Olivia Rodrigo encara inseguranças em disco que ecoa Katy Perry
Disco "Guts", lançamento da cantora Olivia Rodrigo, já se tornou a 10ª maior estreia de uma artista feminina no SpotifyListado pela revista americana Billboard como um dos "sophomore albums" (álbum que sucede o trabalho de estreia de um artista) mais aguardados do século XXI, "Guts", da cantora Olivia Rodrigo foi lançado na última sexta-feira, 8, e já se tornou a 10ª maior estreia de uma artista feminina no Spotify. Foram mais de 60 milhões de execuções na plataforma de streaming em apenas 24 horas de lançamento.
Do ponto de vista lírico, o álbum traz pouco ou nenhum amadurecimento temático, o que não é um ponto negativo. Afinal, estamos falando de uma cantora e atriz americana de 20 anos que, desde bem cedo, vem enfrentando a pressão dos holofotes da mídia. Em 2016, aos 13, ela protagonizou duas produções do Disney Channel ("Bizaardvark" e "High School Musical: The Musical: The Series").
É + que streaming. É arte, cultura e história.
Com apenas 17, ela fez história ao estrear no topo da parada americana com o single "Drivers License" (2020). Seria justo — ou até mesmo coerente — esperar amadurecimento de alguém que teve a vida revirada pelo sucesso mundial ainda tão jovem?
Se por um lado Olivia sabe bem o privilégio que é viver a fama no sonho americano, iniciando o álbum com a faixa "All-american bitch"; por outro, "Guts" não abre mão de ser uma ode aos dramas mais comuns da adolescência. Já no primeiro single do trabalho, "Vampire", a jovem traz a narrativa de um relacionamento abusivo e a personificação de um tipo narcisista. A faixa "Logical" também costura um perfil de manipulação e gaslighting.
O álbum traz ainda outros temas clássicos da fase, como insegurança e sentimentos de inadequação (Ballad of a homeschooled girl), e distúrbio de imagem (Pretty isn’t pretty). A maior ousadia do sucessor de "Sour" (2021), no entanto, é levar Olivia a uma sonoridade um pouco mais orgânica. É perceptível a referência à fórmula das cantoras que exploraram o pop rock no início dos anos 2000.
Para os trintões mais ligados à cultura pop, é impossível ouvir "Guts" e não lembrar de "One of the boys" (2008), álbum que catapultou Katy Perry à fama internacional. Aquela faminta necessidade de explorar o tempo presente em canções cheias de leveza e aspereza.
Longe de ser inovador, "Guts" cumpre seu papel como um trabalho coeso, coerente e que consegue imprimir uma certa individualidade. Olivia, a despeito de muitos outros artistas de sua geração, não está desesperada para mostrar versatilidade. Ponto pra ela! Todo o planejamento comercial do álbum foi baseado em um modelo já antigo, e corajoso.
A primeira canção de trabalho foi lançada em 30 de junho e o álbum, anunciado para pouco mais de dois meses depois, sem singles picotados, sem lançamentos experimentais. Decisão de uma equipe certa do sucesso.
“Todos dizem que melhora conforme você cresce. Mas e se eu não melhorar?”, encerra "Guts" com a melodramática "Teenage Dream", canção homônima a um dos maiores sucessos do segundo álbum de Katy Perry. Posso apostar que não é coincidência. Olivia continua rangendo os dentes, mas já conhece o caminho da peruca azul.
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