Artista venezuelana vítima de feminicídio é homenageada em Fortaleza
Nesta sexta-feira, 12, coletivos de mulheres, artistas e ciclistas reúnem uma "bicicletada" em homenagem à memória da venezuelana Julieta Hernández, vítima de feminicídio no AmazonasEm busca por justiça e em homenagem à memória da artista cicloviajante venezuelana Julieta Hernández, ativistas de Fortaleza e do Brasil promovem uma “bicicletada” nesta sexta-feira, 12. A participação no ato também pode ser feita a pé e em outras formas de locomoção.
Em Fortaleza, a concentração acontece a partir das 16 horas na Praça do Ferreira, no Centro, com saída marcada às 17 horas seguindo para Praça da Gentilândia, no Benfica. No final do percurso, acontece o sarau “Soy Libre Como El Viento” com 20 artistas celebrando a vida de Julieta.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
A iniciativa, que acontece em mais de 140 cidades do País (incluindo pelos menos quatro do Ceará - Fortaleza, Maracanaú, Crato e Juazeiro do Norte), foi mobilizada por coletivos e redes de palhaçaria do Brasil através de grupos online. Em Fortaleza, o movimento acontece a partir da Comicidade Feminina (rede de mulheres artistas da palhaçaria) e do Fórum do Circo Ceará.
“Conseguiu se estabelecer uma atmosfera das pessoas entenderem que poderiam ter sido com elas, poderiam ter sido com suas irmãs, poderiam ter sido com suas mães. Porque não fala somente sobre a condição da mulher palhaça cicloviajante, mas fala sobre o lugar enquanto mulher, a condição do corpo feminino na sociedade”, relata Brenda Louise, uma das organizadoras da ciclociata.
Leia também | Artistas e ativistas lamentam morte de artista circense venezuelana
A participação dos homens no ato por Julieta Hernández
Apesar de reunir, em sua maioria, mulheres artistas, Brenda defende que toda a sociedade é bem-vinda para somar a manifestação, inclusive os homens. “É importante destacar a presença de homens. Porque essa briga contra o feminicídio, a favor da vida das mulheres, ela não pode estar somente destinada e sobre responsabilidade de nós mulheres. A culpa é, de fato, dos agressores. O feminicídio não é um problema das mulheres, é um problema dos homens”, elabora.
O movimento #JulietaPresente agora trabalha pela permanência da memória de Julieta, não pelo trágico fim de sua vida, mas por seu legado artístico e pessoal.
“Pensar sobre Julieta continuar presente entre nós é sobre como é que a gente trata as mulheres que estão ao nosso redor. Como é que a gente repreende situações de machismo, situações que de alguma maneira compactuam com o feminicídio ou que tenham culpabilizar as mulheres pelas violências que elas sofrem. Existe um outro lugar que é sobre o campo político, que é isso que a gente está fazendo hoje”, defende.
“Outra maneira também para que Julieta esteja presente é esse lugar de fortalecer o trabalho de artistas mulheres, de consumir artistas mulheres e consumir a gente enquanto nós estamos vivas também. Não somente em momentos trágicos como esse”, finaliza Brenda.
O movimento também busca arrecadar verbas para ajudar a família da cicloviajante, que esperava o retorno da artista à Venezuela. Para ajudar ao PayPal da irmã de Julieta foi disponibilizado (sophialarouge@gmail.com) junto com a chave PIX contato@circodisoladies.com.br.
O que aconteceu com Julieta Hernández?
Julieta era uma artista circense de 38 anos que se apresentava como “migrante nômade, bonequeira, palhaça e viajante de bicicleta”. Há quatro anos, ela atravessava o País em uma bicicleta, se apresentando com a sua Palhaça Jujuba em territórios de vulnerabilidade social. Julieta integrava a rede Palhaços Sem Fronteiras (@palhacossemfronteiras) e também o Circo de SóLadies (@circodisoladies).
A artista também passou pelo Ceará. Em sua passagem, ela chegou a visitar o mestre Espedito Seleiro e recebeu um calçado feito especialmente para a sua palhaça. Coletivos do Cariri também se organizam para homenagear à artista.
Nos últimos dias do ano, Julieta viajava em direção à Venezuela para encontrar a família. Sem dar notícias aos amigos, como sempre fazia pela condição de viajante, uma mobilização se intensificou nas redes sociais para encontrá-la. Ela desapareceu no dia 23 de dezembro e no dia 5 deste mês foi encontrada morta em uma mata na cidade de Presidente Figueiredo, interior do Amazonas.
Segundo as investigações da Polícia Civil do Amazonas, Julieta estava hospedada em uma pousada quando foi roubada, estuprada e morta pelo dono da pousada, a esposa teria acompanhado tudo. Thiago Agles da Silva e Deliomara dos Anjos Santos foram presos suspeitos pelos crimes de latrocínio, estupro e ocultação de cadáver.
O corpo da artista foi velado na quarta-feira, 10, em Manaus. O sepultamento está previsto para esta sexta, 12, na cidade de Puerto Ordaz, onde mora a mãe da artista.
“Bicicletada Julieta Presente”
- Quando: sexta-feira, 12, às 16 horas
- Onde: Praça do Ferreira (Entre as ruas Major Facundo e Floriano Peixoto, Centro)
- Mais informações: @bicicletadajulieta