Ferromodelistas embarcam no Museu Ferroviário em 1º Encontro do Ceará
O evento reuniu miniaturas de trens e maquetes de vias férreas para exposição de ferromodelistas cearenses em Fortaleza no Complexo Cultural Estação das Artes
16:34 | Fev. 24, 2024
A história de Anna Kariênina começa e termina entre embarques e desembarques na estação de trem. Superando os 12 mil quilômetros de distância da personagem titular de Liev Tolstói, ferromodelistas cearenses mostram que ela não foi a única a ter sua vida entrelaçada pelo transporte ferroviário.
Na tarde de sábado, 24, o 1º Encontro de Ferromodelismo no Museu Ferroviário Estação João Felipe está muito longe de fazer parte da ficção. Não é o inverno russo de Kariênina que cumprimenta os visitantes, mas o sol característico de Fortaleza, e os trens — tão simbólicos na literatura — são miniaturas.
“O ferromodelismo trata da arte de modelar a ferrovia em seus mínimos detalhes”, explica a diretora do Museu Ferroviário, Cristina Holanda. “Então o encontro é uma forma de divulgar a história ferroviária no Ceará, mas também de descobrir talentos artísticos”.
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Um dos novos talentos citados por Holanda, o mais jovem dos ferromodelistas em exposição, é Marcos Vinícius Santos. Aos 21 anos, seu trabalho, feito completamente em papel machê, pode ser encontrado ao lado de nomes conhecidos no hobby, como o de Antônio Simão.
“Desde criança eu sempre gostei da ferrovia”, relata Vinícius, um autodidata no ramo do ferromodelismo. “Eu aproveitei que tenho um dom para desenhar e usei isso para desenhar os moldes das miniaturas”.
O ferromodelismo como hobby precede Marcos Vinícius por cerca de dois séculos. Em sua arte, o rapaz se conecta aos primeiros artesãos alemães, fundadores da prática ao redor de 1830, após a adoção massiva do transporte ferroviário no continente europeu.
A integração entre diferentes gerações parece definir o tom do encontro, que agrega famílias ligadas às ferrovias, seja por profissão, seja por admiração. Uma delas é a do professor Érico Cândido, 42, que encontra no carinho pelos trens uma conexão com o filho.
“A gente gosta muito de trem. Eu sempre gostei, desde criança, e ele também adora, então vai seguir o mesmo caminho”, brinca Cândido, adicionando sua fascinação pela história do transporte ferroviário no Brasil como um dos motivadores para aproveitar a exposição.
“Eu sou de São Paulo. Eu nasci num bairro que era uma vila ferroviária, o Bairro da Penha, e desde criança eu sempre estive muito perto das linhas de trem e de metrô, sempre usei transporte público”, diz Érico.
Um embarque nostálgico de ferromodelistas e "o cara do trem"
“Esse aqui é o cara do trem”, e apontam para a figura de Antônio Simão, absorto na contemplação de seu trabalho. O aposentado da Rede Ferroviária Federal (RFFSA) é responsável pela maquete “Ferrovia em miniatura: Memórias das Oficinas do Urubu”, exposta no Museu Ferroviário.
“O ferromodelismo me levou de uma forma… primeiro pela necessidade, sabe, do alcoolismo. Então, para fugir dos bares, eu tinha que ter um hobby”, detalha. “Como eu já era ferroviário e tinha paixão por trem, eu me tranquei dentro de casa e comecei a fazer as minhas maquetes”.
O ferromodelista Julio Cesar Costa destaca que uma maquete produzida por Simão para ser exposta no acervo permanente do museu demorou cerca de nove meses. “E foram alguns profissionais envolvidos, não foi uma pessoa só”, explica.
“Você não consegue fazer uma maquete em um mês”, diz Costa, e aponta para a sua própria criação, também exposta para o encontro: “Essa daqui, por exemplo, eu estou construindo desde 2020. E você pergunta: ‘terminou?’, não terminou, sempre tem mais alguma coisa a fazer”.
O tempo de construção não é um problema para os ferromodelistas, declaradamente apaixonados por seus projetos, e nem mesmo os aspirantes que visitam o espaço parecem se preocupar.
“Voltei a ser criança. Eu já tenho um trem, um equipamento, há mais de 30 anos, e tenho um ferrorama”, compartilha o empresário Onofre Lima, 71. Ao lado dos expositores, o visitante caminha entre maquetes, conversa sobre o processo de construção e não esconde o sorriso no rosto.
“Eu monto, desmonto, vou brincar… E agora, como tenho a oportunidade dessa primeira exposição, eu estou aqui presente, como criança”, brinca; e mais um vez ostenta um sorriso orgulhoso, à altura dos próprios expositores.
Museu Ferroviário Estação João Felipe: encontro segue até domingo, 25
O 1º Encontro de Ferromodelismo no Museu Ferroviário Estação João Felipe é gratuito e permanece de portas abertas até domingo, 25, a partir das 10 horas (horário de Brasília), com finalização às 18 horas.
- Endereço: Rua 24 de maio, s/nº, Centro. Acesso pela Pinacoteca do Ceará.