No Rancho Fundo: ator cearense rebate críticas a caracterização nordestina
Em entrevista, o ator Haroldo Guimarães comentou sobre as críticas que surgiram nas redes sociais sobre a caracterização de nordestinos na novela "No Rancho Fundo"
14:28 | Abr. 02, 2024
A próxima novela das 18 horas da Rede Globo está se aproximando da data de estreia, marcada para o dia 15 de abril. Escrita por Mario Teixeira, “No Rancho Fundo” traz uma ambientação conhecida pelo telespectador que acompanhou “Mar do Sertão”, também do mesmo autor. A trama, no entanto, já gerou polêmica antes mesmo de seu lançamento.
A escolha para a caracterização de personagens da família “principal” foi alvo de críticas nas redes sociais. Em uma foto compartilhada, internautas apontaram que a aparência dos membros do núcleo — que tem nomes como Andrea Beltrão, Alexandre Nero e Mariana Lima — reforçam estereótipos da imagem do nordestino (aspecto sofrido e “sujo”, usando roupas velhas).
Para o ator Haroldo Guimarães, que interpreta Primo Cícero no folhetim, as alegações são equivocadas. “Como é que você julga uma obra pela foto, sem entender o contexto?”, é o primeiro questionamento levantado pelo artista a respeito do debate. Em entrevista ao Vida&Arte, ele afirma que a caracterização de Zefa (Beltrão) e Seu Tico Leonel (Nero), são condizentes com o que foi apresentado na sinopse — que revela que a família trabalha com a extração da pedra Turmalina Paraíba. “Você acha que mineiro usa paletó e gravata?”, pergunta retoricamente, argumentando.
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No Rancho Fundo: contraste entre o urbano e o rural
O cearense também pontua que as críticas ignoraram a caracterização dos personagens de outros núcleos. Como exemplo, ele usa o vídeo do jornalista Caio Braz, que questiona o local e a forma como os nordestinos ainda são retratados em projetos audiovisuais. O material de Braz também apontou a maneira estereotipada que o sertão nordestino é constantemente retratado nessas obras — a parte árida e seca da caatinga e uma exaltação à água de rios e chuvas — deixando de lado as riquezas e outras narrativas da região.
Haroldo aponta que apenas as imagens da família mineradora e a de seu personagem, que é majoritariamente negra, foram usadas como exemplo. Outros núcleos da novela e que estavam na mesma publicação, mas fugiam dos aspectos criticados, não apareceram no vídeo.
“Ele faz um vídeo e a terceira foto nem comenta. A foto que tem a Luisa Arraes loira e o José Loreto. Eles estão no núcleo urbano e ele não critica. Ele sabe que existem três fotos, mas só comentou a primeira”, elabora.
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No Rancho Fundo: Os vários nordestes
O ator ainda ressalta que obras famosas, internacionais e nacionais, sempre ressaltaram esse contraste entre o urbano e o rural. A trama de Mario Teixeira, por exemplo, tem como inspiração uma obra que traz essa contraposição em sua narrativa, “A Capital Federal”, de Arthur de Azevedo.
Por se tratar de uma região rica e vasta, o também historiador defende não ser uma visão estereotipada e que sempre esteve presente em livros de escritores como Rachel de Queiroz e Graciliano Ramos, ambos nascidos na região.
“Não existe só uma antropologia da cana-de-açúcar, também como não existe só antropologia do sertão, porque existem vários Nordeste”, sustenta. “A própria obra tem vários núcleos, têm o urbano e o rural”, completa, voltando a trama da novela.
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Ele lembra que no audiovisual sempre teve uma forma para representar o Nordeste, citando que por uma época foi a plantação do cacau e com a música baiana ou com tropicália. Além de sotaques quase forjados.
“Agora entendemos que os nove estados da região tem uma infinidade de Nordeste”, sustenta. “Quando alguém reclama que o Nordeste é representado no audiovisual de uma maneira diferente do que gostaria, esse crítico está idealizando um Nordeste”, completa.