Bailarino cearense é contratado por companhia de dança da Áustria
Bailarino cearense formado pelo Bolshoi é contratado por companhia da Europa; vindo do Canindezinho, o artista atuava em companhia do Peru
19:24 | Mai. 23, 2024
Nascido e crescido no Canindezinho, Leonardo Germano teve contato com a dança ainda na adolescência, aos 15 anos. O que era uma hobby virou coisa séria rapidamente. Até pouco tempo o artista era solista do Ballet Nacional do Peru.
Agora, Leonardo celebra mais uma conquista: o contrato com a Europa Ballet, uma companhia de dança da Áustria. A decisão de sair da América Latina surgiu depois das mudanças de contrato no Ballet Nacional do Peru, localizado na capital Lima.
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“Já não estava mais gostando de como as coisas funcionavam aqui no Peru. Também estava vendo que a situação financeira estava me abalando”, explica. Após a morte de Jimmy Gamonet, então diretor da companhia, em 2021, os bailarinos que entraram junto com Germano não tiveram mais os contratos renovados.
Em 2022, o bailarino decidiu tentar o mercado europeu. “Mandei audição para várias companhias com ajuda de amigos que já moravam na Europa. Amigos que já tinham ido. Consegui juntar bastante dinheiro e fui. Mas infelizmente não passei", conta.
Mesmo diante dos “nãos”, Leonardo Germano decidiu tentar a Europa Ballet. A instituição já lhe chamava atenção porque experimentava diversos estilos e costumava contratar ex-alunos do Teatro Bolshoi do Brasil.
“Eu já tinha passado na primeira fase deles e precisava fazer uma aula presencialmente lá. Mas como seria somente em fevereiro de 2023, estava aguardando a resposta de outras audições que tinha me inscrito”, explica o cearense, que não teria condições financeiras de arcar com mais passagens de ida e volta para a Europa. Na época, Germano havia enviado vídeos para mais de 30 companhias.
“Até que apareceu duas audições na Alemanha, infelizmente eu não passei, e perdi as audições da Áustria. Voltei para o Peru, continuei trabalhando aqui”, rememora. O artista então decidiu entrar em contato com a Europa Ballet explicando a situação e pedindo uma segunda chance.
O caminho para a Áustria
A resposta da Europa Ballet só veio em 2023. O fortalezense já estava sem contrato no Ballet Nacional do Peru há 3 meses, sem esperança de conseguir um contrato fixo. “Eles mandaram um e-mail falando que teria uma audição privada que eu podia fazer e um período de teste de 15 dias”, conta Leonardo Germano.
Contudo, a boa notícias não veio em um momento propício. “Eu estava com pouco dinheiro. Obviamente se eu falasse com a minha família para me ajudar, eles ajudariam. Mas, eu não queria porque nesse momento, eu já estava ajudando a minha família”, diz Germano, que conseguia mandar parte do salário que ganhava no Peru para os familiares em Fortaleza.
“Eu não queria voltar para estaca em que eles tinham que me ajudar”, salienta. “Eu recusei a proposta deles. Eles me falaram que tinham quatro bailarinos nessa audição, dos quais dois seriam selecionados”, ilustra o cearense.
O artista decidiu permanecer no Peru, na esperança de que o Ballet Nacional o contratasse. “Nunca tinha passado mais de um mês sem contrato, mas eles nunca nos davam precisão de nada. Mas dessa última vez passaram-se três meses e eles voltaram a falar que só tinha um contrato disponível, que seria o do ‘Quebra Nozes’’, detalha Leonardo.
Instabilidade financeira e uma nova chance
“Eu já estava cogitando voltar para o Brasil por causa da instabilidade financeira”, revela. O cearense ficou em Lima e dançou o espetáculo do clássico natalino. “Consegui um dinheiro e também trabalhei para uma escola de dança peruana que queria fazer um espetáculo maior”, acrescenta.
“Guardei o que tinha ganhado e mandei mais uma mensagem para a Europa Ballet, pedindo uma terceira chance. Mas não achei que eles dariam uma devolutiva positiva. Enviei um e-mail falando que estava com condições de viajar e perguntando sobre um contrato imediato”, diz Leonardo Germano, que voltou a entrar em contato com a instituição em janeiro de 2024.
A resposta veio pelo e-mail de manhã, em um dia de abril. “Eu estava numa vibe de curtir minha rotina da manhã sem olhar o celular. Mas uma notificação chamou a minha atenção, do meu e-mail”, relembra o bailarino que sentiu necessidade de interromper o ritual matinal. “O assunto do e-mail tinha ‘Audição’, mas pensei que era algum workshop, porque sempre vinha das companhias as quais já tinha aplicado. Abri a mensagem e dizia que a Europa Ballet estava muito feliz em me receber para trabalhar lá a partir de 15 de maio”, celebra.
Um dia antes, uma amiga que havia dado uma televisão para Leonardo tinha brincado sobre a possibilidade da mudança do rapaz para a Europa. “‘Aproveita minha televisão. Quando tu for para a Alemanha, você me devolve’. Ela sabia que eu queria ir. Respondi a mensagem rindo e pensando que se fosse para a Alemanha ou Europa seria ótimo”, rememora.
Do Canindezinho para o mundo
O início dos estudos em balé para Leonardo foi complicado. Apesar de ter surgido um convite, ele só poderia dar início às aulas caso a mãe autorizasse. “Era algo impensável para a minha mãe por causa do preconceito. Na época, meu pai estava enfrentando uma depressão e ela estava muito sobrecarregada com isso”, conta o artista cearense.
“Aproveitei que um tio havia me prometido um playstation de aniversário e propus trocar o presente por um ‘curso profissionalizante’”, relembra o artista, que inventou a história do curso profissionalizante para poder estudar balé.
Então, Leonardo informou a mãe que iria para as aulas de balé em seu bairro. Apesar de ela não ter aceitado bem no início, se conformou. No ano seguinte, em 2014, o bailarino decidiu fazer audição na Escola de Dança Janne Ruth, na época localizada na Parquelândia.
Na instituição, o artista passou dois anos. No ano seguinte conheceu Valdênia, uma colega de ballet, que o incentivou a fazer a audição do Teatro Bolshoi no Brasil. Os dois foram atrás de patrocínio na Fundação Beto Studart e conseguiram.
“Acho que a audição mais difícil que eu já fiz na minha vida e eu e olha que eu já fiz a audição para companhia”, revela. “Mas eram muitos meninos, eu nunca vi tantos meninos e tudo era muito rápido na aula”, diz Leonardo.
O cearense passou e estudou dois anos no Teatro Bolshoi no Brasil, formando-se em balé clássico através da instituição. Em 2018, Leonardo Germano foi tentar a vida em São Paulo, depois de dois anos na capital paulista foi contratado pelo Ballet Nacional do Peru.