Somos todos Maluquinhos: o legado de Ziraldo para os quadrinhos

Obra de Ziraldo atravessou gerações, encanta crianças, inspira novos artistas e causa nostalgia em adultos; cartunista morreu aos 91 anos de idade

Dono de um dos maiores portfólios de personagens infantis no Brasil, Ziraldo foi um artista eclético, fazendo desde quadrinhos para o público infantil e adulto a charges e sátiras políticas, além de ser também escritor.

Muito mais que isso, Ziraldo foi um marco temporal, foi um "antes e depois", quando se fala na arte dos quadrinhos no Brasil.

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Talvez à frente do seu tempo, talvez apenas pioneiro, ou até as duas coisas juntas, Ziraldo deixa seu nome marcado na história da arte nacional.

Ele não apenas colaborou com os quadrinhos brasileiros, como também abriu portas de um movimento de nacionalização da produção brasileira

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Pererê: a cara do Brasil de Ziraldo

Entre os anos de 1950 e 1960, o Brasil vivia um período de forte apelo nacionacionalista: Juscelino Kubtischeck botava de pé a nova capital federal, prometendo que o País iria avançar "50 anos em cinco".

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Na música, a bossa nova surgia como novidade, enquanto que no cinema, cineastas como Glauber Rocha, Nélson Pereira dos Santos e Rui Guerra produziam filmes inéditos.

Foi nesse caldeirão cultural que Ziraldo criou seu primeiro sucesso, a “Turma do Pererê”, que foi publicada primeiramente como um cartum dentro da revista “O Cruzeiro”.

Já a revista “Pererê” começou a ser impressa em 1960, e representou um ponto de virada ao ser a primeira publicação de quadrinhos genuinamente brasileira. A revista continuou até 1964, quando foi interrompida pela instabilidade do golpe militar.

Ícone do folclore brasileiro, o Saci Pererê de Ziraldo aparecia sempre acompanhado por símbolos de brasilidade, um indígena, uma tatu, uma onça, um jabuti e um caçador, figuras bastantes conhecidas no nosso imaginário popular.

De forma quase inédita, Ziraldo conseguiu refletir fielmente a sociedade brasileira em seus quadrinhos como poucos. O artista começou a representar um voz de residência e de brasilidade, sendo modelo para novos artistas nacionais que tinham o Brasil como inspiração.

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Menino Maluquinho: o maior de todos

Obra mais conhecida de Ziraldo, o livro “Menino Maluquinho” foi lançado no mesmo dia do aniversário do artista, em 24 de outubro de 1980. Inspirado nas suas recordações de infância, Maluquinho é um garoto travesso que não tinha o dom da quietude.

A obra não foi o primeiro livro do desenhista e autor, mas foi a mais marcante. Sucesso editorial, “Menino Maluquinho” teve 129 edições e foi publicado em 10 países, de acordo com informações do portal G1.

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Diferente da turma do Pererê, Maluquinho surgiu nas páginas de literatura, mas ganhou vida nos gibis devido ao sucesso do livro.

Símbolo de mais de quatro décadas, o menino com a panela na cabeça se incrustou no imaginário das crianças e também nos adultos deste País. Travesso, mas meio subversivo, ele usava expressões que hoje causariam espanto.

Não parava quieto, era aquele tipo de pessoa que quebrava as coisas, que tinha “fogo no rabo” ou “o olho maior que a barriga”, dando testemunho de expressões de uma infância que seria modificada anos seguintes. E que mesmo assim, décadas depois, causaria nostalgia aos adultos por toda aquela bagunça.

A todas essas questões, podemos dizer que Maluquinho foi salvo por pouco do cancelamento, mas ainda bem, pois foi isso que fez o Brasil ganhar mais um ícone infantil, que saiu da literatura para os quadrinhos e depois para a televisão e cinema, sendo também série de TV em live-action e desenho animado.

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Vivendo em um universo cercado de outras crianças, todos com suas peculiaridades, a principal obra de Ziraldo é um retrato da diversidade brasileira, um painel de cores e personalidades culturais.

Depois de tamanha repercussão cultural, a obra de Ziraldo pode comemorar um feito imensurável: o de deixar os brasileiros um pouco “maluquinhos”.

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