Biografia de Di Cavalcanti explora novos lados do pintor modernista
Biografia sobre Di Cavalcanti expõe outras facetas do pintor modernista, carioca que viveu entre a boemia e o debate político
Em entrevista ao Vida&Arte em janeiro, o engenheiro e galerista proprietário da Sculpt Galeria Rodrigo Parente reconheceu Di Cavalcanti como "o artista que melhor retratou nossa brasilidade". Se nisso se inclui o aspecto de variedade, é possível dizer que o pintor carioca também era diverso.
Um dos principais nomes do modernismo brasileiro, Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo (1897 - 1976) foi ilustrador, caricaturista, gravador, muralista, desenhista, jornalista, escritor e cenógrafo.
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Em sua trajetória, se destacou por contemplar personagens e elementos da cultura popular em meio a uma busca pela constituição de uma arte nacional.

Mas, além do lado artístico, ele apresentou outras facetas, como a política, intelectual e da boêmia. Para retratar sua trajetória e legado, foi lançada a biografia "Di Cavalcanti: Modernista Popular", escrita pelo jornalista e mestre em Artes Marcelo Bortoloti e publicada pela Companhia das Letras.
A incursão na pesquisa começou há cerca de dez anos. Na época, Marcelo recebeu bolsa da Biblioteca Nacional a fim de estudar sua presença em jornais.
Ao folhear jornais antigos em busca de informações sobre o modernista, percebeu que existiam mais camadas a serem exploradas.
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Para chegar às informações necessárias sobre a vida do pintor, Marcelo se deparou com desafios - entre eles o fato de que Di Cavalcanti não havia deixado um arquivo particular que auxiliasse na compreensão de sua história.
"Ele não guardava nada. Ele não se preocupava muito com essa questão da posteridade", compartilha.
O jornalista também constatou que poucas pessoas que haviam convivido com o artista estavam vivas. Ele recorreu principalmente a cartas escritas por Di Cavalcanti que eram guardadas pelos destinatários.
Registros de imprensa, depoimentos e documentos de cartório que estavam preservados também foram consultados.
Da personalidade do pintor, Bortoloti pontuaria a participação "em muitas questões culturais e políticas de sua época".

Sobrinho do abolicionista José do Patrocínio, Di Cavalcanti esteve envolvido "no nascimento da moderna imprensa brasileira" ao trabalhar em jornais do Rio de Janeiro e conviver com escritores como João do Rio.
Outro engajamento foi na idealização da Semana de Arte Moderna. Ele se filiou ao Partido Comunista do Brasil (PCB) e chegou a ser preso durante a Revolução Constitucionalista. Di Cavalcanti também foi peça fundamental na valorização do mercado de arte brasileiro. Fatos que ressaltam, assim, as múltiplas atuações do artista.
"Chama a atenção também o fato de que ele era uma figura que precisou trabalhar muito e levava também uma vida boêmia, um gosto pela noite, de estar junto com os amigos.
Há essa contradição da figura dele: boêmio e, ao mesmo tempo, muito ativo tanto na produção da sua arte como nos eventos culturais e políticos do País", analisa.
É verdade que Di Cavalcanti não foi o único a se destacar como modernista, mas, para Marcelo Bortoloti, ele tem uma "diferença fundamental" em relação aos demais artistas contemporâneos: sua origem. Enquanto muitos pintores modernistas vinham de famílias abastadas, ele vinha de uma família pobre do subúrbio do Rio de Janeiro.
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"A obra dele reflete também esse lugar de consciência social, ele retrata os humildes, os pescadores, os negros, por exemplo, e eu acho que isso o diferencia. É um olhar para o Brasil, mas também para o Brasil dos desprotegidos", afirma.
Por falar em Brasil, de que maneiras o trabalho do pintor carioca conversa com o País de hoje? Como avalia Bortoloti, ao mesmo tempo que ajuda a explicar um pouco do Brasil atual, a sua obra se situa em um lugar complexo.
Se suas produções buscavam destacar desfavorecidos, posteriormente elas passaram a ser mais valorizadas e endereçadas a colecionadores privados.

O painel "As mulatas", por exemplo, que foi danificado nos ataques terroristas em Brasília em janeiro, pode valer entre R$ 20 milhões e R$ 50 milhões, segundo especialistas em artes ouvidos pelo Vida&Arte à época. De acordo com levantamento do Palácio do Planalto, o valor está estimado em R$ 8 milhões.
Para o jornalista, estudar atualmente a produção e a trajetória de Di Cavalcanti contribui para a compreensão do que tem sido feito hoje. "O estudo de Di Cavalcanti ajuda a entender pelo que o Brasil passou até chegar aqui", indica.
Biografia "Di Cavalcanti: modernista popular"
- Autor: Marcelo Bortoloti
- Editora: Companhia das Letras
- Número de páginas: 536
- Quanto: R$134,90 (físico) e R$44,90 (e-book)
- Onde comprar: site da Companhia das Letras e Amazon
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