Feira de brinquedos destaca inclusão e projeta futuro do setor
Realizada em São Paulo, a Feira Abrin, a maior feira de brinquedos da América Latina, apresentou novidades da indústria, destacou inclusão e projetou futuro do setor
10:00 | Mar. 16, 2024
Olhar para o passado, discutir o presente e projetar o futuro: esses foram alguns dos motes da 40ª edição da Feira Abrin, maior feira de brinquedos da América Latina. Com mesas-redondas, palestras e produtos, o evento discutiu tendências atuais e futuras sobre temas como inclusão e sustentabilidade no mundo dos brinquedos.
Promovida em São Paulo (SP), a feira reuniu mais de 170 expositores e mais de 1.500 produtos. Além de novidades em lançamentos de marcas, apresentou diferentes formas de proporcionar o desenvolvimento infantil a partir dos brinquedos e como são diversificados os alcances desses itens, envolvendo desde as mais novas às mais antigas gerações.
Exemplo disso é o destaque dado ao mercado dos “Kidults”, formado por adultos que também veem os brinquedos como forma de lazer e buscam “resgatar a infância” por meio deles. Em levantamento feito pela Circana, empresa que analisa comportamento de consumo, os Kidults foram um dos principais impulsionadores de crescimento da indústria de brinquedos em 2023 a nível global.
Lançamentos e novidades
Um dos dados apresentados pela edição foi o de que a média de lançamentos por ano da indústria de brinquedos, “que vive de novidades”, é de 1.300 produtos. Questionado se há a possibilidade de o “teto de inovações” ser atingido, Synésio Batista, presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), afirma que “há mudanças o tempo inteiro”, seja na forma de uma boneca se vestir ou na ideia de um jogo de tabuleiro.
Algumas dessas novidades estavam relacionadas à celebração dos 50 anos da Hello Kitty, observada em itens como mini mochilas inspiradas na personagem. Marcas como Grow, Estrela e Pais & Filhos também apresentaram novidades - no caso desta última, por exemplo, o “De Ponto em Ponto”, tabuleiro variável no qual o jogador precisa transportar os passageiros e deixá-los nos pontos indicados no menor tempo e com segurança.
“O consumidor final vem se transformando a cada ano. A indústria do brinquedo se adapta e devolve para a sociedade aquilo que está vivenciando do ponto de vista de usos, moda, movimentos sociais e tecnologia. Todas as variáveis entram no caldeirão. Hoje temos mais competidores, a criança tem uma agenda mais repleta do que um adulto, a comunicação foi para as telas, mas temos que nos apoderar de encantamento para surpreender essa criança”, aponta Aires Fernandes, diretor de marketing da Estrela.
Houve a presença também de produtos que saíam do “tradicional” dos brinquedos, como os da Kidzzo, marca de instrumentos musicais da Izzo Musical focada no universo infantil. De xilofones a chocalhos, a ideia é proporcionar o contato com a música desde os primeiros passos da criança.
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“A Kidzzo nasceu para que a gente possa introduzir a musicalização desde o início. Então, quando um bebê estiver com seis meses, ele já pode ter contato com a música, porque a gente acredita que a música traz desenvolvimento cognitivo, emocional, criativo e lúdico”, afirma Simone Storino, vice-presidente da Izzo e idealizadora da Kidzzo.
Inclusão e sustentabilidade
No leque de variedades, é preciso incluir também brinquedos inclusivos e acessíveis. A Feira Abrin contou com exposição de itens voltados à brincadeiras para crianças autistas, com baixa audição, baixa visão ou com déficit de atenção. A Xalingo foi uma das marcas.
Um de seus brinquedos, o “Jogo da Memória das Sombras”, é direcionado a crianças que precisam ampliar e desenvolver habilidades como concentração, criatividade, memória e autocontrole. “É um mercado no qual ficamos muito felizes em atender, porque os educadores relataram bastante dificuldade em ter ferramentas para trabalhar com crianças que têm essas necessidades, e agora conseguimos trazer isso”, destaca ao Vida&Arte Rodrigo Ebert Harsteln, presidente da Xalingo.
A sustentabilidade é um dos temas que passam pela marca Eu Amo Papelão. Criada a partir do “sonho de tirar um pouco as crianças da tecnologia e gerar momentos felizes com a família”, a empresa trabalha com produtos feitos de papelão. Além disso, busca estimular a criatividade das crianças.
“Muitas vezes vemos as crianças passando mais tempo no celular do que realmente brincando, interagindo e aprimorando a coordenação motora. Nossos produtos foram desenvolvidos para abordar toda a parte de imaginação e coordenação motora”, alega Diego Araújo, gerente comercial e de marketing da Mazurky, grupo que contém a marca.
Na Abrin, a Eu Amo Papelão apresentou os lançamentos do Trem Para Colorir e novos produtos da linha Destaque, Pinte e Monte (DPM), que se destaca com bonecos inclusivos nos quais as crianças “se sentem representadas”.
Palestras
A Feira Abrin também levou ao público presente na 40ª edição a Abrin Talks, arena de conteúdo com especialistas que compartilharam boas práticas, experiências e tendências. Entre os temas debatidos estavam “A realidade do setor de brinquedos e as expectativas de consumo a curto prazo”, “Brinquedos para diversidade, inclusão e pessoas com condições especiais” e “Como irão brincar as crianças do futuro?”.
Nessa última, por sinal, foram discutidos possíveis cenários de tendências dos modos de brincar no futuro. Ana Amélia, co-fundadora da Play Pesquisa e Conteúdo Inteligente, destacou que a tecnologia estará cada vez mais presente na vida das crianças - e falou de estudos que mostram que em 2030 crianças de até oito anos de idade já terão alcançado a superioridade tecnológica.
Quanto aos papéis dos pais em relação ao “brincar” com as crianças do futuro, Ana Amélia indicou que os pais da geração Z (nascidos entre 1995 e 2010) podem ser ainda mais participativos que as gerações anteriores. Ela indica que esses pais vão atrás com mais ênfase no que traz “felicidade” e encaram o trabalho de uma forma diferente, então buscarão passar maior tempo de qualidade com os próprios filhos.
Números do setor de brinquedos
Para além da média de lançamentos de 1.300 brinquedos por ano, a indústria de brinquedos teve dados apresentados na Feira Abrin. Um dos índices foi o faturamento de 2023, que ficou na casa de R$9,465 bilhões. O valor é 3,81% maior que o de 2022, que chegou a R$9,1 bilhões. Presidente da Abrinq, Synésio Costa estima para 2024 faturamento de cerca de R$9,8 bilhões.
Outros números que se destacaram:
- Levantamento apontou que o segmento de brinquedos classificados como relações sociais ficou na primeira posição de vendas, com 17% do total. Em seguida, vieram os brinquedos de desenvolvimento afetivo (15%), criatividade (13%), empatado com o técnico (13%), e primeira idade (11%).
- Os principais brinquedos foram os veículos (carrinhos, motos e pistas), que lideraram o ranking de vendas com 16,9%. Em seguida, vieram os esportivos (patins, patinete, triciclo), com 15%; jogos e bonecas, com 13,1%; reprodução do mundo real, com 11,1%.
- Os estados com maior porcentagem de vendas do mercado em 2023 foram São Paulo (37,6%), Santa Catarina (7,8%), Minas Gerais (7,1%), Paraná (6,6%) e Rio de Janeiro (5,9%).
*Jornalista viajou a convite do evento