Spotify BR: artistas independentes geram mais de R$840 mi em 2023

Artistas independentes foram responsáveis por mais de 70% das receitas geradas por brasileiros no Spotify Brasil em 2023, com R$ 840 milhões

10:24 | Jun. 17, 2024

Por: Miguel Araujo
Spotify completa dez anos no Brasil em 2024; artistas independentes foram responsáveis por 70% das receitas geradas por brasileiros na plataforma em 2023 (foto: STEFANI REYNOLDS / AFP)

Ao longo dos dez anos do Spotify no Brasil, o País assumiu papel importante na plataforma para além da quantidade de usuários ativos. No streaming de áudio, os artistas brasileiros também se destacam pelas receitas geradas. Em 2023, eles foram responsáveis pela marca de R$ 1,2 bilhão em receitas.

O valor é quatro valor quatro vezes maior que o índice registrado no Spotify em 2018. Desse número, mais de R$ 840 milhões (equivalente a mais de 70%) foram gerados por artistas ou gravadoras independentes. As informações foram divulgadas pelo Spotify Brasil por meio do relatório Loud and Clear.

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Os dados apontam para a importância dos artistas independentes na plataforma. Principal streaming de áudio no Brasil, o Spotify é visto como mecanismo de impacto na distribuição de músicas na era digital, servindo como impulsionador de visibilidade e reconhecimento público para nomes da indústria musical. Afinal, em dez anos foram mais de 770 bilhões de streams no Spotify no País.

Democratização e desafios de remuneração

Sem dúvidas, a chegada do Spotify no Brasil acarretou mudanças significativas e variadas para o mercado da música no País. Produtores e artistas apontam a democratização do acesso e novas oportunidades para independentes. Um dos meios para maior visibilidade de artistas brasileiros que estão iniciando são as playlists.

“Quando incluímos músicas de artistas, principalmente, artistas emergentes nas nossas playlists, aumentamos significativamente a exposição desses artistas, isso permite que suas músicas sejam descobertas por um público mais amplo, incluindo ouvintes internacionais, ajudando a construir uma base de fãs e a impulsionar suas carreiras”, afirma ao O POVO Roberta Pate, Líder de Negócios no Spotify no Brasil.

Ainda assim, muitos artistas relatam a remuneração a partir dos streams das músicas como um desafio, pois indicam ser aquém do necessário. De acordo com Roberta Pate, o Spotify aumenta a cada ano o pagamento de dinheiro em royalties para os detentores de direito, “o que resulta em recordes de receita e crescimento para todo o ecossistema da indústria”.

Segundo a profissional, o Spotify Brasil “gerou e colaborou com R$ 2,8 bilhões para a indústria nacional” em dez anos. Em entrevista, Roberta Pate contextualiza os objetivos iniciais e atuais do Spotify no País e aponta o papel do serviço no mercado da música brasileira.

Entrevista com Roberta Pate, do Spotify Brasil


O POVO: Há dez anos, o Spotify chegou ao Brasil. Quais eram os objetivos iniciais da plataforma no País e como essas metas se desenvolveram ao longo do tempo?

Roberta Pate: Desde que o Spotify nasceu, nosso compromisso central sempre foi desbloquear o potencial criativo humano dando a milhões de artistas a oportunidade de viver de sua arte e oferecendo a bilhões de fãs a chance de usufruir e se inspirar por essa arte. A gente faz isso criando oportunidades para que eles consigam ganhar a vida por meio do seu trabalho e reduzindo cada vez mais barreiras para os músicos. Assim, o Spotify tem tido um papel fundamental na formação de uma indústria musical mais saudável e perseguindo esses objetivos ao longo da última década.

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Temos apoiado o desenvolvimento de artistas emergentes e impulsionado suas carreiras. Atualmente, estamos trabalhando com vários programas de música, EQUAL, RADAR, GLOW e AMPLIFIKA, que oferecem suporte aos artistas de maneira on e off-plataforma, e isso inclui ações editoriais e de parceria, suporte de marketing e muitas outras ferramentas. A gente também está sempre trabalhando no desenvolvimento de novos instrumentos e recursos que vão ajudar e impulsionar carreiras de artistas em todos os níveis. Tudo isso, na prática, significa fornecer ferramentas mais eficazes para que eles consigam desenvolver sua base de fãs e construir seu negócio por meio do Spotify for Artists.

Hoje, o Spotify segue fiel a sua meta inicial e já colheu muitos frutos do trabalho da última década. Conseguimos nos consolidar como a maior plataforma de streaming de áudio do mundo com muita dedicação e trabalho de localização de estratégia para o Brasil, somado a um olhar cuidadoso do time de editorial para impulsionar artistas e oferecer uma experiência cada vez melhor aos usuários. O Spotify democratizou e ofereceu a vários artistas a oportunidade de se conectar com suas comunidades.


OP: Como a plataforma tem pensado suas ações para os artistas brasileiros que estão iniciando e vendo o Spotify como uma forma de divulgar seu trabalho?

Roberta: Somos um aliado para as novas vozes e artistas emergentes. Ao longo dos anos, nós já pudemos ver muitos artistas que faziam parte dos nossos programas expandirem sua base de fãs, aproveitarem informações valiosas sobre seu público e até se aventurarem em territórios inexplorados.

Um exemplo é o Veigh, que foi um artista RADAR em 2022 e no ano seguinte bateu recorde e conquistou a primeira posição na parada de álbuns Top Albums Debut Global - o ranking global do Spotify das melhores estreias de álbuns - com o álbum Dos Prédios Deluxe. Na época em que integrou RADAR Brasil, o rapper contava com um pouco mais de 400 mil ouvintes mensais no Spotify, em 2023 eram aproximadamente 6 milhões de ouvintes mensais. Hoje, ele já tem mais de 9 milhões de ouvintes no Spotify.

E, uma vez que nossos assinantes e usuários ativos crescem cada vez mais (atualmente temos 615 milhões de usuários ativos, incluindo mais de 239 milhões de assinantes do Spotify Premium), naturalmente a gente também observa um mergulho mais profundo dos usuários em playlist. Essas listas definitivamente mudaram a forma com que as pessoas consomem e descobrem novas músicas e artistas. Isso fica muito claro quando vemos que 9.500 artistas brasileiros foram adicionados em playlists editoriais do Spotify pela primeira vez em 2023 e que artistas brasileiros foram escutados pela primeira vez por usuários no Spotify quase 10 bilhões de vezes. São números muito grandiosos.

OP: Como as playlists ajudam na exposição de artistas?

Roberta: Quando incluímos músicas de artistas, principalmente, artistas emergentes nas nossas playlists, aumentamos significativamente a exposição desses artistas, isso permite que suas músicas sejam descobertas por um público mais amplo, incluindo ouvintes internacionais, ajudando a construir uma base de fãs e a impulsionar suas carreiras.

Inclusive, uma outra informação super interessante é que o número de músicas de artistas brasileiros no Spotify aumentou em 656% nos últimos 10 anos, e o número de streams de músicas de artistas brasileiros cresceu mais de 240 vezes no Brasil e mais de 130 vezes em todo o mundo no Spotify nos últimos 10 anos.

OP: Como o Spotify enxerga atualmente seu papel no mercado da música no Brasil?

Roberta: Desde que o Spotify chegou no Brasil, há 10 anos, ele transformou a indústria musical do nosso país. Podemos dizer que o streaming mudou fundamentalmente o ecossistema musical, e a gente fez isso reduzindo as barreiras e democratizando o acesso ao áudio. Atualmente, os artistas não precisam de grandes investimentos para criar, distribuir e amplificar sua música em todo o mundo. Observamos isso nitidamente, já que muitos dos artistas que geraram pelo menos US$ 1 milhão no Spotify em 2023 não são artistas mainstream e não precisaram de um 'hit' para ter um ano de sucesso.

É possível mensurar um pouco do que estamos falando quando olhamos para os números. Em 2013, um ano antes da entrada do Spotify no Brasil, a indústria musical brasileira representava um negócio de R$ 492 milhões, já no passado, apenas o Spotify Brasil gerou e colaborou com R$ 2,8 bilhões para a indústria nacional. A nível global, ainda ano passado, o Spotify totalizou mais de US$ 9 bilhões para a indústria musical. São mais de US$ 48 bilhões de dólares desde a fundação.

Vale ressaltar que esses números representam apenas uma parte do quadro, e o Spotify é apenas uma das fontes de receita da indústria musical, existem também vendas físicas, turnês, merchandising, sincronização ou outras fontes. Sendo assim, o Spotify representa cerca de um quarto da receita global da indústria musical gravada (um aumento de menos de 15% em 2017). É um número muito expressivo e demonstra bem como temos atuado de forma positiva, auxiliando e colaborando para o crescimento do mercado brasileiro.

O POVO: Ao longo dos anos, a plataforma evoluiu e acrescentou outras funcionalidades. Quais são as principais mudanças desses dez anos?

Roberta: O Spotify oferece diversas ferramentas que ajudam o artista a se destacar na plataforma. No último ano, alguns recursos do Spotify ganharam mais protagonismo, como, por exemplo, o Canvas, que são vídeos curtos em loop, presentes em cada uma das suas faixas como uma capa de álbum. Além disso, o Countdown Page, é um novo espaço para os fãs realizarem pré-save e verem a contagem regressiva dos próximos álbuns, assistirem a videoclipes e muito mais. A ferramenta, que está em fase de testes, está sendo disponibilizada para mais artistas e o objetivo da plataforma é ampliar o recurso. Recentemente, artistas como Djavan, Anitta, Pabllo Vittar, L7nnon, Shakira, entre outros, usaram a ferramenta.

O POVO: O que a plataforma pensa de novidades para os próximos anos?

Roberta: Na nossa visão e cultura, é crucial que a gente mantenha a missão de desbloquear o crescimento dos artistas e conectar criadores com a audiência, além disso, a inovação constante e a adaptação às novas gerações são fundamentais para nós. Sempre olhamos para o futuro e buscamos as decisões mais estratégicas hoje para alcançar os objetivos de amanhã.

E, é claro que a gente também entende o poder e a responsabilidade que temos na indústria musical. O nosso papel é colaborar com esse ecossistema através dos programas de música, através do pagamento de royalties para detentores de direitos e nos atualizando em ferramentas para estar cada vez mais conectado com os usuários e com os artistas. Continuaremos investindo em inovação, já que estamos sempre buscando maneiras de melhorar a experiência do usuário, seja através de novos algoritmos de personalização ou da introdução de novos formatos.

O POVO: Quais têm sido os caminhos seguidos pelo Spotify Brasil para garantir "remuneração" justa a partir dos streams aos artistas que estão na plataforma?


Roberta: Como comentamos pontualmente acima, a cada ano que passa o Spotify consegue pagar mais dinheiro em royalties para os detentores de direito, o que resulta em recordes de receita e crescimento para todo o ecossistema da indústria. Quando falamos em pagamento para detentores de direitos, estamos nos referindo a gravadoras, editoras, distribuidores independentes, organizações de direitos de execução e sociedades de gestão coletiva. São essas instituições que recebem os valores dos royalties e os distribuem aos artistas a partir do acordo individual de cada um. 2023 foi mais um ano que o Spotify estabeleceu o recorde de maior pagamento anual à indústria da música de um único varejista: com mais de US9 bilhões. Esse número quase triplicou nos últimos seis anos e representa uma grande parte dos mais de US48 bilhões que o Spotify pagou à indústria desde a sua fundação.

O POVO: E em relação ao ano anterior?

Roberta: Quando comparamos com 2022, as receitas geradas por artistas brasileiros somente no Spotify cresceram 27%, ultrapassando o crescimento de 13% de receitas da indústria da música no País (de acordo com a Federação Internacional da Indústria Fonográfica, IFPI). Além disso, as receitas geradas por artistas brasileiros só no Spotify mais que quadruplicaram desde 2018. Em 2023, as receitas geradas por artistas brasileiros somente no Spotify atingiram o total de R$1.2 bilhões, 4 vezes mais desde 2018.

É super importante dizer também que atualmente nós somos o único serviço de streaming que disponibiliza esse nível de dados de royalties. Anualmente a gente disponibiliza essas informações através do Loud and Clear, nosso relatório de economia de streaming, buscando oferecer transparência e colaborar pra um ecossistema da indústria mais saudável.


O POVO: Como o Spotify compreende a música enquanto linguagem artística dentro de uma plataforma de streaming? Há o desejo de equilíbrio entre a fruição artística e os números de streams?

Roberta: Nós somos apaixonados por música e não poderia ser diferente. A música é uma paixão mundial e quando falamos em Brasil, é definitivamente uma forma de expressão muito rica, da qual nós, como brasileiros, nos orgulhamos muito. Nós temos o privilégio de viver uma realidade muito diversa, especialmente impulsionada pelo fato do Brasil ser um país de extensão continental.

O Spotify é uma ferramenta inigualável para democratizar o acesso e a descoberta musical. Para isso, a gente utiliza diversas ferramentas e algoritmos que visam compreender e valorizar a arte, enquanto oferece aos usuários uma experiência personalizada e relevante.

Essa pergunta é muito interessante porque muitos têm essa dúvida. Mas ainda olhando para os dados do Loud and Clear, artistas que geraram pelo menos US$ 1 milhão no Spotify em 2023 não são artistas mainstream e não precisaram de um 'hit' para ter um ano de sucesso. Outro dado interessante é que o número de artistas brasileiros que geraram mais de R$ 100 mil e R$ 50 mil em receitas somente no Spotify mais que triplicou desde 2018. E pegando um dado só de Brasil, mais de 70% de todas as receitas geradas por artistas brasileiros no Spotify em 2023 foram de artistas ou gravadoras independentes.

Além de tudo isso, as receitas geradas no Spotify estão impulsionando carreiras de artistas em todos os níveis, já que a quantidade de artistas que geram receita em todos os limites compartilhados neste site - de US$ 1.000 a US$10 milhões por ano - quase triplicou desde 2017. Lembrando que esses valores representam a receita gerada apenas pelo Spotify.

Tudo isso mostra que você não precisa estar entre as mais ouvidas do mundo, ou até do seu país, para gerar valores significativos e poder viver da sua arte. Esse equilíbrio já é uma realidade no Spotify.