se jogar no que se sonha é aproveitar o caminho. Às vezes a gente pode chegar onde menos se espera", é o que descreve a drag queen Mulher Barbada, em entrevista ao Vida&Arte. A cantora acaba de lançar seu álbum de estreia, "Bárbara!". Ela vai apresentar repertório em show neste sábado, 22, no Hub Porto Dragão.

Criado no Conjunto Jereissati II, no Maracanaú, Rodrigo Ferrera é o responsável por dar vida a personagem conhecida nas noites de Fortaleza por integrar os coletivos As Travestidas e Bloco Mambembe.

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A paixão pelo universo artístico começou cedo em sua vida. Foi assistindo a quadrilhas juninas, fazendo parte de peças da escola, oficinas de artesanato, danças populares e pintando, desenhando e escrevendo em casa que a criança descobriu que a arte seria seu norte.

Já a música foi sua companheira desde que se entende por gente. CDs de Sandy e Júnior, Pitty, Cássia Eller, Legião Urbana, Roberto Carlos e Diana faziam parte da sua pequena coleção. 40 minutos de banho, com a caixinha na porta do banheiro, eram pouco tempo para poder desfrutar de todos eles.

O teatro chegou na adolescência e, aos 17 anos, passou a frequentar a Cia Sonhar de Artes Cênicas, onde ganhou seu primeiro cachê com o palco.

Em 2011, seu amigo Jeferson Tinoco o convidou para gravar brincadeiras com o microfone do computador. Reginaldo Rossi, Thiago Petit, Beatles, Lairton e seus teclados faziam parte do repertório.

"Ninguém apostava na gente, então éramos a dupla perfeita. Em meados de 2013, a coisa foi ficando mais séria e a gente montou a banda A Mulher Barbada e os Caixeiros Viajantes e começou a fazer shows em bares e eventos, entre Maracanaú e Fortaleza", conta Rodrigo, acrescentando que a banda teve seu fim em 2017. O artista lembra que, em muitos momentos, eles tiveram de cancelar shows por falta de pessoas na plateia.

Mas o jovem não desanimou e a música é hoje sua principal forma de comunicação. "É com ela (a música) que eu me abro, que eu me permito escutar, também. É com a música que eu me divirto e levo alegria pra galera, mas também levo minha reflexão, levo minhas ideias e a minha forma de ver o mundo. A música é minha profissão e minha paixão. E ainda adoro receber CDs de aniversário", expõe.

No meio disso tudo, em 2015, entrou para o coletivo artístico As Travestidas e fez parte do espetáculo "Cabaré das Travestidas". Foi quando, de fato, nasceu a persona drag queen de Rodrigo.

"A Mulher Barbada chegou na minha vida de surpresa. O Silvero Pereira me convidou para fazer parte do coletivo, porque ele tinha em mente chamar novos atores e atrizes para um novo espetáculo das Travestidas, que era diferente de tudo que elas já tinham feito", relembra.

Com uma peruca emprestada de Gisele Almodóvar (drag queen de Silvero), espartilho emprestado da Deydianne Piaf (drag queen de Denis Lacerda), saltos altos que estavam parados e não cabiam no pé de ninguém e lingerie que ganhou da mãe, a Mulher Barbada entrou em cena pela primeira vez.

"No palco, quando me perguntaram qual era o meu nome de drag, disse: 'Mulher Barbada'. Fora do microfone, eu disse baixinho para Deydianne: 'Depois eu procuro um nome melhor'. E faz nove anos que, além do Rodrigo, eu também sou a Mulher Barbada", conta a artista.

Representatividade na arte

Para Rodrigo Ferrera, é muito importante que existam outras artistas queer como ele ocupando o cenário musical pela cidade em festas, bares e shows. Para ele, ter uma "bixa" de peruca no centro das atenções é algo muito "poderoso".

A artista afirma ser muito solitário ser a única drag do line-up de determinados eventos da Cidade. "Muitas vezes, eu sou a única pessoa queer do evento inteiro. Mas eu tenho certeza que, a partir do momento que eu ocupo esses espaços, eu abro portas para que outras e outros como eu possam ocupar também", desabafa.

Ser julgado por sua aparência por pessoas que não levam seu trabalho a sério antes mesmo de a ouvirem também é algo que enfrenta no dia a dia. Seja montada de Mulher Barba, com vestido e maquiagem, ou até mesmo quando "está de Rodrigo".

"Todas as vezes que eu furo a bolha, eu passo por situações assim, inclusive dentro da comunidade LGBTQIAPN+. Muitas pessoas acreditam que por ser drag queen, necessariamente eu preciso cantar músicas pop, eu preciso ser mais 'Pabllo Vittar', antes mesmo de me ouvirem cantar MPB ou samba", conta.

Bárbara!

Em meio a tantos desafios e obstáculos superados, "Bárbara!", primeiro álbum solo da drag queen Mulher Barbada, nasce aliado a sua trajetória teatral com uma dramaturgia musical. Todas as faixas foram compostas pela artista em parceria com outros músicos cearenses.

O álbum conta com colaboração de Mona Gadelha, Caiô, Clau Aniz e Caio Castelo, que produz o disco ao lado do produtor carioca Guilherme Kastrup.

"Há muitos anos, eu tinha esse desejo muito grande de lançar um álbum com músicas minhas. Algo que eu pudesse contribuir desde a composição até a mixagem. 'Barbara!' vem sendo germinado a muitas mãos desde 2020, mas a pandemia adiou o processo. Só que eu acredito que as coisas acontecem no tempo certo", relata.

O disco possui nove músicas com composições voltadas para a MPB em um flerte com o rock e o R&B.

"Acho que tem Barbada para todo tipo de público. No final das contas, uma das coisas que mais me anima neste processo é a possibilidade de chegar em novas pessoas e estar em ambientes com a minha música que o meu trabalho ainda não tinha alcançado", pontua.

O novo projeto conta as dores e delícias da paixão, passeando pelo o encontro, romance, briga, término, luto e a descoberta do amor próprio. E muitas delas são de experiências vividas pela própria drag queen.

"Seja através das letras ou das emoções que eu acesso para interpretar, eu sempre tento colocar um pouco da minha vida na minha música. Eu acho que isso dá mais substância e dá mais vida à música. Algumas músicas têm cenário, têm cenas inteiras, têm sabores, cheiros de momentos que vivi, dos bons e dos ruins", afirma a artista, acrescentando estar muito feliz com a concretização do álbum.

Show de lançamento do álbum Bárbara!

  • Quando: sábado, 22 de junho, às 19 horas
  • Onde: Hub Porto Dragão (rua Bóris, 90 - Centro)
  • Gratuito

 

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