Festival de Cannes começa com filme brasileiro na competição

Autor DW Tipo Notícia

"Motel destino", de Karim Aïnouz, concorre à Palma de Ouro na 77ª edição do festival francês, que este ano tem tom político e ameaça de greve.O Festival de Cinema de Cannes começa nesta terça-feira (14/05) no sul da França, com um filme brasileiro, Motel destino, do diretor brasileiro Karim Aïnouz, entre os concorrentes da competição oficial. O brasileiro radicado em Berlim, que já foi premiado na mostra paralela Um Certo Olhar, volta ao festival com uma história de amor estrelada por Fábio Assunção, Nataly Rocha e Iago Xavier. Mas são as produções francesas e americanas que dominam a principal competição, incluindo o monumental Megalópolis, do diretor americano Francis Ford Coppola. O drama futurista de ficção científica com ecos do Império Romano é sobre um arquiteto que quer transformar Nova York numa utopia. Ao todo, 22 filmes estão na competição oficial do festival, que prossegue até o dia 25 de maio e tem um tom político, com filmes sobre o ex-presidente dos EUA Donald Trump, um documentário sobre a guerra na Ucrânia e um curta-metragem sobre o movimento Me Too na França. A abertura do festival, nesta terça-feira, será com a comédia O segundo ato, do diretor francês Quentin Dupieux (fora de competição). O Brasil também concorre na competição de curtas-metragens com Amarela, do diretor André Hayato Saito. Mais dois filmes serão exibidos em mostras paralelas: A queda do céu, um documentário sobre o povo yanomami, e Baby, de Marcelo Caetano. Por fim, Lula, documentário do celebrado diretor americano Oliver Stone sobre o presidente brasileiro, terá sua estreia no festival. Um filme sobre Donald Trump Também estão na competição oficial o mais recente trabalho de Giorgos Lanthimos (Kinds of kindness), que retrata a vida de três pessoas muito diferentes nos EUA, e Emilia Perez, de Jacques Audiard, uma comédia sobre um chefe do tráfico mexicano que quer deixar seu passado para trás e começar uma nova vida como mulher. Mas muitos deverão voltar suas atenções para O Aprendiz, um filme sobre a carreira de Donald Trump em Nova York na década de 1980. O ator Sebastian Stan, que fez o Capitão América em filmes de super-heróis da Marvel, interpreta o ex-presidente dos EUA, enquanto a atriz indicada ao Oscar por Borat, Maria Bakalova, aparece como Ivana Trump, então esposa do republicano. O filme é dirigido pelo cineasta iraniano-dinamarquês Ali Abbasi (de Border). Fora da competição, o cineasta ucraniano Sergei Loznitsa estará apresentando seu novo documentário A invasão – dez anos depois de Maidan, que mostrou os protestos ucranianos que levaram à derrubada do então presidente pró-Kremlin Viktor Yanukovych. A invasão trata da guerra de agressão russa contra a Ucrânia. O diretor disse querer mostrar como a guerra está mudando o seu país. Apenas quatro filmes dirigidos por mulheres O filme A semente da figueira sagrada, do vencedor da Berlinale Mohammad Rasoulof, também será exibido no Festival de Cannes. Um tribunal de apelação iraniano acaba de condenar o diretor e crítico do regime dos mulás a oito anos de prisão por "conspiração contra a segurança nacional". Segundo o advogado dele, a sentença inclui chicotadas, multa e confisco de bens. Pouco depois da condenação, Rasoulof deixou o Irã. Em 2020, em Berlim, ele foi premiado com o Urso de Ouro pelo filme Não há mal algum. Rasoulof não pôde receber o prêmio porque não tinha permissão para deixar o Irã na época. O que pode passar despercebido em meio ao burburinho e ao glamour de Cannes é que apenas quatro dos 22 filmes da competição oficial foram dirigidos por mulheres. O movimento Me too estará presente, porém, com o filme Moi aussi, dirigido pela atriz francesa Judith Godrèche, e que aborda justamente histórias de vítimas de violência sexual. O filme será exibido nas seções Um Certo Olhar e Cinema da Praia. Pela primeira vez haverá uma competição para o chamado cinema imersivo, que utiliza tecnologias como realidade virtual ou realidade aumentada, possibilitadas pelo uso da inteligência artificial. Ameaça de greve dos trabalhadores do cinema E uma ameaça de greve ronda a Croisette. A associação Sous les écrans la dèche (Sob as telas, a maré está baixa) está ameaçando interromper as operações do festival. A associação de trabalhadores, que afirma ter 5 mil membros, está reclamando da crescente precarização das profissões relacionadas ao cinema. Ela também critica as últimas reformas no sistema de seguro-desemprego francês. A associação representa várias categorias profissionais necessárias para o funcionamento de um festival da escala desse evento, como projecionistas, legendadores de filmes, funcionários de bilheteria e assessores de imprensa, entre outros. Streep recebe prêmio honorário A 77ª edição do Festival de Cannes vai ainda homenagear a atriz americana Meryl Streep. Ela receberá a Palma de Ouro honorária pela sua obra. Com mais de 60 filmes, ela deixou sua marca em quase meio século da história do cinema. Em filmes como Kramer vs. Kramer, Entre dois amores e O diabo veste Prada, Streep alcançou o status de ícone das telas. A atriz, hoje com 74 anos, recebeu três Oscars em 21 indicações. Ao lado dela, o criador da série Guerra nas Estrelas, George Lucas, que estará comemorando seu 80º aniversário em Cannes, também será homenageado com uma Palma de Ouro honorária. Outro prêmio honorário irá para o estúdio de animação japonês Ghibli. O júri do festival deste ano é presidido pela cineasta Greta Gerwig, que recentemente dirigiu Barbie. Quem acompanha o festival francês espera que, assim como em anos anteriores, filmes da competição em Cannes tenham destaque também no Oscar. Foi assim com o vencedor da Palma de Ouro de 2023, Anatomia de um caso, de Justine Triet, mais tarde premiado com o Oscar de melhor roteiro original. "Filmes da seleção oficial do festival conquistaram um recorde de 26 indicações ao Oscar", observou recentemente a revista alemã Der Spiegel. Houve também Oscars para o filme do diretor Jonathan Glazer sobre Auschwitz, Zona de interesse, bem como para Folhas de outono, de Aki Kaurismäki, e Dias perfeitos, de Wim Wenders. Autor: Stefan Dege

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