Musical de Silvio Santos é imersivo e sagaz ao fazer críticas

Apresentado no Teatro Riomar no domingo, 28, a comédia musical "Silvio Santos Vem Aí!" tem roteiro inteligente e celebra legado do comunicador com vivacidade

13:21 | Jan. 29, 2024

Por: Raquel Aquino
Comédia musical Silvio Santos Vem Aí conta história do apresentador Senor Abravanel (foto: 606 Produtora/Divulgação)

A diversão tomou conta do Teatro Riomar Fortaleza neste domingo, 28, com o espetáculo “Silvio Santos Vem Aí!”. Cheio de interatividade, brincadeiras, pompons e críticas metaforizadas, o musical foi responsável por encher a plateia com pessoas dispostas a celebrar a história da TV brasileira.

Interpretado com maestria por Velson D’Souza, o polêmico Senor Abravanel (nome de batismo do apresentador) tem a sua história de vida e ascensão social contada até o apresentador conseguir a consolidação do SBT, na década de 1990. O gancho para toda a narrativa parte de quando Silvio Santos faz procedimento para avaliar um tumor na garganta e a anestesia lhe causa rememorações e delírios.

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Energia do público

A experiência do espetáculo começa desde a chegada ao teatro, quando o público percebe que há pompons disponíveis nas cadeiras, semelhante ao que a plateia dos programas de auditório do SBT recebe. Com ansiedade para o início da apresentação, já era possível ver grande mobilização de pessoas cantando e balançando seus adereços.

Com tanta expectativa e ansiedade do público antes do início, a chegada do personagem Silvio Santos ao palco é emocionante pela energia da cada pessoa cantando aquela canção mais do que marcante - “Lá lá lá, hey!”

Homenagens

E a alegria dos espectadores não diminui ao decorrer das duas horas de espetáculo, pelo contrário, a cada novo personagem que sobe ao palco, o teatro aumentava a vibração. Aliás, a grande riqueza da montagem é - sem dúvida - as celebridades brasileiras que são interpretadas, é uma enorme comoção rever Hebe Camargo, Gugu Liberato e Elke Maravilha sendo trazidos ao palco com tanta atenção a suas identidades.

O musical surpreende aos que não têm afinidade com o gênero, pois as canções que fazem o espetáculo levar essa categoria vem por parte da apresentação dos próprios cantores nos programas de Silvio Santos e nas passagens de tempo. Não há Senor Abravel fugindo de sua conhecida caretice para cantar sua própria história. No máximo, alguns segundos de “dó ré mi fá” para interagir com suas parceiras românticas.

Personagens marcantes

Aos que esperaram que a peça fosse uma grande sátira, outro erro. O personagem de Silvio Santos é fiel em falas e trejeitos. Além dele, Perla, Sidney Magal, Rosana, Gugu, Roque, a ex-esposa Cidinha e Íris Abravanel são bem representados pelo humor e sem exageros.

Mas claro, há os mais caricatos que arrancam longos minutos de risada do público: Gretchen, Luiz Caldas e a "Velha Surda" (personagem conhecida por “A Praça É Nossa”) surgem com exageros propositais no quadro “Qual é a Música?”, mas sem ainda cair no ridículo. É arrepiante ver até três, quatros gerações diferentes cantando em coro músicas populares dos anos 1980.

Crítica sagaz

Outro grande mérito da montagem é não deixar a história de Silvio Santos cair no romantismo ingênuo. A vida do apresentador, que é contada por meio de delírios que o faz sonhar consigo sendo participante dos próprios programas, aponta também um homem contraditório e ganancioso.

Há uma cena que pode ser vista de forma leve pelos desatentos, mas que é impactante: a dança com os coronéis da Ditadura Militar no Brasil. Para conseguir a concessão do SBT, Senor Abravanel literalmente dança com os ditadores um a um até conseguir o canal de televisão. A cena é sagaz em inserir as polêmicas da vida do apresentador sem sair do ritmo do espetáculo.

Outro ponto de atenção é o relacionamento de Silvio com Cidinha, sua primeira esposa. A ganância e sede de grandeza do apresentador não é esquecida no roteiro quando o retrata resistente a assumir esposa e filhos em meio à vida pública, a qual ele tem medo de prejudicar.

Emoção

Para quem gosta de se entregar às lágrimas, momentos intensos como o encontro de Silvio Santos com Gugu e a morte da primeira esposa são intensos no drama e representam bons hiatos entre as explosões de alegria no palco.

Às novas e não tão novas gerações que sonharam em estar em programas de auditório, o show “Silvio Santos Vem Aí!” traz um gostinho satisfatório ao sortear kits da Jequiti no teatro, jogar aviãozinhos e formar a famosa fila na plateia durante o quadro “Qual é a Música”.

Quando as cortinas se fecham, músicas brasileiríssimas tocam e um pensamento predomina: “Como é bom ser brasileiro”.

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