Pabllo Vittar celebra o forró em disco e critica rivalidade no pop

Revivendo sucessos do Forró do Muído e da banda Magníficos, Pabllo Vittar lança "Batidão Tropical 2" e celebra raízes do Norte e Nordeste

Enquanto faz exercício físico ouvindo k-pop, a cantora pop Pabllo Vittar veste a camiseta de uma banda clássica de metal e divulga seu novo disco de forró. Quem acompanha a maranhense nas redes sociais, já se acostumou a ecleticidade tão presente na rotina da voz de sucessos como “K.O.” e “Problema Seu”.

Aos 30 anos, a artista, que já morou também no Pará e em Minas Gerais, conta se sentir livre para explorar suas próprias referências sem amarras. Após o sucesso de “Batidão Tropical”, em 2021, quando mostrou a regionalidade das suas raízes nordestinas e nortistas, a cantora lança a segunda edição do projeto.

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Ao lado de nomes como a cearense Taty Girl e a paraense Gaby Amarantos, Pabllo desfila novas versões de sucessos conhecidos na voz de bandas como Forró do Muído e Magníficos.

O POVO - Num álbum, você foca em ritmos globais da música eletrônica. No outro, vai nas raízes regionais. Como unir esses mundos?

Pabllo Vittar - A musicalidade regional, tanto do norte do País quanto do Nordeste, é muito rica e é muito internacional. É um produto muito exportável. Quando eu faço shows lá fora, que eu canto esse tipo de música, eu vejo a vibe da galera, que acha diferente. Não tem como falar que esse tipo de música (forró, brega) é só regional, porque, para mim, é global. Mas não tem como separar a Pabllo do pop mais internacional da pop mais regional. Desde o começo da minha carreira, eu fiz essa mescla e o “Batidão Tropical” me deixa à vontade para poder expressar isso.

OP - Com a releitura desses sucessos, você acaba fazendo um aceno às crianças LGBT+ dos anos 1990, 2000 que talvez não pudessem dançar e se expressar como queriam com essas músicas...

Pabllo - Eu recebo muitas mensagens de fãs que já viram a tracklist e já estão esperando para poder lembrar de quando eram criança e ficavam dançando na frente da TV. E é importante também apresentar esse repertório para uma nova geração de crianças que estão crescendo agora e que vão conhecer e fazer com que essas músicas e esses artistas sejam conhecidos por essa galera nova.

OP - O que você ressalta do encontro com a cearense Taty Girl?

Pabllo - Eu fiquei muito feliz porque eu acompanho a Taty desde as bandas que ela já passou até chegar agora na carreira solo. Quando eu estou com as minhas amigas, a gente sempre coloca "Baú da Taty" para tocar. Ela sempre toca músicas minhas no show. Eu sempre fico muito feliz. Daí me veio o start de chamar ela para fazer essa música no “Batidão” e ela gostou muito. Eu fico muito feliz de ter o aval desses artistas que eu tanto amo.

OP - O álbum tem faixas ocultas que serão liberadas para o público posteriormente, uma novidade de alguns lançamentos do streaming. De 2016 para cá, o mercado mudou muito. De que maneira você vai se adaptando?

Pabllo - A gente vai aprendendo, faz um cursinho aqui, faz um cursinho ali (risos). Esses dias eu fui lá no prédio do TikTok para ter uma aula, porque realmente as coisas vão mudando e a forma de distribuição fonográfica muda. A forma como a gente consome vídeo e áudio também mudam. Acho que a gente vem se adaptando muito bem, óbvio que tem umas pedras no meio do caminho que a gente fica: "Meus Deus, o que é isso? Temos coisas diferentes" (risos), mas eu fico bem esperançosa com o futuro da música.

O POVO - O YouTube perdeu força. Não faz mais sentido investir em grandes clipes?

Pabllo - A partir do momento que surgiu o TikTok, que o Instagram se rendeu aos reels e o próprio YouTube criou meio de você fazer os vídeos curtos, não tem mais espaço para vídeos longos. Se seu vídeo tem mais de 2 minutos, a pessoa já pula. Então a gente vai trabalhando de outras formas focando nessas plataformas em que a gente tem maior alcance, como o TikTok, Reels, e é óbvio que a gente também não deixa o YouTube de fora disso. A gente também tá lá no Shorts, também fazendo os Visualizers, mas a forma como a gente produz esse material muda muito, quando a gente vê que na própria plataforma a gente não tem mais o mesmo alcance e também não vê a procura massiva das pessoas. Eu lembro que quando eu fui gravar “Sua cara” com a Anitta as pessoas esperavam clipe. Hoje sai um clipe e semana que vem eles (os fãs) já querem outro clipe, tá? Porque o de hoje já está antigo. Parece que o artista tem de estar muito ali toda hora, sempre tem que postar um negócio, então realmente mudou bastante a forma com que a gente divulga. Eu hoje particularmente acho mais fácil. Por exemplo eu tenho um clipes com mais de 400 milhões de views na plataforma, mas hoje quando eu posso pegar o meu celular e fazer um vídeo simples fazendo algo que vai ter um alcance ali onde eu posso me conectar diretamente com o fã de alguma forma beneficia quem está produzindo e quem tá consumindo.

OP - Mas você não sente falta do lado criativo da produção de grandes clipes?

Pabllo - Não, porque eu sempre estou criando, eu continuo com essa criação, sabe? Só que a gente só mudou a forma de ver. Fazer clipe no Brasil é muito caro mesmo, então a gente tem também que se adaptar a essa nova forma de fazer divulgação. Não tem como nadar contra a maré.

OP - Como é se expressar em gêneros em que as pessoas não estão esperando ver a Pabllo?

Pabllo - Eu sempre vou estar me jogando em outros ritmos, eu gosto disso. Eu escuto metal, k-pop, forró, trance, bachata, eu escuto tudo que você imaginar. Mas as pessoas sempre querem colocar a gente dentro de uma caixinha: “Ai, eu gosto de você cantando isso”. Foda-se, eu vou cantar o que eu quiser na hora que eu quiser. Óbvio que tem coisas que eu gosto de fazer mais e que eu me saio melhor fazendo, mas eu sempre vou misturar os meus ritmos e sempre vou estar me aventurando em outros ritmos.


OP - Fã pode ser bem complicado, né? Pode apoiar muito, mas também criticar além da conta. Com esses anos de carreira, você já aprendeu a lidar com a expectativa do outro?

Pabllo - Sim, justamente porque é do outro, não é minha. Continuo fazendo o meu trabalho e é natural algumas pessoas gostarem e outras não gostarem, eu não posso ir contra isso. Eu sempre vou ser fiel ao que eu quero e o que eu penso, porque eu que vou subir no palco para performar aquilo. Se eu não for fiel ao que eu estou sentindo, vai ser uma grande mentira. E mentir faz a gente gastar uma energia enorme.


OP - Muito se fala internacionalização da nossa música. Como você imagina a Pabllo da fronteira para lá?

Pabllo - Agora eu estou focada bem no mercado nacional, mas já estou trabalhando em projetos internacionais, mas eu sempre falo eu sempre repito que o que a gente faz aqui no no Brasil é tão internacional quanto cantar em inglês ou cantar em espanhol. Ano passado, eu fiz mais 70 shows incluindo a América Latina, Europa, Estados Unidos, então, eu vejo como essa internalização da música brasileira, da língua portuguesa, mas é óbvio que eu penso em gravar um álbum só com música estrangeira, mas nesse momento agora eu tô bem virada para cá para o Brasil.

OP - Você sente que rompeu a “bolha LGBT+” e chegou na “galera do sofá”?

Pabllo - Eu tenho muitos fãs que são crianças, muitas senhoras que escutam minha música em casa e é muito bom ver que a gente chega em vários públicos, de várias idades, porque quando a gente trabalha fazendo o que é de verdade, o que eu me sinto bem fazendo, acho que não tem como não não ter essa recepção, então fico bem feliz…


OP - Mas você sente que o Brasil de 2024 é mais acolhedor para receber uma drag na TV?

Pabllo - Nada. Óbvio que a gente caminhou bastante, muitas barreiras foram quebradas, muitas portas foram abertas, mas eu que estou aqui de dentro assistindo e vendo, muita coisa ainda é só para preencher lacuna. Tudo ainda é muito “brifado”. “Mês dos gays”, “Mês das trans”. Eu não vejo a cabeça da galera aberta no mercado.

OP - Há dez anos, o pop brasileiro brilhava com Banda Uó e estourava com a Anitta. Depois veio você, Gloria Groove. Hoje, é difícil ver o pop entre as mais ouvidas no País. É um momento de baixa?

Pabllo - Acho que o pop nunca está em baixa. Quando a gente vai ver em números, a gente vê uma porrada de número de gente que consome o pop nacional. O que falta mesmo é união, você não vê fãs de sertanejo brigando no Twitter. Logo eles se apoiam e se divulgam. É mútuo, você nunca vai ver briga. Até mesmo a rivalidade feminina, tão naturalizada no meio pop, não existe entre os fãs das cantoras sertanejas. O que falta mesmo é união para que a gente faça do pop algo mais potente, mas público a gente tem.

OP - Você citou há pouco os 30 anos, o que você deseja pra Pabllo daqui a 30 anos?

Pabllo - Não sei se eu quero viver tudo isso não (risos). Mas, brincadeiras à parte, eu quero estar fazendo o que eu faço, porque, se eu não puder fazer o que eu faço, ter uma cabeça boa, uma energia massa, eu prefiro nem estar mais aqui. Para passar a vida inteira só dando murro em ponta de faca, eu espero que a gente veja uma mudança.

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