Ricardo Guilherme celebra 50 anos de Apareceu a Margarida no TJA

Interpretada por Ricardo Guilherme há 40 anos, a peça "Apareceu a Margarida" unifica humor com uma crítica a regimes repressivos e totalitaristas

09:43 | Set. 27, 2023

Por: Pedro Dias
Ricardo Guilherme é ator, dramaturgo, diretor de teatro, contista, cronista, poeta, jornalista, historiador, memorialista e professor (foto: Rodrigo Carvalho/ 09/2015)

O ator e diretor Ricardo Guilherme sobe ao palco do Theatro José de Alencar nesta quarta-feira, 27, às 19 horas, para apresentar o espetáculo “Apareceu a Margarida”. Lançada há 50 anos pelo dramaturgo carioca Roberto Athayde, a obra é encenada pelo cearense há quatro décadas.

A montagem se ambienta numa sala de aula onde Margarida, professora de ensino fundamental, ganha vida na encenação de Ricardo Guilherme e o papel do aluno é incorporado pela plateia.

CONFIRA | Podcast Vida&Arte é destinado a falar sobre temas de cultura e está disponível em todas as plataformas. Ouça clicando aqui

O texto teatral original, escrito em 1973, mostra uma versão hostilizada da sala de aula, na qual a professora, com um tom satírico, adota um discurso violento e repressivo, fazendo uma analogia direta a regimes autoritários e tirânicos.

Segundo Ricardo Guilherme, “o discurso da Margarida é um discurso de extrema violência. O que resulta em uma peça tragicômica”. A comédia e o drama se misturam nesse espetáculo que Ricardo encena há mais de 40 anos, perpassando inúmeros países ao redor do mundo, como Portugal, Espanha, Alemanha, Itália, México, Nicarágua, Cuba, Angola e Tunísia.

No decorrer dos anos, a peça “Apareceu a Margarida” foi adaptada diversas vezes, sempre adequando a crítica ao contexto no qual a peça estava sendo realizada.

Quando questionado sobre as viagens internacionais com o espetáculo, o ator aponta: “Traduzi as peças em diversas línguas, fazendo referência inclusive ao regime dos países onde eu estava. Na Itália eu fiz referência ao fascismo, na Alemanha ao nazismo, na Espanha falei da ditadura de Franco, em Portugal eu falei de Salazar”.

Além do perfil de professora autoritária, a Margarida de Ricardo Guilherme também expressa contradições, revelando as inseguranças e medos de quem detém o poder e construindo uma crítica à violência.

“O nome Margarida faz referência a uma brincadeira infantil, mas também a uma citação do hino nacional, ‘...do que a terra mais garrida, teus risonhos lindos campos têm mais flores’. Ela então, de propósito, canta: 'do que a terra… margarida', como se a nação tivesse na sua alma, no seu cerne, essa tendência agressiva em relação ao outro”, comenta o ator.

Em meio a todos esses anos performando como Margarida, Ricardo destaca que o ponto que diferencia sua interpretação das demais encenadas dentro e fora do Brasil é a ambiguidade de gênero da personagem. 

“Minha fala às vezes vai para o feminino e os gestos para o masculino, às vezes o gesto é feminino e a fala masculina. É uma ambiguidade permanente. Acho que essa é a grande característica da minha montagem”, reflete.

Criador do Teatro Radical, Ricardo é dramaturgo, contista, cronista, pesquisador, professor, poeta, ator e diretor, além de compor o grupo de fundadores da atual TVC e da Rádio Universitária da Universidade Federal do Ceará.

Apareceu a Margarida

  • Quando: quarta-feira, 27 de setembro, às 19 horas
  • Onde: Theatro José de Alencar (rua Liberato Barroso, 525 - Centro)
  • Programação gratuita