Irmã e amigo de Belchior revelam lado pessoal do músico em biografia

"Antonio Carlos Belchior - Biografia" conta momentos da intimidade da família Belchior, as subjetividades que circundavam a personalidade do músico e de onde vem a inspiração de muitas das composições

12:48 | Out. 22, 2023

Por: Vida&Arte O POVO
Publicação escrita por irmã e amigo de Belchior revela detalhes da vida pessoal do artista (foto: João Carlos Moura / divulgação)

A trajetória do Toin Carlos de Dona Dolores, passando pelo Frei Francisco Antônio de Sobral, pelo Belxiór na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Fortaleza (UFC) até chegar aos palcos em que pisou o aclamado Belchior é contada em nova biografia escrita pela irmã do artista Ângela Belchior e o advogado e amigo Estevão Zizzi. O livro "Antonio Carlos Belchior - Biografia" está em fase de pré-venda na internet, mas ainda deve ter um lançamento oficial em São Paulo.

Antônio Carlos Belchior — que não era Fontenele, nem Fernandes, no livro de registro — foi um observador da vida e das pessoas que passaram por ele. Um leitor voraz de gosto diversificado, encantado por Monteiro Lobato, João Cabral de Melo Neto, Júlio Verne e Dante de Alighieri. Um músico influenciado pelas emboladas dos repentistas, pelo regionalismo de Luís Gonzaga e de Jackson do Pandeiro, mas que também foi impactado por ritmos latinos e pela erudição da música clássica.

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A obra de Belchior é um retrato de sua genialidade: múltipla e imprevisível. Nascido pela mesma parteira que Renato Aragão, em Sobral, o cantor e compositor sempre deu pistas de que não era uma pessoa atraída pelo comum. Fruto de um casamento com muitos filhos, se distinguiu pelo humor e inteligência perspicazes.

O Belchior de "fora dos palcos"

Ângela Belchior conta muitos dos episódios vividos no seio da família de Dona Dolores e Seu Otávio no livro. Entre eles, fala do processo de criação de “Paralelas”, do qual afirma ter participado ainda criança, trocando bilhetes e versos com Belchior.

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“Ele gostava de conversar com a gente, saber o que a gente pensava. Eu queria com esse livro demonstrar para o público quem ele era, como era a vida dele dentro de casa, com os amigos, como ele catava as energias para fazer suas canções”, afirma.

A irmã diz que Belchior construiu uma obra com referências sólidas, que faz com que suas músicas sejam sempre atuais. “Na música ‘Como nossos pais’, por exemplo, ele diz para que as pessoas não repitam os mesmos erros, mostrando a indignação de uma geração. Era uma revolta, no bom sentido, para a gente não fazer coisas que não tiveram efeito. A sociedade se sente próxima, compreendida por ele, que, inclusive, dizia em uma canção ‘eu sou como você que me ouve agora’”, afirma.

Sobre a sensação de lançar o livro, de maneira póstuma, Ângela diz que há uma “dubiedade de sentimentos”. “Fico triste pela partida, mas alegre por ele ter deixado esse legado inteiro de alegria para o mundo. A vontade dele de mudança de comportamento da sociedade como um todo era muito forte”, pontua.

O advogado Estêvão Zizzi assina o livro junto com Ângela e diz que conheceu Belchior em 1976. Ele ressalta que o livro é um presente dos dois para o músico. “É para as pessoas verem quem ele era fora do palco. São muitas histórias, muita coisa que nunca foi contada. Ele era muito reservado, nunca falava de família, da vida pessoal e nós gostaríamos de falar desse lado dele para as pessoas”.

Volume dois e mais

Zizzi diz que o volume dois da biografia está em fase avançada de produção e vai abordar o período em que Belchior teria sumido. “Não tinha esse negócio de incomunicável. Não houve sumiço nenhum, ele foi para o Sul. Ele só queria naquele momento dar um tempo, ter um momento de reflexão. Não teve esse escândalo todo que fizeram. Nesse tempo todo, saíram muitas incoerências, coisas que não são verdade”, afirma.

O escritor diz que tem muitos detalhes, inclusive, do dia em que Belchior morreu. “Tive acesso ao notebook que ele estava usando e também a um celular emprestado por um amigo, que era usado por ele à época. Muitos detalhes precisam ser desmistificados sobre aquela época”, considera Zizzi.

Um terceiro livro de análise da obra do músico está em produção por Zizzi. “É sobre o universo lírico de Belchior, para que as pessoas saibam o que ele pensava, sobre os sentimentos que tinha diante da vida. Tive muitas conversas com ele, durante essa convivência de décadas, e posso falar com propriedade sobre estrofes, versos e palavras que Belchior eternizou”, conclui.

Antonio Carlos Belchior - Biografia

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