Biblioteca comunitária investe em leitura para jovens da Sabiaguaba

Biblioteca Comunitária na Sabiaguaba desenvolve atividades com crianças, incentivando a leitura e o repasse de conhecimento

"Enquanto uma favela está acontecendo, eu estou sentada na calçada trabalhando leitura com as crianças", é o que afirma Gleiciany Queiroz, graduanda em serviço social pela Universidade Estadual do Ceará (Uece) e fundadora da Biblioteca Comunitária da Sabiaguaba. Um espaço feito e dedicado para incentivar a leitura entre as crianças da periferia, trabalhar o lúdico e potencializar o repasse de conhecimento.

O projeto nasceu há cinco anos, no Dia das Crianças, 12 de outubro, a partir de um convite feito pelo grupo Rede Jangada, coletivo composto por bibliotecas comunitárias em Fortaleza, com objetivo de fundar um lugar no bairro que levasse fomento à leitura, cultura e educação para a população.

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"Conversei com meus pais, minha comunidade e todos adoraram a ideia. Então começamos a organizar tudo, montamos uma campanha de arrecadação, todo mundo se envolveu, vinha criança doando seu único livro, vizinhos doando estantes e inauguramos a biblioteca com shows de Mumutante e Mateus Fazeno Rock fazendo festa na favela", revela a articuladora comunitária, que montou a biblioteca em um anexo ao lado da casa dos pais.

A jovem enxerga a leitura e a arte como um impulsionador para o ensino das crianças. "Elas aprendem brincando, interagindo umas com as outras, desenvolvendo senso crítico, tendo vivências, pois aqui acontece tudo de maneira espontânea e mútua, tanto aprendo quanto ensino", conta.

As mediações de leituras com os pequenos acontecem semanalmente do lado de fora da biblioteca, onde Gleiciany os reúne por faixas etárias, para conseguir usar uma metodologia mais assertiva para cada idade. Após a escolha do livro, é feita uma leitura coletiva, discussão sobre o que entenderam e, ao final, cada um escolhe o que quer fazer em um momento de interação entre todos.

"Eles sempre fazem questão de dizer que gostam da biblioteca, ficam tristes quando estamos fechadas nos feriados e finais de semana. Por ser um local acolhedor, onde sentem segurança em se expressar, sempre digo para eles que não sou detentora de todos os saberes do mundo, mas estou à disposição para correr atrás do que eles querem", expressa.

No cenário atual, a articuladora comunitária se enxerga como uma portadora da educação para os jovens e relembra que ficou emocionada quando foi convidada para ir a uma escola falar sobre a biblioteca, pois era vista como referência por ser mulher negra, periférica, mãe e cuidar com tanto amor das crianças.

E frisa que o local, além de ser um incentivo à educação, também é auxílio na construção de cidadãos com senso crítico, que enxergam e sabem conviver com as diferenças, respeitando ao próximo.

"Acho incrível como eles conseguem identificar pessoas com deficiência e a atenção que eles têm para tornar o ambiente inclusivo para o outro. Aqui não existe isso de separar, elas brincam e convivem como deve ser, todas juntas", conta a jovem.

Assuntos pertinentes à sociedade também são debatidos, como preconceitos, capacitismo, machismo, homofobia, racismo e violência. Outro papel fundamental que a biblioteca desempenha na Sabiaguaba é de conscientizar a comunidade dos seus direitos

"O único equipamento público que temos é a escola, quaisquer outros atendimentos precisamos ir para outros bairros. Quando as pessoas têm dúvidas sobre benefícios, é na porta da biblioteca que elas batem, fazemos agendamentos para retirar documentos, verificamos auxílio gás, na pandemia fazíamos cadastros para auxílio Brasil e vacinação", revela a estudante de serviço social.

Financiamentos e doações

Desde o seu início, em 2019, a Biblioteca Comunitária da Sabiaguaba recebia financiamento da Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias (RNBC) e do Itaú Social para conseguir manter o local, algo que mudou no final de 2023. Mas atualmente funciona com o auxílio de voluntários, da comunidade e através de doações.

"Fechar as portas da Sabiá não é uma opção, seguimos recebendo doação para além dos livros, de materiais de papelaria como lápis de cor, canetinhas, folha de ofício, jogos e brinquedos. As bibliotecas comunitárias estão para além de serem apenas espaços com livros, somos resistência, poder de transformação social e esperança ", expõe Gleiciany Queiroz, articuladora comunitária.

A fundadora da biblioteca também atribui a baixa proficiência na leitura no Brasil à desigualdade social, sendo um fator importante que dificulta o acesso aos livros e a outras expressões culturais. Mas pontua que a criação de bibliotecas comunitárias vem seguindo na contramão.

"Essas criações facilitam o incentivando e acesso a eles, sabemos que o livro no Brasil é caro e pouco incentivado pelo estado, as periferias seguem pulsando arte, cultura, resistência. A quebrada produz e é de qualidade, nas favelas as pessoas leem e muito", expressa.

Gleyciane ressalta que é de extrema importância existir equipamentos culturais por Fortaleza que incentivem a cultura, mas frisa que eles estão localizados distantes do bairro e destaca a dificuldade em conseguir um transporte para levá-los aos locais.

"Quando conseguimos ir, as mães sempre querem ir junto e elas ficam encantadas tanto quanto as crianças, o que eu mais escuto delas é que nunca iam para esses lugares, por achar que seriam pagos ou que elas não pudessem entrar", relata.

As crianças e a comunidade se apropriarem do espaço é o maior desejo da estudante de serviço social, para que a Biblioteca Comunitária da Sabiaguaba possa existir por muitos anos e em um local maior com mais atividades.

"Quando eu digo isso para eles, todos reclamam, até as mães, dizem que nunca vou sair, sempre vai ter algo de mim lá. Meu maior presente em agradecimento a eles foi a Biblioteca. Sou muito grata por isso. Sou cria da Sabiaguaba e devo muito ao meu território", declara a jovem.

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